Depois de ter passado por mais de cem interessantes páginas de exposição das concepções literárias de Meschonnic e de como elas se refletem em seus próprios poemas, além de comparações com as ideias de diversos outros autores (como Charles Baudelaire, Walter Benjamin, Martin Buber, John Ellis e René Girard), cheguei, enfim, à conclusão, que introduz no trabalho uma guinada surpreendente e, em minha opinião, mais interessante ainda. A Norma apresenta o assunto de modo muito pessoal, confessando que o esforço de pesquisa gerou nela duas "perplexidades".
A primeira delas converte-se numa crítica ao mundo acadêmico das letras pelo predomínio, em seu meio, de uma defesa exacerbada do subjetivismo e do relativismo, como se a verdade fosse uma limitação à arte. Esse é um dos dualismos desnecessários e nocivos que Meschonnic, a despeito de suas posições algo pós-modernas, procura combater. Tais considerações reforçam minha convicção de que cada ramificação do mundo intelectual institucionalizado possui suas tentações características: a dos literatos parece ser a de não dar valor a nada que não seja ficção, assim como a dos físicos é a de só dar valor ao que é passível de experimentação e quantificação.
A segunda perplexidade, por sua vez, diz respeito ao desejo de compreender a natureza da relação entre nossa sede pela transcendência e o valor que atribuímos à arte. Diz a Norma: "a ênfase de Meschonnic no desconhecido inerente ao poema, e em seu poder transformador centrado na abertura do sentido, parece evocar algo como uma função mística, quase religiosa, para o poema". Sobre isso, meu desejo por compreensão é tão intenso quanto o da Norma. Parece-me que o mundo secular moderno encontra na liberdade da arte um sentido pseudorreligioso que traz certa compensação pela falta de uma religião autêntica. Talvez seja só mais uma manifestação da tendência quase universal da religião do homem decaído para um misticismo irracionalista.
Aproveitando que a autora da tese é também co-autora e leitora deste blog, além de minha noiva, quero aproveitar para parabenizá-la pelo trabalho e dizer que sua leitura me foi muito agradável e proveitosa. :-)
A primeira delas converte-se numa crítica ao mundo acadêmico das letras pelo predomínio, em seu meio, de uma defesa exacerbada do subjetivismo e do relativismo, como se a verdade fosse uma limitação à arte. Esse é um dos dualismos desnecessários e nocivos que Meschonnic, a despeito de suas posições algo pós-modernas, procura combater. Tais considerações reforçam minha convicção de que cada ramificação do mundo intelectual institucionalizado possui suas tentações características: a dos literatos parece ser a de não dar valor a nada que não seja ficção, assim como a dos físicos é a de só dar valor ao que é passível de experimentação e quantificação.
A segunda perplexidade, por sua vez, diz respeito ao desejo de compreender a natureza da relação entre nossa sede pela transcendência e o valor que atribuímos à arte. Diz a Norma: "a ênfase de Meschonnic no desconhecido inerente ao poema, e em seu poder transformador centrado na abertura do sentido, parece evocar algo como uma função mística, quase religiosa, para o poema". Sobre isso, meu desejo por compreensão é tão intenso quanto o da Norma. Parece-me que o mundo secular moderno encontra na liberdade da arte um sentido pseudorreligioso que traz certa compensação pela falta de uma religião autêntica. Talvez seja só mais uma manifestação da tendência quase universal da religião do homem decaído para um misticismo irracionalista.
Aproveitando que a autora da tese é também co-autora e leitora deste blog, além de minha noiva, quero aproveitar para parabenizá-la pelo trabalho e dizer que sua leitura me foi muito agradável e proveitosa. :-)
Obrigada, meu querido! Suas observações demonstram o leitor arguto que você é. Quando alguém quiser saber do que trata minha tese, mandarei ler seus posts aqui!
ResponderExcluirGrande beijo!