quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Poemas de amor, poemas de guerra VII

Demorei para entender o título do trabalho da Norma, mas creio que enfim consegui, e vou tentar explicá-lo em poucas palavras.

Meschonnic entende a literatura como oposição manifesta a algo que é denominado "signo", termo que designa tudo aquilo que se opõe à originalidade, que repete o já dado na história da literatura, nas formas linguísticas vigentes, na cultura, no mundo, na realidade. Nenhuma criação humana pode fugir de todo ao signo. (E aqui cabe uma observação bem tolkieniana: não pode porque o homem não é criador de fato, e sim mero subcriador.) Mas a boa literatura se distingue da má por não ignorar essa limitação e tentar vencê-la parcialmente, na medida do possível.

Outro aspecto importante do pensamento de Meschonnic é sua oposição aos diversos racionalismos literários e filosóficos. Ele rejeita a pretensão de objetividade que (à maneira de Kant, digo eu) faz do observador um "puro sujeito" e da coisa observada um "puro objeto", transformando numa aridez gélida nossa relação com tudo o que se situa fora de nós. Em harmonia com essa ideia fundamental, o crítico francês sustenta que não devemos "analisar" um poema como quem disseca um cadáver ou desmonta um motor, mas sim nos aproximar dele de igual para igual, como quem está diante de um outro sujeito, não de um objeto.

Há uma coerência notável entre a obra de Meschonnic como crítico e sua produção como poeta. Seus poemas buscam dar conta dessas duas facetas, e portanto são simultaneamente de amor e de guerra. De guerra contra o signo, em luta por uma autêntica originalidade. E de amor, porque tentam dissuadir o leitor da atitude de examinador impassível de um objeto sem vida.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

The fractal geometry of nature VII

Depois de passar pelo capítulo 39, que é o mais longo e chato do livro todo (para mim, ao menos; um matemático poderia achá-lo interessantíssimo), fui recompensado pelo capítulo 40, que traz importantes notas históricas e biográficas sobre certos pesquisadores dos mais diversos objetos - da matemática pura às enchentes do Nilo - cujos estudos contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento da teoria dos fractais. Para compor esse capítulo, Mandelbrot escolheu propositalmente indivíduos que, por razões diversas, não foram bem aceitos pela comunidade acadêmica de sua época e permaneceram marginalizados, a despeito de possuírem algumas ideias notáveis ou mesmo geniais.

O caso mais impressionante é o do matemático francês Louis Bachelier (1870-1946), que, sem dar muita atenção às publicações acadêmicas disponíveis em sua época, deu contribuições muito originais à teoria das probabilidades, aplicáveis a campos tão diversos quanto a economia e a física. Aliás, ele desenvolveu o aparato matemático necessário à elucidação do movimento browniano em sua tese de doutorado, defendida em 1900, cinco anos antes que Einstein publicasse seu famoso artigo contendo a explicação do fenômeno. A despeito disso e de outros fatos notáveis, a banca examinadora, que incluía o célebre Henri Poincaré, não se impressionou com seu trabalho e aprovou-o com uma nota baixa. E, apesar de sua enorme produtividade como pesquisador, Bachelier passou boa parte da vida tentando obter o cargo de professor em alguma universidade, até consegui-lo, enfim, na pequena Universidade de Besançon (espero que o Ewan leia isto). Mandelbrot dá valor a excêntricos desse tipo, naturalmente, já que ele próprio foi marginalizado durante décadas. Ele resume nas seguintes palavras o problema fundamental vivido por seu predecessor:

"A tragédia de Bachelier foi a de ser um homem do passado e do futuro, mas não de seu presente. [...] Infelizmente, nenhuma comunidade científica organizada de seu tempo estava em condições de compreendê-lo e recebê-lo bem. Ganhar aceitação para suas ideias requeria supremas habilidades políticas, que ele evidentemente não possuía."

Tudo isso serve muito bem para denunciar um erro que vem atraindo cada vez mais a minha atenção: o de conceder demasiada importância às opiniões da "comunidade científica". Conheço gente que acredita prontamente em qualquer afirmação que venha precedida pelas palavras "Os cientistas descobriram que...". E isso sobre qualquer assunto, desde teologia até dietas. Eu, que há anos desisti de aceitar a autoridade da academia sobre os temas mais importantes da vida, estou agora aprendendo a desconfiar dela até quanto aos assuntos estritamente técnicos de cada especialidade. A mim parece plenamente evidente que a ciência é um empreendimento tão cheio de erros quanto qualquer outro já inventado pelo homem, e que a comunidade encarregada de levá-lo a efeito é no mínimo tão cheia de manias e dogmas quanto qualquer outra. Se não fosse assim, nenhum gênio precisaria de habilidades políticas para ser bem recebido em seu meio.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Poemas de amor, poemas de guerra VI

A decepção chegou depois de eu ter lido uns três quartos da tese. Descubro que Meschonnic, após ter dito tantas coisas interessantes sobre o reducionismo das diferentes ênfases interpretativas, sobre a importância do ritmo no texto e sobre várias outras coisas, é apenas um daqueles pós-modernos que não gostam de definir com precisão os conceitos fundamentais porque a limitação tira toda a graça do negócio. E, movido por essa convicção, se perde em considerações sobre as limitações da linguagem apenas para poder vir depois com aquele papo de "não estou entendendo nada mas, pensando bem, isso é ótimo". Ora bolas! Estou decepcionado; mas não deveria estar, na verdade. Não se pode esperar muito de um sujeito que não é cristão, nem mesmo no sentido mais amplo possível dessa palavra. Continuo, pois, à procura de um intelectual não-cristão que seja capaz de fugir do racionalismo sem cair no irracionalismo, ou vice-versa.

Adendo: Perdoem-me os leitores por este post tão pouco natalino. Não sou contra a celebração do Natal, nem nada do tipo. Tanto é que deixei programada com antecedência a publicação deste breve post para poder melhor comemorá-lo. Feliz Natal a todos!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

The fractal geometry of nature VI

Ainda no livro que está dentro do livro, Mandelbrot conta algo sobre um modelo matemático e computacional, desenvolvido por ele, capaz de fornecer superfícies cuja forma é muito semelhante à de montanhas verdadeiras; segundo ele, ninguém tinha conseguido produzir montanhas convincentes dessa forma até então. (Infelizmente não consegui localizar essa figura na internet.) Em seguida, ele faz um comentário que, ao mesmo tempo em que traz um tom de desabafo e irritação, revela algo sobre sua interessante concepção da ciência:

"É muito estranho que vários observadores, depois de comentarem brevemente que a caracterização do relevo com base apenas nos critérios de invariância e continuidade é engenhosa e eficiente, passam a criticar longamente essa abordagem porque seus critérios são abstratos demais e não podem ser deduzidos a partir de 'modelos' explícitos ou mecanismos geradores, seja antes ou depois do fato.

