sábado, 28 de agosto de 2010

Fundamentos de engenharia de petróleo

Li esse livro enquanto estudava para o concurso da Petrobras. A obra foi preparada por uma grande equipe de especialistas em petróleo e nas diversas fases do processo de sua extração. Não pretendo, por enquanto, fazer outros posts a respeito, mas isso nem de longe significa que eu não tenha apreciado a leitura. Ao contrário, fiquei impressionado ao constatar a trabalheira que dá identificar um local para cavar um poço. É um trabalho que toma vários anos, e cuja taxa de acerto é de apenas 47%. Muitos conhecimentos de física e geologia entram nessa fase. Além disso, fiquei impressionado também com a tecnologia envolvida na perfuração de poços, nos métodos de extração e em muitos detalhes do processo todo. Descobri ainda que um reservatório típico só permite a extração de cerca de 30% do petróleo nele contido, e que é na ampliação dessa capacidade que muitos especialistas veem um futuro promissor para o ramo. Não posso dizer que entendi o livro todo, mas o contato com todo esse ramo da engenharia e das ciências aplicadas me foi muito agradável. Além do mais, me fez lembrar de um desejo que tenho há quase dez anos: o de, um dia, estudar geologia bem mais profundamente.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O grande jogo XII

Falei no post anterior dos muitos aspectos positivos do quinto capítulo do livro. No entanto, há também alguns probleminhas não desprezíveis. Magnoli acha que havia no pensamento de Marx um elemento democrático com o qual o comunismo soviético só veio a romper sob Stálin. Repete as calúnias de sempre contra os conservadores americanos (imperialismo, Guantánamo, etc.). Acha que o conteúdo do "documentário" Fahrenheit é conservador. Pensa que o nacionalismo decorrente do antiamericanismo da América Latina é um sintoma da "dissolução ideológica" da esquerda. Sustenta, embora de um modo algo particular, a velha mentira stalinista de que fascismo e comunismo são coisas extremamente diferentes entre si. Acha que o MST não está promovendo nenhuma revolução socialista, e sim o contrário: tem sido usado para facilitar a "modernização acelerada, conservadora e excludente" do agronegócio brasileiro.

Além disso, Magnoli perdeu a oportunidade de tirar a devida lição de certos fatos mencionados por ele mesmo. Por exemplo, que, ao se manifestar contra os crimes da ditadura cubana, Saramago estava com menos pena dos fuzilados que de si próprio. Ou que a mera existência do Fórum Social Mundial demonstra que os melhores amigos da esquerda do Terceiro Mundo (como Chávez e o PT) são as ONGs ligadas à ONU - e, por conseguinte, os bilionários que as financiam. E que isso basta para derrubar o mito de que a esquerda representa os interesses dos pobres contra os dos ricos. Magnoli é um esquerdista excepcionalmente bem dotado intelectualmente, mas ainda é esquerdista demais para entender certas coisas.

domingo, 22 de agosto de 2010

O que vem por aí

Os livros que têm sido comentados por mim neste blog foram lidos há vários meses. Portanto, os comentários estão atrasados. Neste post apenas listarei alguns livros que li recentemente, ou que ainda estou lendo, e que não apareceram ainda neste espaço. Assim os leitores poderão fazer uma previsão do quanto o conteúdo do blog lhes parecerá interessante nos próximos tempos.

1. Levítico: introdução e comentário, do teólogo canadense R. K. Harrison. Ganhei esse livro do meu pai há uns dois anos, mas só agora o estou lendo. A leitura do comentário de Calvino a Hebreus me incentivou a isso.

2. O pensamento econômico e social de Calvino, do teólogo suíço André Biéler: excelente obra que ganhei da Norma no Natal passado.

3. A soberania banida: redenção para a cultura pós-moderna, do teólogo americano R. K. McGregor Wright. Ganhei o livro em janeiro deste ano na promoção do irmão Jorge Fernandes e seus amigos. Trata do tema da soberania divina e da autonomia humana, em diversos níveis.

4. Produção de mudas e manejo fitossanitário dos citros: coletânea que nosso laboratório ganhou de presente de um colaborador. Li-o para enriquecer meus conhecimentos sobre doenças e pragas em citros, assunto diretamente vinculado ao tema de minha dissertação de mestrado.

