terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Top ten 2019 - André Venâncio

1. Uma coletânea de escritos, de João Calvino. Muito bem traduzida por minha esposa e publicada pela editora Vida Nova como parte da série Clássicos da Reforma. Eu naturalmente apreciei mais os textos que ainda não havia lido em outras edições: o Pequeno tratado da santa ceia de nosso Senhor Jesus Cristo, modelo de tratamento responsável e amoroso de um tema então altamente incendiário; o engraçadíssimo e polêmico Tratado das relíquias; as mordazes e também apologéticas Desculpas de João Calvino aos senhores nicodemitas e o piedosamente pastoral Tratado sobre os escândalos.

2. Gênesis no espaço-tempo, de Francis Schaeffer, obra-prima de clareza, lucidez e piedade sobre um tema de vasto alcance apologético. Não consigo explicar a mim mesmo o motivo de não ter lido antes esse clássico.

3. Redenção nos campos do Senhor: as boas novas em Rute, do amigo pastor Emilio Garofalo. Baseado em suas pregações sobre o livro de Rute, foi bênção para mim, para minha esposa e para nossos gatos durante os momentos devocionais deste ano. Fez a Escritura cantar em nossos ouvidos.

4. O socratismo cristão e as origens da metafísica moderna, de Eduardo Prado de Mendonça. A leitura mais difícil do ano foi também uma das mais proveitosas. Explora aspectos e motivos amplamente ignorados da obra de Descartes, bem como seus antecedentes e efeitos na história posterior da filosofia. Fez-me pensar muito sobre as incompreensões da história da filosofia decorrentes da secularização e da especialização excessiva.

5. Despertando, de Oliver Sacks. Publicado em outras edições com o título Tempo de despertar, mesmo título do belíssimo filme que inspirou, dirigido por Penny Marshall estrelado por Robin Williams e Robert de Niro. Os relatos ao mesmo tempo técnicos e profundamente pessoais sobre os sobreviventes da doença do sono e sua reação a certos tratamentos experimentais revelam, tanto ou mais que em outras obras de Sacks, uma compreensão profunda das limitações das abordagens mecanicistas do corpo e de um ideal de medicina que enxerga e acolhe o paciente em sua integralidade.

6. A montanha mágica, de Thomas Mann. A obra mais conhecida (mas, para mim, não a melhor) desse grande escritor teve grande impacto sobre mim enquanto percorri, mais lentamente do que gostaria, suas quase mil páginas. Não consigo dizer mais que isso sem falar demais.

7. O discernimento, de Marko Ivan Rupnik. Em dois pequenos volumes, intitulados Em busca do gosto de Deus e Como permanecer com Cristo, esse teólogo católico esloveno me ensinou muito sobre o discernimento existencial e situacional da vontade de Deus, com indescritível impacto em escolhas que fiz desde então.

8. A máfia dos mendigos: como a caridade aumenta a miséria, do pastor Yago Martins. Além da satisfação pessoal de testemunhar o progresso intelectual e literário de um grande amigo, o livro é um soco no estômago e convida (quase obriga) a uma reflexão mais profunda e à reforma de nossas atitudes morais diante de um tema difícil. Publicado no meio secular, acessível e relevante para um vasto público, mas sem deixar de ser um livro autenticamente cristão.

9. Um experimento em crítica literária, de C. S. Lewis. É muito bom ver o velho mestre falando de sua especialidade acadêmica, com elegância, beleza, contundência, coragem e aqueles adoráveis argumentos longos.

10. Poemas anteriores, de Alberto da Cunha Melo. Belos e pungentes versos do poeta pernambucano, com riqueza existencial e atenção aos detalhes da vida.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Top Ten 2018 - Norma Braga

2018 foi o ano de redação da dissertação (faço mestrado em Teologia e Filosofia no CPAJ, curso presbiteriano semi-presencial no Mackenzie). Com as leituras para o curso já encerradas desde 2017, pude ser mais eclética no ano seguinte: além de teologia, entraram boa literatura, rock brasileiro e até consultoria de imagem.