Reluto em replicar grosseiramente criticando as teorias concretas e amplamente aceitas sobre o relevo por fracassarem na tentativa de proporcionar paisagens artificiais com realismo sequer comparável às obtidas por minhas teorias 'abstratas'. Parece-me melhor apontar que muitas das melhores teorias da ciência começaram com primorosas combinações de pistões, cordas e polias, apenas para terminar (várias gerações mais tarde) em princípios de invariância explícitos. Desse ponto de vista, o trabalho que levou às presentes ilustrações, assim como outros estudos de caso feitos neste ensaio, começam da linha de chegada. Será que isso é motivo para tanta infelicidade?"


Creio que o autor está se referindo ao surgimento da própria teoria eletromagnética de Maxwell, cujas equações, segundo li em algum lugar, foram deduzidas a partir de um modelo consideravelmente "mecânico" que mais tarde foi abandonado. Ou mesmo da própria mecânica, que teve início em considerações puramente cinemáticas - isto é, relativas à mera descrição dos movimentos -, para só mais tarde receber uma interpretação em termos de forças e conservação de momento e energia; esses princípios de conservação são exemplos dos critérios de invariância mencionados por Mandelbrot.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Poemas de amor, poemas de guerra V

A relação entre a tradição e a originalidade na arte é um tema que julgo cada vez mais fascinante. Descobri agora que a oposição entre tradicionalismo e ruptura na crítica literária é um dos dualismos combatidos por Meschonnic. Transcrevo abaixo um interessante trecho da tese da Norma que explica isso muito bem, e faço alguns comentários em seguida.

"Meschonnic detecta, assim, uma série de mal-entendidos com relação ao termo 'moderno'. O primeiro seria delimitá-lo através de um critério meramente temporal, o que seria encerrá-lo em um historicismo; ou então, de modo oposto mas análogo, perpetuar a tendência, bastante corrente, de situar o valor literário das obras ditas 'modernas' na ruptura com a tradição. Dessa forma, a modernidade para Meschonnic se configuraria na aposta na multiplicidade e em uma abertura para o novo, características que não se opõem necessariamente à tradição, e que são atemporais. Segundo o autor, no rastro deste dualismo 'tradição e ruptura' estariam, curiosamente, tanto os detratores da modernidade quanto seus entusiastas: os primeiros, defendendo uma volta ao tradicionalismo, valem-se da consagração de determinados autores e obras para alçá-los a modelos; os segundos, desejando a condenação da tradição ao esquecimento, pregam a imanência de um 'novo' que por sua vez passa a absoluto, totalitário, porque disposto a tomar o lugar do que era consagrado, obtendo para si o mesmo reconhecimento como 'modelo'. Em ambas as posições, estaria presente como que um mito da 'juventude eterna', ou seja, a negação da historicidade, de que os 'modelos' para a obra artística necessariamente caducam e de que o novo na arte é um movimento contínuo no tempo, para a frente e para trás."

Não sei se esse conceito é válido enquanto retrato da modernidade. Sinto-me mais propenso a acreditar que Meschonnic fez com a literatura moderna o mesmo que Karl Popper fez com a ciência moderna: defini-la, não pelo que ela é, mas pelo que julga que deveria ser, a fim de criticar os que fazem com que ela seja o que não deve ser, e assim, quem sabe, torná-la mais semelhante ao que sempre deveria ter sido. Seja como for, penso que esse aspecto da concepção de Meschonnic sobre a arte é muito salutar, e que pelo menos alguns modernos a endossaram, se não com sua reflexão teórica, ao menos com suas obras propriamente artísticas em geral e literárias em particular.

Mas também achei interessante esse trecho por uma outra razão, não vinculada à literatura. Nós, que não caímos na conversa fiada dos progressistas e revolucionários, e que ficamos horrorizados com certos "progressos" que se fazem por aí, corremos o risco de cair num erro aparentemente oposto, mas que no fundo é a mesma coisa: a idealização do passado, de um tempo em que tudo era melhor e mais lindo. Trata-se de um erro comum dos conservadores, e do qual eu mesmo me apercebi há não muito tempo. Espero um dia poder compreender melhor essa questão e escrever mais a respeito.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

The fractal geometry of nature V

O livro é cheio de ilustrações belas, ou pelo menos interessantes, mas entre as páginas 276 e 277 há uma seção de dezesseis páginas contendo ilustrações coloridas acompanhadas de explicações. O autor chama essa seção de Um livro dentro do livro - talvez em alusão a uma propriedade, exibida por muitos fractais, que os leva a apresentar cópias exatas (ou quase) de si mesmos em escalas cada vez menores - e declara que ele "é dedicado à proposição de que, se 'ver é crer', ver em cores pode levar a uma crença ainda mais intensa".

Há várias coisas interessantes nessa parte da obra, mas o que me chamou a atenção aparece já na primeira página. Trata-se desta figura, que encontrei reproduzida no site Blingdom of God:


Conforme demonstra o trecho que publiquei na segunda postagem sobre este livro, Mandelbrot gosta de citar evidências de que os antigos vislumbraram na natureza algo que escapa à geometria euclidiana e só pode ser descrito rigorosamente por sua teoria dos fractais. Essa figura é um bom exemplo: é uma representação da criação do mundo presente em um códice bíblico copiado na primeira metade do século XIII, e que hoje está na Biblioteca Nacional da Áustria, em Viena. A legenda diz, em um velho dialeto francês: "Aqui Deus cria o céu e a terra, o sol e a lua, e todos os elementos". Sempre bem-humorado, Mandelbrot publicou-a adaptando a legenda, que passa a dizer: "Aqui Deus cria os círculos, as ondas e os fractais".

De fato, a gravura mostra um mundo esférico, contendo não só massas de forma esférica ou ondulada, mas também uma matéria escura cuja forma lembra muito a de certos fractais apresentados em outras partes do livro.

Cada vez mais me convenço de que tenho razão em admirar Mandelbrot não só como matemático, mas também como escritor de textos científicos. A forma pessoal com que ele se expressa, deixando entrever um interessante senso de humor e uma notável sensibilidade histórica e artística, me parece muito agradável. Todo cientista deveria escrever assim.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Salmo antiperenialista

Louva, Jerusalém, ao Senhor; louva, Sião, ao teu Deus.
Pois ele reforçou as trancas das tuas portas
e abençoou os teus filhos, dentro de ti;
estabeleceu a paz nas tuas fronteiras
e te farta com o melhor do trigo.
Ele envia as suas ordens à terra,
e sua palavra corre velozmente;
dá neve como a lã e espalha a geada como cinza.
Ele arroja o seu gelo em migalhas;
quem resiste ao seu frio?
Manda a sua palavra e o derrete;
faz soprar o vento, e as águas correm.
Mostra a sua palavra a Jacó,
as suas leis e os seus preceitos, a Israel.
Não fez assim a nenhuma outra nação;
todas ignoram os seus preceitos.
Aleluia!