5. Pedro, Estêvão, Tiago e João: estudos do cristianismo não-paulino, do teólogo escocês F. F. Bruce. Livro que dei de presente ao meu pai em seu último aniversário, e que ele me emprestou depois de ter lido.

6. Para compreender o islã: originalidade e universalidade da religião, do metafísico sufi suíço Frithjof Schuon. Esse livro trata da religião islâmica em comparação com outras tradições, sempre de um ponto de vista perenialista e esotérico (no sentido guénoniano da palavra). Comprei-o num sebo local há dois ou três anos, mas só agora me animei a lê-lo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O grande jogo XI

O quinto capítulo, A esquerda que fuzila, é certamente o melhor de toda a primeira parte do livro. Ele critica o totalitarismo da esquerda de inúmeras formas. Denuncia corretamente a farsa da desestalinização empreendida pelo comunismo soviético, apontando a hipocrisia de Kruschev, do Partido e de seus muitos colaboradores no Ocidente, bem como a falsidade dos dois pilares fundamentais da reinterpretação pós-stalinista da história: que a URSS foi responsável pela melhoria das condições de vida no Ocidente e pela salvação da humanidade contra o perigo do nazismo. Identifica aspectos importantes da semelhança ideológica entre o PT e os partidos e líderes comunistas totalitários dos tempos da Guerra Fria, semelhança essa que se manifestou de vários modos, por exemplo, por ocasião da crise do mensalão. Critica a omissão do governo Lula e outros partidos de esquerda brasileiros diante dos crimes políticos da ditadura castrista - o que, aliás, continua acontecendo até hoje. Denuncia a exultação imoral da esquerda acadêmica brasileira por ocasião dos ataques do 11 de setembro e, de modo mais amplo, a simpatia da esquerda mundial pelo terrorismo islâmico. Denuncia também o antiamericanismo que se apossou de maneira generalizada da esquerda no mundo todo, impedindo-a de perceber a força inigualável da democracia americana. Trata com o devido desprezo o trabalho de Michael Moore, o mais mentiroso cabo eleitoral do Partido Democrata. Ataca, de modo geral, as teorias conspiracionistas sobre o 11 de setembro, identificando a razão fundamental de sua plausibilidade aos olhos de muitos: a convicção autenticamente esquerdista de que só amantes da liberdade podem ser verdadeiros inimigos da "pátria do capitalismo". O trecho de que mais gostei no capítulo todo é este aqui:

"Eles eram americanos, foram rebaixados a norte-americanos e hoje não passam de estadunidenses. Os arautos do antiamericanismo querem extirpar a América do nome dos Estados Unidos, reduzindo-os à descrição anódina de seu sistema federal. A privação do nome próprio equivale a uma eliminação simbólica do inimigo e funciona como prelúdio ideológico do extermínio prático, que permanece como ideal."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

The consolation of philosophy VII

A parte mais interessante do Livro IV é introduzida através de uma pergunta de Boécio à Filosofia sobre o discernimento dos propósitos divinos na sorte dos homens. Para responder a essa pergunta, a Filosofia disserta sobre o tema da soberania divina, embora sem usar esse termo. Gostei dessa explicação, por não abrir mão da soberania divina, embora faça distinções entre aquilo que se encontra sob ela. Nesse trecho, Boécio distingue a Providência divina do Destino, concedendo à primeira um alcance mais vasto. Apesar da linguagem distante da que empregamos hoje, noto um acordo entre as posições de Boécio e as minhas próprias em muitos pontos, embora não em todos. Especialmente se eu estiver correto em minha compreensão da Providência como correspondendo àquilo que a teologia reformada chama de "decretos divinos", e do Destino como se referindo às forças impessoais da natureza.

