2020 foi um ano em que eu gostaria de ter lido mais, definitivamente. Mesmo assim, consegui listar os dez livros que mais me marcaram. Tem de tudo, como sempre: teologia, literatura, biografia... Nothomb dessa vez não entrou, pois seu Voyage d'Hiver, apesar de divertido para uma viagem de avião, decepcionou bastante, comparado aos anteriores. Em compensação, não faltaram mulheres autoras na lista. Vamos lá!
A alma da festa, Alexandre Soares Silva
Leio o Lord ASS desde seu blog, duas décadas atrás (estamos velhos, pois!). Obtive em parte o que esperava: personagens curiosos em uma história leve e divertida. Só que, à medida que progride, parece ter saído da cabeça de alguém numa trip bem doidona — o que torna tudo mais interessante. Não leia se você gosta de literatura realista; leia se você quer rir com algo diferente do que está disponível pra nós no Brasil.
O jardim secreto, Frances Hodgson Burnett
Esse clássico infantil de 1911 me enlevou completamente até mais ou menos um terço do livro, quando uma teologia estranha pareceu transpirar das páginas até o final. Mesmo assim, mereceu figurar aqui.
A menina da foto, Kim Phuc Phan Thi
Eu sempre quis saber o que havia acontecido com aquela menina fotografada em 1972, sem roupa, correndo em desespero das bombas de napalm durante a guerra do Vietnã. Ela se feriu muito e carregou as marcas daquela química terrível por toda a vida. Mas — surpresa! — converteu-se ao Senhor Jesus e obteve graciosamente um novo olhar sobre todos esses acontecimentos e sobre si mesma. Um livro imperdível.
A montanha mágica, Thomas Mann
Era para eu ter terminado o romance em 2019, mas nem sempre tive vontade de acompanhar as desventuras de Hans no sanatório. No final das contas, senti que caiu bem sua conclusão em pleno confinamento devido à pandemia. É a terceira obra que leio de Mann e o admiro mais ainda. Seu talento para nos fazer sentir empatia por qualquer personagem, por mais abominável que seja, é ímpar. (O próprio Hans só me conquistou após as cem primeiras páginas.) Pessoalmente, gostei mais de Os Buddenbrook, mas A montanha mágica é incontornável.
O que Deus diz sobre as mulheres, Kathleen Nielson
Se você resolver ler um livro só na vida sobre esse assunto — visão bíblica sobre a mulher —, escolha esse. Teologicamente redondo, mas nada árido: ao terminar, você tem a sensação de ter passado uma tarde deliciosa na casa da autora, papeando no sofá e aprendendo com essa irmã mais velha, cheia de delicadeza, sabedoria e ternura. (Acredite, a maioria dos livros cristãos sobre mulheres escritos por mulheres não é assim — o que devemos lamentar.)
Sócrates e Jesus, Peter Kreeft
Livreto divertido que introduz o leitor a um tipo de apologética que eu gostaria de ver mais em ambiente evangélico. Sócrates vira um aluno de universidade americana contemporânea e desafia as bases da teologia liberal. Outro imperdível.
Amor e respeito, Emerson Eggerichs
Eu e André passamos muitas horas na cozinha com esse livro, eu arrumando as coisas, ele lendo em voz alta. Quando inicia, Eggerichs parece mais um daqueles autores de autoajuda com um leve verniz bíblico, mas essa impressão logo se desvanece e nos deparamos em todo o livro com uma sabedoria prática que nos abençoou de verdade.
David Copperfield, Charles Dickens
O primeiro Dickens a gente nunca esquece... Fiquei viciada nesse livro, li em poucos dias. Alguém disse que os personagens de Dickens são esquemáticos e caricaturais, mas, se é assim, no caso desse romance a boa caricatura ressaltou aspectos humanos maravilhosos e terríveis, com um impacto muito real. Cheguei à conclusão de que nada me comove mais que histórias tristes de criança (mas não se preocupe, essa é só a parte inicial).
John Lennon, a vida, Philip Norman
Eu já tinha lido a biografia de Paul McCartney pelo mesmo autor. Sensacional, novamente. E tem o bônus de cavar mais fundo na história do pai de John, Fred Lennon, para revelar que a parente que ficou com John após o divórcio de seus pais, a tia Mimi, inventou a história do abandono para manter o menino consigo, cortando todos os laços com a família paterna. Fred só conseguiu rever o filho décadas depois e lutou muito para que a verdadeira história fosse contada. Esse jornalista conseguiu cumprir essa bela reabilitação.
Cem cães que mudaram a civilização, Sam Stall
Lemos os Cem gatos, e agora, os Cem cães, naquele mesmo esquema da cozinha. Histórias de dedicação e fidelidade caninas, muitas delas bastante pitorescas, como a do cão que virou sargento.
Percebo agora que esse Top Ten teve essa característica: dos dez livros, três eram leves e engraçados. Foi bom, pois precisei de bastante humor e leveza para enfrentar o ano. :-)