(Salmo 147.12-20)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cinco pecados que ameaçam os calvinistas II

Apreciei imensamente a leitura desse livreto, que me edificou muito. Seu objetivo é chamar a atenção dos cristãos calvinistas para pecados pouco percebidos aos quais, no entanto, eles não estão imunes. São eles:

1. Orgulho espiritual, entendido como um sentimento de superior percepção espiritual que leva ao desprezo dos irmãos;

2. Intolerância fraternal, que é a falta de amor aos irmãos em virtude de seus pecados ou de suas concepções teológicas equivocadas;

3. Acomodação no aprendizado, ou seja, a pretensão de já ter aprendido o suficiente sobre as verdades espirituais;

4. Falta de ação, decorrente de uma compreensão equivocada de nossas responsabilidades frente à soberania de Deus;

5. Isolamento, que consiste em apreciar a tradição reformada, seus protagonistas e suas conquistas mais como relíquias de antiquário que como exemplos a serem aplicados no contexto de nossa vida.

Na curta (mas belíssima) conclusão, o autor faz um apelo para que "não apliquemos esses alertas aos nossos conhecidos ou vizinhos, mas que possamos realmente, com sinceridade, buscar a presença de Deus e verificar se não estamos sendo alvo das ciladas de Satanás, caindo nesses cinco ou mais pecados". Seguindo, portanto, essa exortação, confesso que só em tempos recentes o Espírito tem começado a debelar dentro de mim o primeiro pecado, que creio ter sido, no meu caso, o pior de todos. O segundo, o quarto e o quinto também são ameaças constantes. Apenas do terceiro posso dizer que Deus tem me mantido constantemente a salvo. A Ele, pois, toda a glória!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Calvinismo, Abraham Kuyper (1)

Eu e André estamos apaixonados pela leitura (a dois) de Calvinismo, de Abraham Kuyper. Para o autor, uma das três condições para a caracterização de um verdadeiro "sistema de vida" (ou o que eu talvez chamaria de "cosmovisão singular e frutificadora") é a precisa especificidade sobre a relação com Deus. (Os outros dois são: relação com o homem e relação com o mundo.)  Assim, muito didaticamente, temos:

1. Paganismo: Deus está na criatura.
2. Islamismo: Deus está separado da criatura.
3. Catolicismo: relação entre Deus e a criatura é mediada pela igreja.
4. Modernidade: negação de Deus.
5. Calvinismo: relação direta entre Deus e a criatura.

É interessante notar a contrapartida: nas demais cosmovisões apontadas por Kuyper há ou fusão (no paganismo), ou dualismo (separação, obstáculo ou apagamento de uma das pontas). A ideia de relacionamento só é plena no calvinismo. Ocorre-me, assim, que o Calvinismo é a única cosmovisão que traduz de modo acertado a ideia bíblica do casamento como uma figura central para o encontro entre Cristo e a igreja (ou seja, Deus e a criatura). O amor íntimo e sem reservas que pressupõe o relacionamento do casal precisa desse caráter não fusional, mas direto e dinâmico.

E, agorinha mesmo, vi essa leitura surpreendentemente complementada por Allister McGrath em A vida de João Calvino, quando observa na p. 175 que "repetidamente Calvino apela para a fórmula baseada na cristologia, distinctio sed non separatio", para tratar da união não fusional entre a divindade e a humanidade em Jesus Cristo. Novamente, é no calvinismo que temos a noção mais acurada dessa dualidade: assim como Cristo é Deus e homem ao mesmo tempo, o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos não é a mesma coisa, mas são duas coisas distintas que, no entanto, não podem ser separadas. Esse padrão (junto mas não indistinto) é uma constante no calvinismo e, para mim, é um dos aspectos mais importantes do âmago identitário dessa cosmovisão. Algo que faz toda a diferença quanto a ser saudável não só em teologia, mas em tudo o mais.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

The fractal geometry of nature IV

Dois interessantes parágrafos na mesma página, a 168. O primeiro narra uma daquelas ocorrências pitorescas que só a história da ciência parece capaz de produzir. (Não se assustem com as palavras iniciais.)

"Dado um grupo G baseado em inversões, pode acontecer que o clã de todo domínio S cubra todo o plano. Por razões que ficarão claras no capítulo 20, proponho que tais grupos sejam chamados 'caóticos'. Os grupos não-caóticos devem-se a Poincaré, mas são chamados kleinianos. Poincaré havia atribuído algum outro trabalho de Klein a L. Fuchs, Klein protestou e Poincaré prometeu dar o nome de Klein a sua próxima grande descoberta. E assim ele fez!"

E o segundo diz algo sobre a relação entre a geometria e a arte, assunto que não pode deixar de vir à mente quando se trata de fractais.

"Poucos dos admiradores de Maurits Escher sabem que a inspiração desse célebre desenhista frequentemente vinha direto de matemáticos e físicos 'desconhecidos' (Coxeter 1979). Em muitos casos, Escher adicionou decorações a tesselações auto-inversas conhecidas por Poincaré e ilustradas extensivamente em Fricke & Klein 1897."

É claro que eu, que desconhecia até o nome inteiro do artista, não poderia saber de uma coisa dessas.

Os trabalhos mencionados são, segundo as referências bibliográficas do próprio livro, os seguintes:

COXETER, H. S. M., 1979. The non-euclidean symmetry of Escher's picture "Circle limit ill". Leonardo 12, 19-25.

FRICKE, R. & KLEIN, F., 1897. Vorlesungen über die Theorie der automorphen Functionen. Leipzig: Teubner.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Feliz ano velho

Aqui vai um resumo de minhas impressões sobre o primeiro livro que ouvi na vida (sim, era um audiolivro), há poucos meses: Feliz ano velho, publicado em 1982 por Marcelo Rubens Paiva, que hoje é colunista do jornal O Estado de São Paulo. A obra revela um autor vulgar, mulherengo, lascivo, ignorante, superficial, fanfarrão e exibicionista. Alguns trechos chegam a ser pornográficos. Eu nunca li nada desse autor, e não pretendo voltar a fazê-lo a menos que alguém digno de confiança me garanta que ele cresceu e amadureceu muito nas últimas décadas.

Mas a obra tem suas qualidades. Apesar do humor barato e da falta de valor literário, algumas das histórias narradas são interessantes. O principal valor do livro reside no vívido detalhamento da luta interior e exterior do autor, que ficou tetraplégico aos vinte anos, ao mergulhar de cabeça num lago de meio metro de profundidade, e tenta por todos os meios se reintegrar no mundo. A descrição psicológica do drama vivido por um deficiente físico chega a compensar em parte os aspectos negativos.

Um detalhe que vale a pena mencionar é que, nos momentos mais dramáticos, a narração tem fundo musical, e a maioria das músicas foi extraída da trilha sonora de O Senhor dos Anéis. Péssima combinação! Pior que isso, só ler o Alcorão ouvindo música sertaneja, como tive de fazer uma vez, durante uma viagem de ônibus.

sábado, 28 de novembro de 2009

The fractal geometry of nature III

A tese fundamental de Mandelbrot é, à parte de todas as complexidades matemáticas, essencialmente simples. Durante o meio século que transcorreu entre 1875 e 1925, a matemática passou por importantes reviravoltas conceituais. Alguns novos objetos matemáticos foram inventados nessa época e exaustivamente estudados desde então. (Nota para o leitor mais afeiçoado ao ramo: no presente contexto, são de particular interesse as funções contínuas não-diferenciáveis.) Ao que parece, sempre se pressupôs que era o tipo de coisa que só poderia parecer importante aos profissionais do ramo, invenções altamente abstratas e contra-intuitivas trazidas à existência por mentes poderosas, mas sem qualquer conexão com outros aspectos da realidade. A geometria do mundo real seria aquela sistematizada há 23 séculos por Euclides.