"Tua pergunta me chama ao maior de todos esses assuntos, e uma resposta completa a ela é quase impossível. Pois ela é desse tipo: se uma dúvida é estirpada, inumeráveis outras surgem, como as cabeças da Hidra; e não pode haver limite a menos que um homem as refreie pelo mais rápido fogo da mente. Pois aqui jazem as questões do caráter direto da Providência, do curso do Destino, de acidentes que não podem ser previstos, do conhecimento, da divina predestinação e da liberdade de julgamento. Podes julgar por ti mesmo o peso dessas questões. Mas visto que é parte de teu tratamento conhecer as respostas a algumas delas, tentarei tirar algum proveito daí, embora estejamos restritos a um curto espaço de tempo. [...] O engendramento de todas as coisas, o desenrolar inteiro de todas as naturezas mutáveis e todo movimento e progresso no mundo obtêm sua causa, sua ordem e sua forma da atribuição da imutável mente de Deus, que estabelece várias restrições sobre todas as ações a partir da calma fortaleza de sua própria direção. Tais restrições são chamadas de Providência quando se pode ver que jazem na própria simplicidade do entendimento divino; mas foram chamadas de Destino nos tempos antigos, quando eram vistas com referência aos objetos que elas moviam ou organizavam. Será facilmente entendido que esses dois são muito diferentes se a mente examinar a força de cada um. Pois a Providência é a própria razão divina que organiza todas as coisas e repousa com o supremo ordenador de tudo; enquanto o Destino é aquela ordenação que é uma parte de todas as coisas mutáveis por meio das quais a Providência mantém todas as coisas em sua devida ordem. A Providência abrange todas as coisas igualmente, por mais diferentes que possam ser, mesmo as infinitas: quando lhes são atribuídos seus devidos lugares, formas e tempos, o Destino as põe em movimento ordenado, de modo que esse desenvolvimento da ordem temporal, unificado na inteligência da mente de Deus, é a Providência. O funcionamento desse desenvolvimento unificado no tempo é chamado Destino.

São diferentes, mas um se apóia no outro. Pois essa ordem, que é governada pelo Destino, emana da direção da Providência. Assim como, quando um artesão percebe em sua mente a forma do objeto que pretende fazer, ele coloca em ação sua força de trabalho e traz à existência, na ordem do tempo, aquilo que tinha visto diretamente e que estava prontamente presente em sua mente. Assim, pela Providência Deus dispõe inalteravelmente de tudo o que será feito, cada coisa por si mesma; enquanto essas mesmas coisas que a Providência organizou são moldadas pelo Destino de muitos modos no tempo. Portanto, quer o Destino trabalhe com a ajuda dos espíritos divinos que servem a Providência, quer trabalhe com a ajuda da alma, ou de toda a natureza, ou dos movimentos das estrelas no céu, ou dos poderes dos anjos, ou das várias habilidades de outros espíritos, quer o curso do Destino esteja unido a algum desses ou a todos eles, uma coisa é certa, a saber, que a Providência é o único poder imutável direto que dá forma a todas as coisas que devem acontecer, enquanto o Destino é o laço mutável, a ordem temporal dessas coisas que são preparadas para acontecer pela direta disposição de Deus.


Daí se segue que tudo o que está sujeito ao Destino está também sujeito à Providência, à qual o próprio Destino está sujeito. Mas há coisas que embora estejam sob a Providência, estão acima do curso do Destino. Essas coisas são aquelas inamovivelmente estabelecidas o mais perto possível da divindade primária, e ali se encontram além do curso do movimento do Destino. Como no caso das esferas que se movem girando em torno do mesmo eixo, aquela que está mais perto do centro se aproxima mais do movimento simples do centro e é ela mesma, por assim dizer, um eixo em torno do qual se revolvem aquelas que estão fora dela. [...] Do mesmo modo, aquilo que mais se afasta da inteligência primária está mais preso pelos laços do Destino, e quanto mais perto chega do eixo de tudo, mais livre está do Destino. Mas aquilo que se apega sem movimento ao firme intelecto de cima sobrepuja de todo o elo do destino.


