sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Top ten 2015 - Norma Braga

Observação: não queria plagiar meu marido, mas de fato é importante frisar que a lista está em ordem cronológica e que posso não concordar cem por cento com os autores mencionados.

2015 foi o ano da morte de René Girard, em 4 de novembro. Homenageei-o involuntariamente ao escolher o desejo mimético como um dos temas a serem trabalhados em meu mestrado em teologia no Jumper. Agora, homenageio-o mais uma vez com dois livros seus na lista dos dez melhores do ano que passou. Geometrias do desejo é uma excelente continuação tardia de Mentira romântica, verdade romanesca. Anorexia e desejo mimético é um livro mais fácil de ler, se comparado aos demais de sua autoria, por ser a transcrição de uma palestra - recomendo-o como uma boa introdução ao pensamento girardiano, em que seus conceitos são aplicados a um assunto tão pungente e atual como os distúrbios alimentares. Memórias do subsolo, de Dostoievski, foi lido através de Girard, e creio que permanecerá como uma das leituras mais impactantes de minha vida.

Ouweneel foi grata leitura, mais arejada e multicolorida que as obras norte-americanas de aconselhamento bíblico que tenho pesquisado. Comparece aqui de novo uma das autoras de que mais gosto, Amélie Nothomb, mas seu melhor livro, para mim, continua sendo Higiene do assassino (o que não me impediu de emocionar-me, e muito, com Biografia da fome). Dueñas foi uma descoberta interessante que prometo acompanhar mais de perto. Lobato é amor antigo da infância que aos poucos retomo na fase adulta, para adultos. Beale é simplesmente imprescindível para qualquer pessoa que tenha alguma curiosidade em relação ao tema da idolatria; é básico e traz o caldo grosso da boa exegese bíblica. Willingham traz uma tipologia muitíssimo interessante e aplicável, além de expressar-se em uma linguagem que, deliciosamente próxima ao leitor, marca sua constante presença como um pecador dos mesmos pecados que descreve. (Se alguém decidir traduzi-lo, passe o copidesque para mim, pois gostaria de preservar no português a mesma familiaridade, o mesmo despojamento.)

E, fechando muito bem o ano, uma descoberta brasileira: Mario Vieira de Mello. Eu tinha há tempos seu livro em casa, mas estava perdido em algum lugar. André o achou, e ainda bem! Os professores Filipe Fontes e Davi Charles Gomes, do Jumper, trouxeram Vieira para uma disciplina sobre cultura brasileira, e foi minha oportunidade. Lamentei não tê-lo lido antes, ao mesmo tempo em que me alegrei por ser capaz de apreciá-lo, hoje, bem melhor que há alguns anos. Foi uma leitura que "arrumou" bastante minha mente quanto aos conteúdos estudados na Letras (sim, o livro traz longas considerações literárias) e me forneceu chaves (semelhantes às que ganhei com Girard) para a compreensão da realidade brasileira - da nossa realidade, minha e sua. Os estudos brasileiros continuam em 2016: estou lendo A poeira da glória, do amigo girardiano-vieiriano Martim Vasques da Cunha, que tem tudo para ser o primeiro exemplar da lista em 2016.

Boas leituras neste novo ano!

1. Heart and soul: a Christian view of psychology [Coração e alma: uma visão cristã da psicologia], de Willem Ouweneel.

2. Biographie de la faim [Biografia da fome], de Amélie Nothomb.

3. Memórias do subsolo, de Fiódor Dostoiévski.

4. Você se torna aquilo que adora: uma teologia bíblica da idolatria, de G. K. Beale.

5. Géométries du desir [Geometrias do desejo], de René Girard.

6. Anorexie et désir mimétique [Anorexia e desejo mimético], de René Girard.

7. O tempo entre costuras, de María Dueñas.

8. A barca de Gleyre, de Monteiro Lobato.

9. Relational masks: removing the barriers that keep us apart [Máscaras relacionais: removendo as barreiras que nos mantêm afastados], de Russell Willingham.

10. Desenvolvimento e cultura: o problema do estetismo no Brasil, de Mário Vieira de Mello.