E então surgiu Mandelbrot para inverter todo esse panorama e defender que a forma das coisas reais é, na verdade, muito mais semelhante a essas esquisitas construções recentes que às formas simples da geometria clássica. Esta sim é o resultado de uma abstração simplificadora típica de quem examina os objetos de longe. A geometria do mundo físico não é euclidiana, e sim fractal, conforme declara o título. Creio que Mandelbrot apreciaria uma insinuação dessa ordem feita na parte final do poema Áporo, de Drummond, que me foi apresentado pelo Gustavo há não muito tempo:

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.

Adendo: Concluí na semana passada a leitura desse livro, mas ainda tenho várias coisinhas a dizer sobre ele. Aguardem!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Deus ama os indianos

Estou traduzindo a Encyclopédie du protestantisme para a editora Hagnos, um trabalho que tem me dado muito prazer. (Fiquem de olho: na época da publicação, avisarei!) De vez em quando, como tradutora-leitora, eu me deparo com passagens tão interessantes que não poderia deixar de partilhá-las com os leitores do Tamos Lendo! Esta é do verbete Ásia, subverbete Índia:

"A partir de 1870, os dalit (sociedades oprimidas, consideradas indignas de fazer parte das 'castas' reconhecidas pelas autoridades bramânicas) se converteram em massa; hoje, constituem a maioria da população cristã."

Glória a Deus! Negligenciados e maltratados pelo rígido sistema das castas, os "intocáveis" indianos, a quem estenderam a mão missionários estrangeiros de várias denominações (batistas, luteranas, anglicanas, congregacionais...), encontraram filiação espiritual na Casa de Deus. Ele não abandonou os abandonados da sociedade. Que maravilha de testemunho! Que Deus continue abençoando a igreja indiana.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Exposição de Hebreus III

"Porque, devendo já ser mestres, pelo tempo, ainda tendes necessidade de que vos torne a ensinar os rudimentos dos primeiros princípios do oráculo de Deus; e assim vos tornastes como necessitados de leite, e não de alimento sólido. Porque qualquer um que se alimenta de leite carece de experiência na palavra da justiça, porque ainda é criança." (Hebreus 5.12-13)

Comentário de Calvino sobre as palavras em negrito:

"Tal reprovação contém uma piedosa medida de ferroadas visando a incitar os judeus em sua indolência. O autor diz que era um absurdo, e que deviam envergonhar-se disso, a saber, que estivessem ainda no rol do berço quando deveriam já ser mestres. 'Devíeis ser mestres de outros', diz ele, 'enquanto que na verdade não sois nem ainda alunos capazes de compreender o ensino mais rudimentar. Pois não compreendeis ainda os primeiros rudimentos do cristianismo.' Com o fim de fazê-los ainda mais envergonhados de si mesmos, ele usa as palavras 'primeiros princípios', justamente como alguém fala do alfabeto. Devemos aprender ao longo de toda a vida, porquanto verdadeiramente sábio é aquele que sabe quão longe se acha do perfeito conhecimento. Mas devemos progredir em nossa cultura, a fim de não ficarmos sempre no conhecimento rudimentar. Não deixemos que a profecia de Isaías [28.10] se cumpra em nós: 'Porque é preceito sobre preceito, preceito e mais preceito...'; pelo contrário, é mister que nos esforcemos para que nosso progresso corresponda ao tempo que nos é concedido. Não somente nossos anos, mas também nossos dias devem ser calculados, para que todos nós nos apressemos em direção ao progresso. No entanto, poucos são aqueles que se disciplinam a fazer um balanço do tempo passado, ou que se preocupam com o tempo por vir. Portanto, somos justamente castigados por nossa negligência, visto que a maioria de nós dissipa sua vida nos estágios elementares, como crianças. Somos ainda lembrados de que o dever de cada um de nós é repartir com seus irmãos o conhecimento que tem, a fim de que ninguém guarde sua sabedoria para si mesmo, senão que cada um a use para a edificação mútua."

sábado, 21 de novembro de 2009

Kaspar Hauser

Kaspar Hauser (cuja história inspirou o romance de Jacob Wassermann, publicado pela Topbooks) é um rapaz de quinze anos encontrado em Nuremberg. Seu nível de linguagem e desenvolvimento físico e cognitivo comparava-se ao de um menino de quatro anos. Especula-se que, filho de um nobre, foi vítima de uma conspiração que o privou de ser educado convenientemente. Passa anos em uma caverna, sendo alimentado por pão e água, até que é solto na cidade, onde é recebido por algumas famílias, de casa em casa dos quinze aos dezoito anos, sempre atormentado por sonhos e mergulhado em um indescritível sofrimento por não conhecer sua origem.

O que mais me impressionou, no livro, foi a relação entre Kaspar e seu último preceptor, o prof. Quandt. Apesar de se dispor a abrigar o rapaz, Quandt não acreditava em sua inocência e, como muitos na região, suspeitava de que o protegido fingia o tempo todo para receber casa e cuidados. O trecho adaptado abaixo mostra o quanto Quandt se prestava a malentendidos de toda ordem por estar convicto da culpa do rapaz. Quase enlouquecido, ele pressiona Kaspar para que fale de seu passado.

- Suponha que você está em presença de Deus e que Ele pergunte: De onde vem você? Onde nasceu? Quem lhe deu um nome falso? Como se chamava no berço? Quem lhe ensinou a enganar os homens?

Kaspar ergue-se pesadamente e, com os lábios trêmulos, diz:

— Eu responderia, se o senhor me fizesse semelhantes perguntas. O senhor, porém, não é Deus.

Quandt recua um passo.

— Blasfemador! Vá embora, monstro de impiedade! Não suje por mais tempo o ar que eu respiro!


Descubro, pensativa, que o livro é profundamente revelador de nossa humanidade. De um lado, somos levados a nos identificar com Kaspar nas várias situações em que duvidam injustamente de nossas palavras, de nosso comportamento, de nosso caráter. De outro, somos levados a nos identificar com Quandt em nossas mesquinhas injustiças — em relação aos homens, mas principalmente em relação a Deus, a quem, pressionados pela dor, atribuímos, conscientemente ou não, os defeitos humanos do esquecimento, da displicência, da falta de amor.

É quando é necessária a dupla oração: Deus, perdoa-nos por odiar as pessoas que não nos compreendem ou que estão doentes demais para nos ver como somos. Deus, perdoa-nos por atribuir toda sorte de falsidades ao Senhor quando nos sentimos fracos e confusos diante de um acontecimento terrível.