Portanto, como o raciocínio está para o entendimento, como aquilo que se torna está para aquilo que é, como o tempo está para a eternidade, como a circunferência está para o centro, assim está o curso mutável do Destino para a direção inamovível da Providência. Esse curso do Destino move os céus e as estrelas, modera os primeiros princípios em suas revoluções e altera suas formas mediante permutações equilibradas. O mesmo curso renova todas as coisas que nascem e definham mediante a prole e a semente. Ele compele também as ações e fortunas dos homens mediante uma inquebrável cadeia de causas, e essas causas devem ser imutáveis, visto que procedem dos primórdios de uma Providência imutável. Assim é o mundo governado pela melhor direção, que repousa na inteligência de Deus, estende uma ordem de causas que não pode se desviar. Essa ordem, por sua imutabilidade, refreia as coisas mutáveis, que poderiam de outro modo correr a esmo de um lado a outro."

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O grande jogo X

O quarto capítulo do livro trata de Israel e da questão Palestina, que é um assunto sobre o qual não estou muito bem informado. Apesar disso, há dois pontos que considero interessante comentar. Um deles aparece já no segundo parágrafo, quando Magnoli comenta o "terror de Estado" praticado por Israel, apontando que ele "precisa de uma lógica política, enquanto aos 'homens-bomba' basta o desespero ou a fé cega". Com isso, o autor reforça o que já dissera no capítulo anterior, isto é, que o terrorismo é geralmente uma atitude desesperada de facções oprimidas, e cuja prática conduz não só ao suicídio dos homens-bomba, mas também ao suicídio político da organização e da causa por ela defendida: "Quase sempre o terror serve aos fins daqueles que declara combater."

Isso não é verdade, porém, e Magnoli poderia constatar a falsidade do que diz lendo seus próprios artigos. No mesmo texto, ele afirma que a vitória sobre a Al Qaeda passa necessariamente pela desocupação americana do Afeganistão e do Iraque. Segundo ele, isso prejudicaria a organização terrorista ao privá-la dos pretextos de que se serve para obter apoio e estima no mundo islâmico. Ora, mas a retirada americana no Oriente Médio é justamente o que quer a Al Qaeda. Em essência, Magnoli defende que a vontade de Osama bin Laden deve ser obedecida. Mas o geógrafo apresenta essa solução como se fosse uma arma de combate contra a organização terrorista, o que dá ensejo à sua mania onipresente de culpar o governo americano pelos males causados por seus inimigos. Agora imaginemos alguns milhares de Magnolis com ideias igualmente "brilhantes" espalhados pelo mundo, e teremos uma explicação plenamente satisfatória para o modo de agir dos terroristas. Os ataques suicidas não são um recurso desesperado dos fracos, ao contrário do que Magnoli quer nos fazer crer. São, isso sim, um recurso muito bem planejado, e que atinge seus fins a despeito da inferioridade militar, graças à colaboração de muitos Magnolis espalhados pelos órgãos de imprensa no mundo todo, órgãos que são usados como instrumentos de pressão política justamente contra os Estados que se empenham em combater os terroristas e as causas por eles defendidas.

O princípio é o mesmo que o comunismo empregou com sucesso na Guerra do Vietnã: usar a imprensa dos países livres (no caso, os EUA) como instrumento de campanha política, isto é, como um megafone destinado a amplificar imensamente qualquer ruído de guerra que se pudesse ouvir nas selvas do sudeste da Ásia. É algo parecido com o que a imprensa esquerdista fez no caso do Afeganistão e do Iraque. O princípio é: não adianta, não vamos conseguir vencê-los; a única solução é dar-lhes o que desejam; eles ficarão felizes e não nos importunarão mais. E assim, de concessão em concessão, os terroristas e seus aliados vão dominando o mundo.

Uma aplicação muito bem sucedida da mesma estratégia midiática, resultante da aliança entre a esquerda ocidental e o terrorismo islâmico, ocorreu por ocasião do atentado a Madri em março de 2004. Magnoli colabora mais uma vez, divulgando a versão oficial dos socialistas do mundo todo: que o governo da Espanha, conservador, mentiu ao povo sobre a autoria do atentado para tentar justificar seu apoio aos americanos no Iraque, e o povo se vingou elegendo a oposição socialista. Porém, se alguém chegou a saber que o governo divulgou uma versão falsa dos fatos, foi apenas porque o próprio governo divulgou a informação correta no dia seguinte, corretamente atribuindo o atentado à Al Qaeda, tão logo as evidências passaram a apontar nessa direção. Dessa forma, perderam os conservadores espanhóis e americanos, e ganharam os socialistas espanhóis e a própria Al Qaeda, pois o novo governo tratou de retirar imediatamente o apoio à ocupação do Iraque. É impossível não ver nisso uma ação conjunta de socialistas e terroristas. Mas Magnoli não apenas faz sua parte para evitar que chegue aos ouvidos do público brasileiro a verdade sobre esse fato específico, mas também espalha por todo canto a tese de que os grandes apoiadores do terrorismo islâmico sempre foram os americanos.

