No capítulo 11, intitulado Lula, a nação como família, há comentários bastante interessantes sobre a mentalidade política do ex-presidente, especialmente no artigo A ética de Lula e a nossa. Magnoli resume bem essa visão nas seguintes palavras:
"Lula encarna a tradição do patronato político brasileiro. Vezes sem conta, o presidente definiu a nação pela metáfora da família, na qual ele desempenha o papel de pai provedor, governando com o coração e zelando por todos os filhos, sobretudo os mais fracos. Governar é distribuir privilégios seletivamente: eis o conceito arcaico que sempre emanou do pensamento do Lula-presidente."
Entretanto, Magnoli não nota a profunda semelhança entre a visão que Lula faz de si mesmo e a que a esquerda em geral faz da própria função do Estado. O princípio é o mesmo, embora, sem dúvida, a incultura do ex-presidente o tenha levado a expressá-lo de maneira bastante óbvia e grotesca. Mas Magnoli não percebe isso, e faz uso de vários argumentos, desde pormenores econômicos até bravatas de campanha eleitoral, para provar que o governo Lula não foi de esquerda, que existe um vácuo ideológico no PT, que do socialismo petista só restam "o nome, os símbolos e a memória histórica". O autor chega mesmo a dizer que FHC conseguiu a "conversão ideológica do adversário", como se o próprio FHC não fosse um esquerdista, em primeiro lugar. E acha também que as visões de mundo do PT e do MST são antagônicas.
Magnoli não sabe distinguir entre lentidão revolucionária imposta pelas circunstâncias, concessões puramente estratégicas, e "valores" ideológicos verdadeiros, que resultam em ações concretas rumo a um alvo preestabelecido. As atitudes verdadeiramente comunistas do PT se manifestam de muitas formas, desde as alianças e lealdades internacionais (oficiais ou não, do governo ou do partido) até o auxílio ao próprio MST, que tem se manifestado até nos livros escolares do MEC. O geógrafo não percebe a magnitude do triunfo da ideologia esquerdista no cenário político brasileiro, e é por isso mesmo que lhe falta o senso das proporções quando se trata de classificar ideologicamente as ações de um partido.
No entanto, no que diz respeito ao MST, algumas de suas percepções são interessantes e me parecem corretas. Magnoli chega a constatar que a reforma agrária pretendida pelo MST não tem nada a ver com terras improdutivas ou pobreza dos camponeses: "não é uma política social compensatória, mas a bandeira de uma revolução". Contudo, ele vê nisso um conflito de interesses entre MST e PT que é, na melhor das hipóteses, insignificante. Pois, se o PT não está interessado em fazer uma reforma agrária verdadeira (se é que isso existe), isso não quer dizer que não haja interesses ainda mais importantes em comum.
"Lula encarna a tradição do patronato político brasileiro. Vezes sem conta, o presidente definiu a nação pela metáfora da família, na qual ele desempenha o papel de pai provedor, governando com o coração e zelando por todos os filhos, sobretudo os mais fracos. Governar é distribuir privilégios seletivamente: eis o conceito arcaico que sempre emanou do pensamento do Lula-presidente."
Entretanto, Magnoli não nota a profunda semelhança entre a visão que Lula faz de si mesmo e a que a esquerda em geral faz da própria função do Estado. O princípio é o mesmo, embora, sem dúvida, a incultura do ex-presidente o tenha levado a expressá-lo de maneira bastante óbvia e grotesca. Mas Magnoli não percebe isso, e faz uso de vários argumentos, desde pormenores econômicos até bravatas de campanha eleitoral, para provar que o governo Lula não foi de esquerda, que existe um vácuo ideológico no PT, que do socialismo petista só restam "o nome, os símbolos e a memória histórica". O autor chega mesmo a dizer que FHC conseguiu a "conversão ideológica do adversário", como se o próprio FHC não fosse um esquerdista, em primeiro lugar. E acha também que as visões de mundo do PT e do MST são antagônicas.
Magnoli não sabe distinguir entre lentidão revolucionária imposta pelas circunstâncias, concessões puramente estratégicas, e "valores" ideológicos verdadeiros, que resultam em ações concretas rumo a um alvo preestabelecido. As atitudes verdadeiramente comunistas do PT se manifestam de muitas formas, desde as alianças e lealdades internacionais (oficiais ou não, do governo ou do partido) até o auxílio ao próprio MST, que tem se manifestado até nos livros escolares do MEC. O geógrafo não percebe a magnitude do triunfo da ideologia esquerdista no cenário político brasileiro, e é por isso mesmo que lhe falta o senso das proporções quando se trata de classificar ideologicamente as ações de um partido.
No entanto, no que diz respeito ao MST, algumas de suas percepções são interessantes e me parecem corretas. Magnoli chega a constatar que a reforma agrária pretendida pelo MST não tem nada a ver com terras improdutivas ou pobreza dos camponeses: "não é uma política social compensatória, mas a bandeira de uma revolução". Contudo, ele vê nisso um conflito de interesses entre MST e PT que é, na melhor das hipóteses, insignificante. Pois, se o PT não está interessado em fazer uma reforma agrária verdadeira (se é que isso existe), isso não quer dizer que não haja interesses ainda mais importantes em comum.
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