Livra-nos da mentira, Deus, em todas as suas formas. Amém.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Poemas de amor, poemas de guerra IV

Nunca li uma linha sequer de Baudelaire, mas ele está toda hora se intrometendo na conversa da Norma com Meschonnic. Para ser mais exato, este último é que o introduz na discussão, ao retomar e desenvolver certos elementos de sua teoria da arte. Começa a me parecer que a concepção baudelaireana sobre a literatura e a arte tinha alguns elementos valiosos, entre os quais a elevada importância quase aristotélica atribuída à imaginação, em contraste com a opinião predominante na época. Apesar disso, creio não poder de modo algum endossar certas posições suas, especialmente por sua concepção no mínimo estranha da relação entre a arte e a beleza moral. Não sei ainda o que pensar da totalidade de sua obra, pois é a primeira vez que leio mais de duas linhas sobre o sujeito. Talvez eu acabe descobrindo que ele ocupa na literatura francesa o posto que Kant ocupa na filosofia ocidental: alguém de méritos intelectuais limitados, mas tão influente que ninguém que se interessa seriamente pelo assunto pode se esquivar de lê-lo. Mesmo que seja esse o caso, porém, Baudelaire tem uma vantagem indiscutível sobre Kant, que é a de escrever infinitamente melhor. Mas quem já leu uma sentença inteira de Kant sabe que escrever melhor que ele não é motivo de orgulho para ninguém.

Baudelaire pode ter atraído minha atenção por ter falado muito sobre um assunto acerca do qual sou conscientemente ignorante: filosofia da estética, da arte, da literatura e da poesia. Não sei se foi por algum preconceito devido à leitura de Sartre, mas o fato é que nunca me interessei muito por literatura francesa. Talvez devesse me interessar mais, dada a tremenda influência cultural da França sobre o Ocidente de modo geral. Devendo ou não, porém, o fato é que o assunto todo está me parecendo muito interessante. A leitura da tese da Norma me deixou com vontade de aprender francês para melhor desbravar esse velho mundo.

Quem ainda não leu, não deixe de ler este post já meio antigo no blog da Norma: Minha pequeníssima história da arte moderna.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cinco pecados que ameaçam os calvinistas

Farei aqui uma breve reflexão sobre o seguinte trecho, que define o primeiro dos cinco pecados denunciados pelo presbítero Solano Portela nesse belo opúsculo:

"Poderíamos definir o orgulho espiritual como sendo uma atitude de desprezo aos outros irmãos. Seria abrigar a sensação de se achar possuidor de uma visão superior. Seria o desenvolvimento de uma atitude de rejeição do aprendizado, contrária à humildade que Deus requer dos Seus servos. Seria achar que somos conhecedores de uma faceta de compreensão que os demais irmãos ainda não alcançaram."

O autor passa a citar uma porção de grupos que, ao longo da história do cristianismo, atribuíram ou atribuem a si próprios essa condição de superioridade, indo dos antigos gnósticos aos modernos pentecostais. Lembrei-me de que eu já havia detectado um fenômeno semelhante fora do cristianismo, e dei-lhe o nome de "religião das elites espirituais". Parece-me que ao menos boa parte das religiões tradicionais contém em si essa divisão: as castas no hinduísmo, o sufismo entre os muçulmanos, o monasticismo na cristandade, o perenialismo como um todo. O orgulho espiritual está presente onde quer que o homem se sinta livre para inventar suas próprias formas de devoção.

Visto não haver pecado mundano que não ameace constantemente a Igreja, tais tentações estão presentes também entre aqueles que estão de fato em comunhão com Deus. O objetivo do presbítero Solano, conforme indica o título, é justamente mostrar que nós, calvinistas, não estamos de modo algum imunes a esse pecado. Deus permita que jamais nos esqueçamos disso.

sábado, 14 de novembro de 2009

Poemas de amor, poemas de guerra III

Ainda longe de atingir a metade da leitura, alguns elementos importantes já podem ser divisados. Meschonnic se opõe a todas as escolas de crítica literária que concentram sua atenção em algum elemento específico - "o autor, o momento histórico, a estrutura formal, o estilo, as produções de leitura" - por julgarem que nele reside o poder de determinar o valor da obra como um todo. Trata-se de um esforço para recuperar a capacidade, aparentemente perdida por todas as grandes escolas do século XX, de apreender a unidade do texto, sem reducionismos, e ao mesmo tempo sem sacrifício da objetividade. Gostei disso. Esse Meschonnic está começando a parecer interessante.

Adendo: Na verdade, este post foi escrito há mais de três semanas. Concluí a leitura da tese há poucos dias. Mas ainda tenho uma porção de comentários a fazer sobre esse trabalho, e os publicarei aqui nos próximos tempos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Tolerância no Novo Testamento

Embora pequeno, esse livrinho traz um estudo muito bem embasado sobre a atitude dos autores neotestamentários diante das ideias que se desviavam da doutrina apostólica. O pastor Augustus demonstra a existência de uma luta consciente dos apóstolos e seus discípulos para preservar imaculado o corpo doutrinário que haviam recebido de Cristo, e que boa parte do Novo Testamento foi escrito justamente com o propósito de combater a apostasia e denunciar os falsos mestres. Não havia transigência nem relativismo quando se tratava de preservar a verdade tal como revelada por Deus, sem adaptações ou acréscimos. Trata-se de um lembrete muito importante nesta época em que têm sido introduzidos na igreja os valores do mundo, resultando em concessões indevidas à pluralidade e à tolerância.

Adendo: Ordenação de mulheres também já foi concluído. Encaminho-me agora para o último livreto do pastor Augustus, o Teologia relacional: suas origens, seus ensinos e suas consequências.

domingo, 8 de novembro de 2009

Exposição de Hebreus II

Uma coisa que me chama a atenção nos comentários exegéticos de Calvino é a cuidadosa atenção concedida por ele aos elementos retóricos do texto bíblico, hábito que talvez tenha sido adquirido por meio de sua formação humanista em Paris. Muitas lições importantes, que de outra forma passariam despercebidas, são captadas pelo reformador porque ele se preocupa constantemente em entender por qual motivo o autor emprega tal modo de argumentação ou usa certas expressões ao invés de outras, sempre tendo em mente o público a que as palavras inspiradas foram primeiramente dirigidas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Poemas de amor, poemas de guerra II

Na edição brasileira que li da Teologia sistemática, de Louis Berkhof, de vez em quando aparecia uma frase como "Conforme declarou mui sabiamente o dr. Kuyper:" seguida de uma citação - sem tradução - em holandês. Agora, lendo a tese da Norma, encontro muitas citações em francês, também não traduzidas. Mas estou muito supreso em constatar que tenho conseguido entender boa parte delas, mesmo com um francês que considero estar entre o sofrível e o inexistente. Sei que isso pode não interessar a ninguém, mas é uma notícia boa demais para não ser publicada.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Calvino, o teólogo do Espírito Santo