O segundo ponto a comentar sobre o capítulo em questão diz respeito justamente a essa aliança entre socialismo e islamismo. Magnoli atribui a origem do antissemitismo ao catolicismo medieval (o que me parece correto), passando daí ao nazismo e ao fascismo graças ao seu nacionalismo (pois o judeu seria sempre visto como estrangeiro) e só daí teria passado à esquerda via Stálin, graças à suposta nacionalização do socialismo soviético empreendida por esse célebre genocida. Esse é, porém, apenas mais um mito da esquerda. Magnoli deixa escapar que, paralelamente à imagem do "judeu sem pátria", surgiu também a do "judeu usurário". Ele só não menciona que ninguém fez mais pela promoção dessa última que os anarquistas e comunistas do século XIX, que se tornaram antissemitas por terem vislumbrado alguma relação entre os judeus e o capitalismo. O que não era difícil, dada a bem conhecida prosperidade que prevalece entre os membros desse povo. Foi a esquerda revolucionária que transmitiu esse "valor" ao que se convencionou chamar de "extrema-direita", e não o contrário. O socialismo já era amplamente antissemita quando o fascismo e o nazismo ainda nem sonhavam em existir.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

The consolation of philosophy VI

Após a denúncia da falsa felicidade proporcionada pelas coisas deste mundo, a Filosofia explica a Boécio onde está oculta a verdadeira felicidade. A resposta pode ser vislumbrada na bela oração abaixo transcrita. O trecho é interessante também por reunir uma porção de elementos da física e da metafísica antiga, derivados, segundo me parece, sobretudo de Platão e Aristóteles.

"Ó Tu que governas o universo com lei eterna, fundador tanto da terra quanto do céu, que convidaste o tempo a se apresentar, saindo da Eternidade, Tu que estás firme para sempre, embora dês movimento a tudo. Não houve causas externas a Ti que pudessem impelir-Te a criar esta massa de matéria mutável, mas dentro de Ti mesmo existe a própria ideia do bem perfeito, que a nada inveja. Pois de quê poderia ele ter inveja? Fazes que todas as coisas sigam aquele elevado padrão. Em beleza perfeita moves em Tua mente um mundo de beleza, fazendo tudo à imagem e semelhança dele, e chamando o todo perfeito a completar suas perfeitas funções. Unes todos os primeiros princípios da natureza por ordens perfeitas como as ordens numéricas, de modo que cada um possa ser equilibrado com seu oposto: frio com calor e secura com umidade; de modo que o fogo não pode ascender rápido demais por ser muito puro, nem pode o peso da terra sólida arrastá-lo para baixo e esmagá-lo. Fazes a alma como um terceiro entre a mente e os corpos materiais; a estes a alma dá vida e movimento, pois Tu a espalhas entre os membros do universo, que agora funcionam em harmonia. Assim é a alma dividida enquanto toma seu curso, fazendo dois círculos, como um fio amarrado em torno do mundo. Por conseguinte, ela retorna sobre si mesma e passa em volta da mais baixa mente terrena; e, de modo semelhante, dá movimento aos céus para que completem seu curso. Tu és o que conduz adiante com tal inspiração essas almas e vidas inferiores. Preenches esses vasos fracos com almas grandiosas, e as envias a todas as partes do céu e da terra, e por Tua amável lei as conduzes de volta a Ti mesmo e as levas a buscarem, como o fogo, ascender a Ti novamente. Concede então, ó Pai, que nossas mentes possam ascender a Teu trono de majestade; concede-nos que alcancemos essa fonte do bem. Concede que possamos assim encontrar luz, de modo que possamos firmar em Ti olhos desvendados; tira deles as pesadas nuvens deste mundo material. Brilha sobre nós em Tua própria e verdadeira glória. És o brilhante e sereno repouso de todos os Teus filhos, que Te adoram. Ver-Te claramente é o termo de nossa meta. És nosso início, nosso progresso, nosso guia, nosso caminho, nosso fim."

