"Darwin viu outra coisa na natureza, diferente dos campos de belos narcisos nos prados, de William Wordsworth - uma filha morta e a natureza 'rubra em presas e garras'. Não há Deus presente, ele presumiu, a não ser o deus da necessidade, uma lei fixa e elegante. Seus seguidores iriam ainda mais longe, submetendo as belezas selvagens do mundo vivo à chancela da rubrica matemática: fazendo, a todo custo, que a natureza se encaixasse na ordem matemática, reduzindo-a totalmente a números, probabilidades, taxas de mutação. Adornaram-na com vagas referências à complexidade e à teoria do caos - conversas infindáveis sobre tudo, menos sobre o organismo vivo que respira.
Para entender o que deu errado, teremos de voltar às palavras de Galileu - o pressuposto de que a matemática (para ele, principalmente a geometria de Euclides) seja tão maravilhosamente efetiva que sem sua 'linguagem [...] será impossível compreender sequer um de seus termos; sem seu auxílio, vaguear-se-á sem rumo por um escuro labirinto'. Aqui, o astrônomo e físico - maravilhado com as regularidades matemáticas que havia descoberto - permitiu que lhe fugisse a retórica. Expressou o assombroso entendimento de que a matemática é uma ferramenta efetiva para discernir a ordem da natureza, mas não é o caso de a natureza ser incompreensível sem a matemática. Esse ponto de vista, mais tarde, levou seus seguidores a crer que aquilo que não pode se resumir a expressões matemáticas não existe ou é apenas uma projeção 'subjetiva' de natureza essencialmente matemática. Em tal ponto de vista, a única linguagem significativa seria a da matemática, mas, porque nossa experiência e linguagem diárias não são governadas pela matemática, não estariam significativamente relacionadas com a realidade. Como resultado, reflexões profundas baseadas em nossa linguagem e experiência cotidianas são tidas como sem fundamento. Fora com Shakespeare, Aristóteles, Tomás de Aquino e todo e qualquer dramaturgo, filósofo ou teólogo que não fale a língua dos matemáticos! Vivam os matematicos, químicos e físicos e, depois deles, diversos agregados, cientistas sociais e psiquiatras!"
Adendo: o Gustavo também escreveu outros dois curtos e interessantes posts sobre Steiner e suas ideias: este e este outro. O amigo mencionado no primeiro sou eu.