Este outro livreto do pastor Augustus trata da importância do Espírito Santo na teologia de Calvino, especialmente no contexto dos debates que fervilhavam no século XVI sobre a relação entre o Espírito e a Palavra. O reformador precisou bater-se simultaneamente com os católicos, por um lado, e os anabatistas e outros radicais de sua época, por outro. A despeito de todas as suas diferenças, todos esses grupos tinham em comum o fato de subordinar a Palavra, a espada do Espírito, a outras formas de revelação. O opúsculo contesta ainda a noção equivocada de que a teologia de Calvino atribui importância reduzida à terceira Pessoa da Trindade, além de trazer informações valiosas sobre desenvolvimentos posteriores da pneumatologia na tradição calvinista, especialmente por parte dos puritanos do século XVII e de Abraham Kuyper. Transcrevo abaixo uma bela citação feita no livreto, escrita pelo célebre teólogo presbiteriano B. B. Warfield na introdução a The work of the Holy Spirit, de Kuyper:

"A doutrina sobre a obra do Espírito Santo é uma dádiva de João Calvino à Igreja de Cristo. [...] Nos amplos departamentos doutrinários sobre 'A graça comum', 'Regeneração' e 'O testemunho do Espírito', do livro terceiro das Institutas, Calvino foi o primeiro a desenvolver a doutrina da obra do Espírito Santo, e a dar a toda a doutrina do Espírito Santo uma formulação sistemática, fazendo dela uma possessão inalienável da Igreja de Deus."

Adendo: A leitura dos livretos está indo mais rápido que minha capacidade de comentá-los. Ontem terminei o Cinco pecados que ameaçam os calvinistas, do presbítero Solano, e retornei ao pastor Augustus, agora com o Ordenação de mulheres: que diz o Novo Testamento?.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Exposição de Hebreus

"E Moisés, deveras, era fiel em toda a sua casa como servo, para testemunho daquelas coisas que haviam de ser anunciadas; Cristo, porém, como Filho, sobre sua casa; casa esta que somos nós, se guardarmos firme até o fim a ousadia e a glória de nossa esperança." (Hebreus 3.5-6)

Comentário de Calvino sobre o trecho destacado. Transcrevo mais pela primeira que pela segunda parte, mas ambas são interessantes e úteis:

"Tomo o termo 'esperança' no sentido de 'fé'. Aliás, esperança não é outra coisa senão a constância na fé. Ele menciona a ousadia e a glória da esperança com o fim de expressar com mais clareza o poder da fé. Daqui concluímos que os que recebem o evangelho de forma vacilante ou com dúvida possuem pouca ou nenhuma fé. Não pode haver fé sem aquela inabalável paz mental da qual flui a exultante confiança em gloriar-se. Eis aqui os dois efeitos da fé que estão sempre presentes, a saber, ousadia e exultação. Já enfatizamos esses elementos em nosso comentário de Romanos 5 e de Efésios 3.

Toda a doutrina dos papistas é contra esse mesmo fato. Mesmo quando não houvesse nenhum outro conteúdo nocivo, ainda assim destrói a Igreja de Deus em vez de edificá-la. A certeza, segundo a doutrina apostólica, tão-somente pela qual somos consagrados templos de Deus, não só é obscurecida por suas fantasias, mas é também claramente destruída por sua pretensão. Que estabilidade de confiança pode haver quando os homens não sabem em que estão crendo? Aquela monstruosidade de fé implícita que inventaram outra coisa não é senão libertinagem que tenta justificar o erro. Esta passagem nos lembra que temos de progredir sempre até ao dia da morte, porquanto toda a nossa vida se assemelha a uma pista de corrida."

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Calvino e a responsabilidade social da igreja

O grande defeito desse livreto é seu minúsculo tamanho. Apesar disso, traz alguns complementos interessantes a um outro livro, sobre o mesmo tema, que li recentemente: O humanismo social de Calvino (não gosto muito da terminologia, mas fazer o quê?), de André Biéler, professor da Faculdade de Teologia da Universidade de Genebra. O opúsculo do pastor Augustus, aliás, toma como principal fonte um outro livro do mesmo autor, O pensamento econômico e social de Calvino, que não tive ainda a oportunidade de ler.

Destaco um trecho da conclusão que, embora dirigido a uma crítica específica, contém uma advertência muito salutar contra todas as acusações injustas ou difamatórias que o reformador e sua doutrina habitualmente recebem de todos os lados. Não é qualquer um que tem a honra de ser considerado ancestral do capitalismo pelos esquerdistas e, ao mesmo tempo, ser apontado como precursor do movimento revolucionário pelos conservadores católicos. Um homem assim merece ter suas verdadeiras ideias mais bem conhecidas.

"O pensamento social de Calvino tem produzido abundante fruto na história da humanidade, após a Reforma. Muitas das universidades, escolas e asilos de que temos notícia foram fundados por calvinistas. Boa parte das críticas feitas contra os calvinistas, de que são levados à inércia e paralisia social por causa de sua ênfase na soberania de Deus em detrimento da responsabilidade humana, simplesmente revela um desconhecimento (proposital?) dos fatos e uma ignorância do que seja o calvinismo."

Adendo: no ensaio do coral do último domingo concluí o Tolerância no Novo Testamento. O livreto do momento é Cinco pecados que ameaçam os calvinistas, do presbítero Solano Portela.

sábado, 24 de outubro de 2009

The fractal geometry of nature II

A Norma tem razão em reclamar de um post sobre geometria fractal que não tem figura alguma. O leitor que também sente falta das figuras tem meu incentivo para ir ao Google Imagens e digitar a palavra "fractal". Garanto que vale a pena. Justifico-me confessando que simplesmente não consegui decidir qual figura deveria colocar.

Se essa desculpa não for suficiente, sirvo-me de outra: não há necessidade de figuras no texto, pois o próprio Mandelbrot é uma figura. Em sentido figurado, é claro. Demonstram-no suficientemente as palavras abaixo, que são parte de uma seção em que o matemático francês discorre sobre a forma a ser adotada na exposição que virá a seguir - isto é, ao longo de toda a obra. Esse trecho é particularmente interessante por revelar um tom pessoal e uma aversão ao especialismo que estão muito em falta na comunidade científica de hoje. A tradução é minha:

"Conforme exemplificado no capítulo 2, este ensaio inclui muitas referências velhas e obscuras. A maioria delas não atraiu minha atenção até muito depois que meu trabalho nas áreas relacionadas estava essencialmente completo. Elas não influenciaram meu pensamento. Porém, durante os longos anos em que meus interesses não eram compartilhados por ninguém, eu me rejubilava em descobrir preocupações análogas em obras antigas, embora expressas de passagem e sem resultados, testemunhando que essas ideias fracassaram na tentativa de se desenvolver. Desse modo, nutri um interesse pelos 'clássicos', que a prática usual da ciência destrói.