sábado, 7 de agosto de 2010

O grande jogo IX

Como se pode ver pelos posts anteriores, há muitos erros nas análises políticas de Magnoli, inclusive alguns erros crassos. Não quero, porém, dar a impressão de que não aprendi nada com sua leitura. A despeito de todas as distorções motivadas pela ideologia, dos fatos ignorados e das mentiras veiculadas, o autor possui conhecimentos vastos e frequentemente propõe interpretações interessantes. Se não comento esses aspectos positivos por aqui, é porque eles se difundem muito bem ao longo dos textos, de modo que, para fazer-lhes justiça, seria necessário comentar quase todas as páginas do livro.

Um aspecto do livro que julguei muito positivo é a preocupação constante com a análise dos interesses nacionais. A fim de evitar as simplificações indevidas de Morgenthau, para quem os Estados eram os únicos agentes políticos, alguns analistas políticos conservadores parecem cair no erro oposto, desprezando os interesses nacionais a fim de fazer justiça aos elementos ideológicos, religiosos, partidários e outros tantos que não se identificam a nação alguma. Os textos de Magnoli fazem parte de um conjunto de leituras que me levam à revalorização da importância desse aspecto da luta política - embora, é claro, mantendo-o em sua proporção devida.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Um mundo com significado X

O nono capítulo, intitulado A restauração do organismo vivo, traz algumas informações interessantes sobre o estado atual dos debates internos da biologia. Não é de hoje que sei que, no meio científico, Richard Dawkins e seus discípulos estão longe de contar com a aprovação unânime que a imprensa normalmente lhes atribui. Na verdade, essa escola tem muitos inimigos não só entre criacionistas e religiosos em geral, mas também nos próprios círculos materialistas. Mas meu propósito aqui é falar apenas dos adversários que combatem suas ideias no plano estritamente científico. A teoria do "gene egoísta", com sua subjacente adesão à teoria que estabelece o gene como unidade de seleção, foi amplamente contestada, por exemplo, pelo paleontólogo Stephen Jay Gould, de Harvard, defensor da teoria clássica que atribui esse papel aos organismos, e por outros que o atribuíam às populações ou espécies inteiras. Também são dignos de nota Lynn Margulis e seu neolamarckismo, bem como Stuart Kauffman, que tem uma teoria sobre as propriedades auto-organizadoras da matéria. Todas essas são pessoas de elevada posição no meio científico, e cujas simpatias pelo criacionismo ou pelo design inteligente são manifestamente inexistentes. É o caso de nos perguntarmos como é que Dawkins conseguiu obter tamanha aparência de respeitabilidade acadêmica, quando a comunidade dos biólogos está cheia de gente que o considera, na melhor das hipóteses, um sujeito cheio de ideias erradas na cabeça.

Para mim, a grande novidade do capítulo 9 está na descoberta de que Kauffman não é uma voz isolada em defesa de sua teoria, que critica vários aspectos importantes do neodarwinismo que todos aprendemos na escola. Wilker e Witt fornecem informações sobre toda uma escola de biólogos que vai na mesma direção, recusando-se a conceder ao código genético o papel de monarca absolutista que Dawkins lhes atribui. Essa escola, que os autores chamam de "estruturalismo biológico", defende uma abordagem menos reducionista, ao considerar os genes como partes importantes, mas não mais que a totalidade das células e dos organismos que fornecem o contexto para sua atuação. Parece uma ideia interessante. E, pensando bem, creio já ter ouvido rumores dela em algum lugar. Os autores não falam disso, mas lembro-me de ter lido que o sequenciamento do genoma humano não forneceu o "segredo da vida" ou outras bobagens alardeadas pela mídia, justamente porque foi constatado que nem toda a informação necessária para tanto estava ali codificada.