sábado, 9 de janeiro de 2010

Poemas de amor, poemas de guerra VIII

Não pude deixar de perceber alguns notáveis pontos de convergência entre as concepções sobre literatura e poesia de Meschonnic e as de T. S. Eliot, o controvertido poeta, dramaturgo, editor, crítico literário e filósofo anglo-americano que conseguiu, com sua poesia, desagradar tanto os modernos por seu arcaísmo quanto os classicistas por seu vanguardismo. (C. S. Lewis, por exemplo, estava incluído nessa segunda categoria de desagradados.) Sua obra é digna de muitos elogios e ressalvas, mas considero-a genial pela forma com que sintetizou as influências mais díspares, de Dante a Ezra Pound, de F. H. Bradley a Bertrand Russell, da Bíblia ao Bhagavad Gita. Tudo isso o coloca, creio eu, do mesmo lado que o crítico e poeta francês, ou seja, contra a oposição comumente sustentada entre tradição e ruptura.

Outra semelhança entre as preocupações literárias desse dois poetas-críticos é a ênfase sobre as limitações da comunicação, a insuficiência das palavras enquanto veículos de pensamentos e estados da alma. No caso de Eliot, tais preocupações são bem visíveis nos Four quartets, e Ivan Junqueira discutiu essa questão em sua interessante (mas, para mim, difícil) análise Eliot e a poética do fragmento, que li há mais de dois anos. Se bem me lembro, porém, Eliot não sucumbiu à tentação pós-moderna de se regozijar com as deficiências da linguagem humana. Tenho a impressão de que para ele, bem ao contrário do que ocorre com Meschonnic, o problema da comunicação era de fato um problema, não uma solução. Mas para me certificar de que não estou dizendo bobagens eu teria de estudar a obra de Eliot com mais cuidado.

Desconfio que tais convergências entre esses dois homens de países, idiomas e gerações diferentes indicam algum fato sobre a literatura europeia do século XX cuja generalidade nunca cheguei a perceber simplesmente porque sou um ignorante em matéria de literatura estrangeira: a pouca que conheço é quase toda inglesa.

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