Em outras palavras, eu me rejubilava ao descobrir que as pedras de que eu precisava - como o arquiteto e construtor da teoria dos fractais - incluíam muitas que tinham sido levadas em consideração por outros. Mas por que insistir nesse fato hoje? Notas de rodapé eventuais satisfariam o costume vigente, ao passo que uma ênfase excessiva sobre as raízes ou origens distantes corre o risco de fomentar a impressão absurda de que minha construção é em grande parte uma pilha de pedras velhas que receberam novos nomes.

Sendo assim, minha curiosidade de antiquário exigiria uma justificativa, mas não darei nenhuma. É suficiente dizer que, em minha opinião, um interesse pela história das ideias faz bem à alma do cientista."

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Livretos do pastor Augustus

Uma das ocasiões em que costumo ler se dá durante o ensaio do coral de minha igreja, enquanto nossa regente ensaia as outras vozes. Ficar sem fazer nada me deixa inquieto, e conversar atrapalha quem está cantando. Por isso, leio. Foi assim que, no ensaio do último sábado, concluí a leitura do livreto Calvino e a responsabilidade social da igreja, do pastor Augustus Nicodemus Lopes, e comecei a ler um outro livreto do mesmo autor e do mesmo reduzido tamanho: Calvino, o teólogo do Espírito Santo. E no ensaio de domingo terminei este último e dei início a outro, Tolerância no Novo Testamento, do mesmo autor e só um pouquinho mais extenso. Considerações sobre esses opúsculos deverão aparecer por aqui nos próximos tempos.

domingo, 18 de outubro de 2009

O catecismo maior de Westminster

Tive a felicidade e a bênção de nascer em um lar cristão e crescer no seio da Igreja. Mas nem por isso tive desde cedo a consciência da operação da graça divina em mim. Durante toda a infância me considerei um pecador não alcançado pela justificação. Pensar no inferno me enchia de medo; não o medo derivado da imaginação, como o que acomete crianças que viram um filme de terror, mas um medo real devido à consciência do pecado. Eu estava convicto de que, se nada mudasse, eu iria para o inferno, e tal destino seria justo.

Fiz minha profissão de fé aos doze anos, mas isso só piorou as coisas. Por um lado, eu não tinha motivo para me esquivar dessa atitude, pois de fato cria em tudo aquilo que me fora ensinado sobre Deus e a doutrina cristã. Apenas não cria que isso me dissesse respeito. Eu não me sentia incluído de fato na família dos redimidos, na Igreja invisível, e isso me trazia sofrimento e pesar. Eu queria entrar, mas não sabia como conseguir isso. A multidão de meus pecados não diminuía. E eu lera na Bíblia algo sobre o perigo de participar indignamente do corpo e do sangue do Senhor. Minha indignidade estava acima de qualquer dúvida, de modo que eu cria apenas agravar a situação a cada Santa Ceia.

A certeza da salvação me veio, afinal, quando eu tinha dezesseis anos, depois que, através de uma porção de experiências, Deus me levou a compreender (com o coração, e não só com o intelecto) que a resolução do problema não estava ao meu alcance, e que a mim só cabia repousar em sua misericórdia. Meus temores quanto à participação na Ceia não eram bíblicos, afinal, e sim mero resquício de uma perversa esperança de salvação pelas obras: eu queria santificar a mim mesmo primeiro, para só então me achegar à mesa do Senhor, ao invés de me apropriar das bênçãos espirituais nela oferecidas gratuitamente em meu auxílio. É por isso que a resposta à pergunta 172 do Catecismo maior de Westminster é a que considero pessoalmente mais significativa. É uma pena que eu não a tenha lido na época em que poderia me ter sido mais útil.

Pergunta 172. Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada, deverá ir à Ceia do Senhor?

Resposta: Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada para participar da Ceia do Senhor, pode ter um verdadeiro interesse em Cristo, embora não tenha ainda a certeza disso; mas aos olhos de Deus o tem, se está devidamente tocada pelo receio da falta desse interesse e sem fingimento deseja ser achada em Cristo e apartar-se da iniquidade. Nesse caso, desde que as promessas são feitas, e este sacramento é ordenado para o alívio até dos cristãos fracos e que estão em dúvida, deve lamentar a sua incredulidade e esforçar-se para ter suas dúvidas dissipadas; e, assim fazendo, pode e deve ir à Ceia do Senhor para ficar mais fortalecida.

sábado, 17 de outubro de 2009

Fariseus de ontem e de hoje

Há alguns meses, enquanto eu pensava nas diferenças entre protestantismo e catolicismo, ocorreu-me que a mente judaica na época de Jesus se afastara tanto das Escrituras quanto, posteriormente, afastou-se a mente católica após algum tempo de constituição da igreja. Jesus acusava os fariseus – aqueles que, dentre os setores do judaísmo, ironicamente manifestavam maior apego pelo estudo da Bíblia disponível na época (o Antigo Testamento) – tanto de superficialidade no trato com os livros sagrados quanto de extrapolação, em geral para proveito próprio. Havia flagrantes contradições entre o ensino e o comportamento dos fariseus, de um lado, e a teologia e a moral das Escrituras, de outro – tantas contradições que poucos deles puderam reconhecer o Messias encarnado. Na teologia católica, que não podemos de modo algum acusar de antiintelectualista, importantes e inúmeras contradições em relação à Bíblia também são varridas para baixo de um tapete chamado, de modo um tanto impreciso, “tradição”: algo que evidencia um descaso intolerável com a Palavra de Deus.

Os cristãos protestantes não tiram do nada sua ênfase na leitura da Bíblia como sustentadora e abalizadora das questões da fé. Jesus não só a conhecia muito bem, mas, ao confrontar os fariseus, sempre o fazia com citações e/ou explanações aprofundadas desses textos. Quando a lemos e a ensinamos dessa maneira – como autoridade sobre tudo o mais – estamos nos mirando no exemplo de nosso Mestre. Porém, os fariseus modificavam ou adicionavam orientações à Palavra que adulteravam a vontade divina para seu povo. O resultado é catastrófico: Jesus aprova o hábito dessa leitura como suprema orientação espiritual (“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam...”), mas lamenta a cegueira que os impedia de reconhecer ali a verdade de Deus: “...e não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39).

E como vir a Jesus, sem primeiro examinar cuidadosamente (e com desejo pela verdade) o Livro que Dele testifica? Para os cristãos hoje, isso equivale a crer Nele de modo integral a partir do que está escrito (expressão bastante repetida por Ele), a confiar em Sua Palavra e vivê-la. Essa continuidade em relação à leitura da Palavra está evidenciada em Sua oração sacerdotal (Jo 17.20): “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra [sua é um pronome que se refere aos apóstolos: o testemunho e o ensino deles registrados na Bíblia, evidentemente].” No entanto, tal como os fariseus, os responsáveis pelo ensino e pela sistematização teológica na igreja católica leem mal as Escrituras, deixando passar sua pedra-de-toque quanto ao que significa a fé: crer não em si mesmo, nem na igreja erigida institucionalmente, para a salvação e a santificação, mas sim em Cristo e em sua obra na cruz.

