segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lewis (1898-1963)

Fiquei sabendo agora há pouco, por intermédio do Allen Porto, que hoje se completam 47 anos da morte de C. S. Lewis, um dos maiores escritores cristãos do século XX. O espaço é curto demais para que eu explique o quanto devo a esse homem. Basta dizer que ele ampliou em grande medida minha compreensão da fé cristã e me ajudou a sair da armadilha da tentação materialista e racionalista que eu ainda enfrentava quando o conheci, em 2003.

Também é verdade que ele me fez algum mal, principalmente em decorrência de sua excessiva simpatia pelo catolicismo, que me contagiou. Embora eu não possa culpá-lo pela extensão que esse problema assumiu em minha trajetória, não posso deixar de atribuir à influência do irlandês a abertura de certas portas que deveriam ter permanecido bem fechadas. Pela graça de Deus, no entanto, o bem que esse autor me fez superou em muito o mal, tanto em intensidade quanto em duração. E, apesar de todos os equívocos de sua teologia, não alimento dúvidas quanto a ser ele um verdadeiro filho de Deus, que um dia verei no paraíso onde ele chegou há 47 anos.

Deixo aqui minha pequena homenagem a esse mestre aplicando-lhe aquela observação de Spurgeon segundo a qual um crente verdadeiro, por pior que seja quando teoriza sobre teologia, é sempre um reformado quando está diante de Deus. O homem que declarou, no final de O grande abismo, que "a doutrina da Predestinação [...] mostra (verazmente) que a realidade eterna não está aguardando um futuro em que venha a ser real, mas ao preço de anular a Liberdade, que é a verdade mais profunda entre as duas", também nos deixou as palavras a seguir sobre sua própria conversão, as quais considero o mais belo trecho de Surpreendido pela alegria:

"O leitor precisa imaginar-me sozinho naquele quarto em Magdalen, noite após noite, sentindo - sempre que minha mente se desviava por um instante que fosse do trabalho - a aproximação firme e implacável dAquele que eu resolutamente desejava não encontrar. Aquilo que eu tanto temera pairava afinal sobre mim. Cedi, enfim, no Trimestre da Trindade de 1929, admiti que Deus era Deus, ajoelhei-me e orei: talvez, naquela noite, o mais deprimido e relutante convertido de toda a Inglaterra. Não percebi então o que se me revela hoje a coisa mais ofuscante e óbvia: a humildade divina, que aceita um convertido mesmo em tais circunstâncias. O Filho Pródigo pelo menos caminhou para casa com as próprias pernas. Mas quem é que pode adorar devidamente esse Amor que abre os portões a um pródigo que é arrastado para dentro esperneando, lutando, ressentido e girando os olhos em torno, à procura de uma chance de fuga? As palavras "compelle intrare", obrigar a entrar, foram tão violentadas por homens impiedosos que chegamos a estremecer ao ouvi-las; mas, entendidas de forma correta, elas sondam a profundidade da misericórida divina. A dureza de Deus é mais bondosa que a suavidade dos homens, e Sua coerção é nossa libertação."

É isso. Lewis conheceu o mesmo Deus que eu, e Deus o usou para me ajudar a conhecê-Lo melhor. A quem honra, honra. E a Deus toda glória.

Adendo: além do ótimo post do Allen linkado no começo, leiam também a excelente palestra de John Piper sobre Lewis (ou ouçam, ou assistam, mas sem deixar de lado as notas de rodapé da versão transcrita, que são muito instrutivas). Quem não puder, leia pelo menos o resumo comentado que a Norma fez dela aqui.