quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Top ten 2013 - Norma Braga

As duas maiores descobertas do ano foram Herman Dooyeweerd e Jay Adams. Sabe aqueles autores que você sente que se tornarão "amigos" - ou seja, leituras constantes durante toda a vida? Esse é o caso. (Gostaria de dizer o mesmo de Schlossberg, mas ele não é um autor prolífico. Escreva mais, Schlossberg!) Van Til, descoberto em 2012, entra também nesta lista de autores amigos.

Cornelius Van Til, A Survey of Christian Epistemology - Uma das citações mais belas de Van Til neste livro é: “O conhecimento do homem é uma reinterpretação da interpretação de Deus." Em cada um de seus livros, aprofunda-se a verdade enunciada por Calvino (Institutas - Livro I) de que o conhecimento de Deus (positivo ou negativo) é a base para toda cosmovisão. Estimulo você a buscar o porquê em sua obra.

Herman Dooyeweerd, Roots of Western Culture - Um dos livros de minha vida. Aprofunda a questão do motivo bíblico Criação, Queda e Redenção, abordando filosoficamente a ênfase que Van Til explora na teologia. Respondeu a muitos questionamentos antigos meus. Além disso, é uma bomba eficientíssima contra o racionalismo moderno.

Aldous Huxley, Admirável mundo novo - Romance instigante, do tipo que se lê de uma sentada. Fundamental para quem quer refletir sobre as várias formas de totalitarismo.

Czeslaw Milosz, Mente cativa - Quando um poeta escreve sobre o totalitarismo comunista que viveu em seu país, a Polônia, o que acontece? História a partir de uma visão nem um pouco árida. Bela obra, sempre a ser revisitada.

Jess Walter, A vida financeira dos poetas - Nós, cristãos, estamos marcando touca: o autor nem é crente, mas trata o tema como se deve. Romance engraçado que me emocionou no final. Mais não digo, porque estraga. Atenção: não recomendo para olhos sensíveis a palavrões.

Scott Fitzgerald, O grande Gatsby - Na verdade, nem assisti ao filme (que recebeu muitas críticas negativas), mas aproveitei o acesso fácil ao romance devido à popularidade. Não me arrependi. Um clássico que me tocou muito, estimulando minhas reflexões sobre idolatria.

Herbert Schlossberg, Idols for Destruction - Falei bastante dele no meu blog este ano. Imperdível para quem quer compreender as idolatrias contemporâneas.

Os Guinness, Dust of Death - Se você já percebeu que o irracionalismo da pós-modernidade é a resposta extremada ao racionalismo típico do pensamento ocidental, esse livro (cujo nome é tirado do Salmo 22: "Tu me deitas no pó da morte") vai lhe fornecer muitos subsídios para compreender o processo e elaborar respostas consistentes para nossos dias.

Caroline Weber, Rainha da moda: como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução - Obra original que entrelaça um período tão conturbado da história a um assunto aparentemente "fútil", a moda, mostrando como as roupas eram fortes símbolos na França do Antigo Regime. O modo cruento com que a rainha foi condenada à morte lançou luzes sobre o fenômeno do bode expiatório, de que já tratei bastante em meu blog.

Jay Adams, A Theology of Christian Counseling: More than Redemption - Com sua ênfase no aconselhamento bíblico, mas de um modo não restrito a essa tarefa, Adams consegue mostrar muitos reflexos experenciais da teologia em nossa vida, iluminando aquelas áreas sombrias e desatando alguns nós da intrincada tarefa da aplicação. Fundamental para uma época que separa demais teoria e vida.

Digna de nota é a presença de três obras literárias nesta lista, além de uma biografia e uma obra de um poeta. Não só como professora de literatura, mas como escritora, recomendo fortemente que você inclua romances, poemas, biografias e narrativas em geral em suas listas de leitura. As obras teóricas (argumentativas) não suprem todas as nossas necessidades intelectuais e emocionais. Se sua área é a teologia, você vai precisar certamente do "pé no chão" que a boa literatura proporciona. Além disso, pesquise a vida de seus autores teóricos preferidos: dificilmente algum deles terá prescindido da leitura de obras literárias. A falta de cultura literária é um dos grandes flagelos intelectuais de nossa época e só reforça a tendência do cristão que foge do irracionalismo atual refugiando-se no racionalismo de tempos idos. Previna-se.