Essas considerações me acompanharam todo esse tempo, até que eu encontrasse seu eco no livro de Alister McGrath, A vida de João Calvino, p. 87-88:

“À medida que a Reforma ganhava impulso, havia uma tendência crescente a considerar a Igreja Católica medieval como algo que se assemelhava aos piores aspectos do judaísmo posterior ao exílio. Ela não ensinava a justificação pelas obras da lei, que, segundo Paulo, havia sido o principal erro teológico do judaísmo? Um certo paralelo era observado entre o catolicismo medieval e o judaísmo, de um lado, e o evangelicalismo e o cristianismo do Novo Testamento, de outro. Assim como Paulo simbolizava a impetuosa transição do judaísmo para o cristianismo, sua conversão deveria ser tomada como um paralelo, no século XVI, por alguém que rompesse com seu passado católico para assumir, deliberada e decisivamente, uma ligação com a Reforma.”

Sim, tal como os reformadores, podemos identificar a religião degenerada da época de Jesus à visão católica pouco compromissada com a Palavra, tanto naqueles tempos como hoje. O ensino central das Escrituras é a justificação como obra divina, e não humana, doutrina já presente no Antigo Testamento, mas que surge em todo o seu esplendor no Novo Testamento, nas palavras do Cristo encarnado; surge também na explanação minuciosa e paciente do apóstolo Paulo a seus convertidos; está salpicada em toda a Bíblia, de modo mais ou menos evidente. O próprio Cristo afirma que as Escrituras testificam Dele. O que deveria ser toda a doutrina teológica cristã, a não ser um contínuo retorno à Palavra?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

The fractal geometry of nature

A concepção de Mandelbrot sobre a relação entre a matemática e a natureza era radicalmente distinta da que imperava tanto entre os matemáticos quanto entre os cientistas. Boa parte de sua carreira como matemático foi devotada ao estudo de coisas que a maioria considerava pura maluquice. Foi assim que ele criou a geometria dos fractais e, tendo reunido evidências e argumentos suficientes, enfim publicou-os em 1977 no livro Fractals, que foi adaptado e expandido para se transformar no The fractal geometry of nature, de 1982. É quase um livro de divulgação científica, com a ressalva de que não se dirige a leigos, e sim a cientistas profissionais (ou pelo menos aprendizes) e matemáticos.

Do ponto de vista formal, trata-se de um ensaio excelente: leve e descontraído sem abandonar o rigor característico da profissão do autor, além de bem ilustrado e primorosamente didático, levando-se em conta o público-alvo. Graças a essas qualidades pude enfim entender, sem dificuldade, de que modo um objeto pode ter um número não-inteiro de dimensões - algo que nada foi capaz de enfiar em minha cabeça quando, nos tempos da iniciação científica, eu trabalhava com a teoria do caos. Aliás, a difusão de pesquisas relacionadas ao caos, fenômeno estreitamente vinculado aos fractais, é em si uma prova de que Mandelbrot conseguiu convencer muitos homens de ciência da validade e fecundidade de sua abordagem. Eu mesmo me convenci de vez no quinto capítulo, e estou lendo os outros 37 apenas por prazer.

Prazer... faz dois anos e meio que peguei pela última vez um livro de física ou matemática movido pelo mero desejo de conhecer, e não por obrigações acadêmicas de alguma espécie. Talvez seja o início de uma reconciliação mais duradoura. Se for o caso, vejo agora que fiz uma ótima escolha para o reinício.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Henri Meschonnic


Doutora desnaturada que sou! Henri Meschonnic, cuja obra foi objeto de minhas pesquisas de mestrado e doutorado, morreu em 8 de abril deste ano, aos 76 anos — e eu só fiquei sabendo disso nesta semana, através de uma singela googlada do André sobre o autor.

Minha homenagem a esse teórico, crítico e poeta (com minha manifesta predileção pelo poeta) é feita sob a forma desse belo poema que traduzo aqui:

quand le ciel et moi
nous sommes
si libres que nous allons ensemble
on ne peut plus voir
si je suis dans la lumière
ou la lumière est en moi
car je la garde pour toi
je ferme les yeux j’ai
les mains en fête

quando o céu e eu
somos
tão livres que vamos juntos
não se pode mais ver
se estou na luz
ou se a luz está em mim
pois eu a guardo para ti
fecho os olhos tenho
as mãos em festa

Poemas de amor, poemas de guerra

Não quero ser injusto, inclusive porque não li mais que a quinta parte da tese da Norma. É bem possível, portanto, que eu ainda mude de opinião. Mas por enquanto, pelo menos, os autores que não ocupam o centro das atenções - Girard, Proust e Wittgenstein - estão me parecendo mais interessantes que o próprio Meschonnic.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Leituras atuais II (Norma)

Com base no primeiro post individual do André, aqui vai também a lista de minhas leituras atuais:

1. A vida de João Calvino, de Allister McGrath: biografia emocionante do grande Calvino. Desfaz alguns mitos ridículos acerca do reformador, como a história de Serveto (em que Calvino teve participação indiretíssima) e a do "ditador de Genebra" (quem mandava na cidade era o Conselho Municipal, não Calvino!)

2. Pars vite et reviens tard (ed. bras. Fuja logo e demore para voltar), de Fred Vargas: mais um romance policial (adoro) inteligente e bem escrito. Há muita coisa de Fred Vargas traduzida para o português, mas ler no original é sempre mais divertido

3. Sola Scriptura, de vários autores: munição obrigatória para o novo reformado ou para quem tem argumentos vacilantes contra a teologia católica

4. Mais que vencedores, de William Hendriksen: um comentário de Apocalipse que não "viaja na maionese"

5. L'obsession anti-américaine, de Jean-François Revel: ensaio desafiador e um tanto indignado sobre o antiamericanismo no mundo ocidental, mas principalmente na França

Leituras atuais I (André)

Para inaugurar minha participação num blog como este, nada melhor que listar os livros que estou lendo atualmente, e que têm grande probabilidade de figurar em minhas postagens num futuro próximo.

1. Calvino e a responsabilidade social da Igreja, do pastor Augustus Nicodemus Lopes: um interessante livreto baseado na pesquisa de André Biéler sobre o papel social da Igreja de Cristo segundo Calvino.

2. Exposição de Hebreus, de João Calvino: o comentário do reformador sobre essa belíssima e fundamental epístola bíblica.

3.
Poemas de amor, poemas de guerra, de Norma Braga: isso mesmo, é a tese de doutorado da Norma, que analisa aspectos da obra do poeta, tradutor e crítico literário francês Henri Meschonnic.

4.
The fractal geometry of nature, do matemático francês (mas de origem judaico-polonesa) Benoît Mandelbrot: fala sobre a geometria dos fractais, em grande parte inventada por ele próprio, e de sua utilidade para a compreensão do mundo físico.

Olá!

Bem-vindo! Em breves linhas, este é nosso diário de leitura. O leitor curioso poderá encontrar aqui desde simples citações do que tamos lendo (ou já lemos, ou queremos ler) até resenhas mais longas e elaboradas. Bem mais divertido que fichamentos, não é? ;-)

Abraços e boa leitura!