A apresentação, em quatro páginas, é de Fernando Henrique Cardoso. Por si mesmo, esse fato deixa entrever a tendência predominante da obra, que é a de um esquerdismo light. Alguns elementos chamaram minha atenção nos comentários do ex-presidente:
1. FHC afirma, referindo-se ao autor, que "seu estilo é ferino e sua linguagem, vez ou outra, pode soar abusada". Minha impressão foi o oposto exato disso. Mesmo quando faz as acusações mais graves - muitas vezes falsas, caluniosas e até absurdas -, Magnoli é a polidez em pessoa. Nosso ex-presidente parece possuir aquela mesma sensibilidade exacerbada às superficialidades que tomou conta da cultura brasileira.
2. Estranhamente, FHC atribui a Francis Fukuyama a tese de que "o fim do socialismo e da Guerra Fria [...] significou o fim da história". Não há dúvida de que isso é o que todo mundo diz. Mas eu confesso que esperava mais de nosso ex-presidente. Deixo aqui a breve advertência feita, a partir desse mesmo assunto, por Jean-François Revel em seu livro A obsessão antiamericana:
"Essa mundialização liberal, que triunfaria de forma clamorosa a partir de 1990, depois da desintegração dos comunismos, é o que Francis Fukuyama denominaria, no momento daquele colapso, 'o fim da história', expressão que quem reprovou não entendeu bem, pois muita gente acha, por desgraça, que leu um livro por ter lido seu título. Fukuyama não quer dizer que a história terminou, coisa absurda, e sim que a experiência refutou a concepção hegeliana e marxista da história, imaginada como um processo dialético que deve necessariamente acabar em um modelo final ao qual, supostamente, tendia a humanidade, sem saber disso e independentemente de sua ação, desde a origem dos tempos."
O mais curioso é que o próprio FHC menciona com desaprovação a concepção hegeliana e marxista da história, essa mesma que Fukuyama combateu. Dessa forma, fica sem sentido sua reprimenda a Fukuyama. Será que FHC não leu o livro?
3. FHC evidentemente endossa boa parte do conteúdo do livro. Dou destaque à apreensão quanto ao "preocupante ressurgimento do fundamentalismo de fundo religioso - o qual não é exclusivo do mundo muçulmano, senão que está presente também nas sociedades moldadas dentro da tradição judaico-cristã". Mas do que está ele falando? É necessário ler o livro para saber, mas já adianto: ele se refere a George W. Bush e aos conservadores americanos.
4. FHC diz que o ideário republicano foi "forjado na Revolução Francesa", como se os Estados Unidos já não tivessem uma república desde mais de uma década antes. Mas a Revolução Francesa é, segundo o ex-presidente, "uma das fontes ainda férteis do pensamento democrático de esquerda". FHC situa Magnoli nessa tradição e, com base nisso, enche-o de elogios. Esse é só um indício a mais de como anda a "direita" brasileira. Aliás, o próprio Magnoli não parece ter se dado conta disso, já que se refere a Lula como o primeiro presidente de esquerda do Brasil. Ele parece achar, então, que FHC é de direita. Péssimo começo.
1. FHC afirma, referindo-se ao autor, que "seu estilo é ferino e sua linguagem, vez ou outra, pode soar abusada". Minha impressão foi o oposto exato disso. Mesmo quando faz as acusações mais graves - muitas vezes falsas, caluniosas e até absurdas -, Magnoli é a polidez em pessoa. Nosso ex-presidente parece possuir aquela mesma sensibilidade exacerbada às superficialidades que tomou conta da cultura brasileira.
2. Estranhamente, FHC atribui a Francis Fukuyama a tese de que "o fim do socialismo e da Guerra Fria [...] significou o fim da história". Não há dúvida de que isso é o que todo mundo diz. Mas eu confesso que esperava mais de nosso ex-presidente. Deixo aqui a breve advertência feita, a partir desse mesmo assunto, por Jean-François Revel em seu livro A obsessão antiamericana:
"Essa mundialização liberal, que triunfaria de forma clamorosa a partir de 1990, depois da desintegração dos comunismos, é o que Francis Fukuyama denominaria, no momento daquele colapso, 'o fim da história', expressão que quem reprovou não entendeu bem, pois muita gente acha, por desgraça, que leu um livro por ter lido seu título. Fukuyama não quer dizer que a história terminou, coisa absurda, e sim que a experiência refutou a concepção hegeliana e marxista da história, imaginada como um processo dialético que deve necessariamente acabar em um modelo final ao qual, supostamente, tendia a humanidade, sem saber disso e independentemente de sua ação, desde a origem dos tempos."
O mais curioso é que o próprio FHC menciona com desaprovação a concepção hegeliana e marxista da história, essa mesma que Fukuyama combateu. Dessa forma, fica sem sentido sua reprimenda a Fukuyama. Será que FHC não leu o livro?
3. FHC evidentemente endossa boa parte do conteúdo do livro. Dou destaque à apreensão quanto ao "preocupante ressurgimento do fundamentalismo de fundo religioso - o qual não é exclusivo do mundo muçulmano, senão que está presente também nas sociedades moldadas dentro da tradição judaico-cristã". Mas do que está ele falando? É necessário ler o livro para saber, mas já adianto: ele se refere a George W. Bush e aos conservadores americanos.
4. FHC diz que o ideário republicano foi "forjado na Revolução Francesa", como se os Estados Unidos já não tivessem uma república desde mais de uma década antes. Mas a Revolução Francesa é, segundo o ex-presidente, "uma das fontes ainda férteis do pensamento democrático de esquerda". FHC situa Magnoli nessa tradição e, com base nisso, enche-o de elogios. Esse é só um indício a mais de como anda a "direita" brasileira. Aliás, o próprio Magnoli não parece ter se dado conta disso, já que se refere a Lula como o primeiro presidente de esquerda do Brasil. Ele parece achar, então, que FHC é de direita. Péssimo começo.
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