Os filhos combativos de Machen, John Frame
A mulher que fugiu de Sodoma, José Geraldo Vieira
A divina comédia, Dante Alighieri
As cabeças trocadas, Thomas Mann
Guia politicamente incorreto dos anos 80 pelo rock, Lobão
As coisas da terra, Joe Rigney
Mulher, cristã e bem-sucedida, Carolyn McCulley
Gilead, Marilynne Robinson
O sol é para todos, Harper Lee
Shopping for the real you, Andrea Pflaumer

Em 2019, pretendo continuar estudando consultoria de imagem (meu novo xodó) e aprofundando-me em Frame, Van Til e Dooyeweerd, além de terminar dois livros que eu adoraria ter incluído na lista de 2018: A montanha mágica de Thomas Mann e Notas da xícara maluca de N. D. Wilson. E você?


Top ten 2018 - André Venâncio

Como de costume, as dez melhores leituras do ano, na ordem em que as fiz, com breves comentários e agradecimentos a quem me ajudou a chegar a essas obras.

1. O reacionário: memórias e confissões, de Nelson Rodrigues (Rio de Janeiro: Agir, 2008). Cento e trinta crônicas, muitas delas geniais, para rir e chorar sobre a cultura brasileira.

2. Crer e destruir: os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista, de Christian Ingrao (Rio de Janeiro: Zahar, 2015). Presente da Norma. Obra histórica de alto valor acadêmico, mas foi também o livro que me mostrou, mais que qualquer outro, que os nazistas eram seres humanos normais, e que isso é péssimo para todos nós.

3. O olhar da mente, de Oliver Sacks (São Paulo: Companhia das Letras, 2010). Coletânea literariamente magistral do meu neurologista preferido, com relatos e reflexões muito instigantes sobre o funcionamento (e o não-funcionamento) da visão humana.

4. Gilead, de Marilynne Robinson (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005). Recomendado pelos meus amigos Emilio Garofalo Neto, Filipe Schulz e Leonardo Galdino. Ficção protagonizada por um pastor idoso do Meio-Oeste americano, lição pungente sobre a a persistência da graça de Deus na vida dos que o servem.

5. A mente imprudente: os intelectuais na atividade política, de Mark Lilla (Rio de Janeiro: Record, 2017). Presente da Norma. Análise impressionante de seis intelectuais (Heidegger, Schmitt, Benjamin, Foucault, Kojève e Derrida) que o autor respeita e admira, mas critica de modo deveras competente e sensível pela insensatez política.

6. Mundo islâmico, de Ernst J. Grube, quinto volume da série O mundo da arte: enciclopédia das artes plásticas em todos os tempos (Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1979). Com textos de competência acadêmica impecável e abundantemente ilustrada, tem ainda o mérito de não se restringir ao mundo árabe, e contribui para desfazer muitas compreensões equivocadas sobre as artes e civilizações islâmicas.

7. Ocidente sem utopias, de Massimo Cacciari e Paolo Prodi (Veneza: Ayiné, 2017). Recomendado e emprestado pelo amigo Aluizio Neto. Obra de história das ideias, articulada em torno dos conceitos de "utopia" e "profecia", com muitas percepções profundas sobre a relação entre os poderes religioso e político ao longo dos séculos.

8. Notas da xícara maluca, de N. D. Wilson (Brasília: Monergismo, 2017). Presente da editora, através da amiga Ana Paula. Mais que uma apologética literária, é toda uma visão da vida cristã e a coisa mais parecida que já vi com uma imaginação completamente redimida, cuja leitura tornou minha inteligência mais aberta para este mundo de Deus.

9. Comentário literal ao Gênesis, de Agostinho de Hipona, editado com outros comentários do mesmo autor em Comentário ao Gênesis (São Paulo: Paulus, 2005). Recomendado e emprestado pelo amigo Diego Gonçalo. Esse clássico da maturidade do grande bispo me ensinou muito, não apesar da cota normal de esquisitices patrísticas, mas por causa dela, bem como da distância cultural e científica e, sobretudo, da inteligência do autor, fecundada pela maturidade, pela humildade e pelo amor a Deus.

10. As coisas da terra: estimar a Deus ao desfrutar de suas obras, de Joe Rigney (Brasília: Monergismo, 2017). Presente da editora, através da amiga Ana Paula. O melhor tratamento teológico que já vi sobre os perigos do ascetismo ainda tão presente na cultura evangélica e sobre o papel do mundo criado e da gratidão por ele na vida cristã.