sexta-feira, 9 de março de 2012

Levítico V

O episódio da morte dos sacerdotes Nadabe e Abiú diante do Senhor pouco depois de sua consagração, narrado em Levítico 10.1-7, traz uma porção de lições importantes, que se estendem por todo o capítulo. Tentarei resumir abaixo alguns aspectos levantados por Harrison em seu comentário.

1. Os dois sacerdotes puseram brasas em seus incensários, puseram incenso sobre as brasas e os apresentaram ao Senhor. Existem aí pelo menos três erros: primeiro, o fogo que eles apresentaram não foi retirado do altar do holocausto, que havia sido aceso pelo próprio Deus durante a cerimônia da consagração dos sacerdotes. A desobediência a esse preceito, que se encontra em 16.12, resultou na apresentação de "fogo estranho" perante o Senhor. Em segundo lugar, apenas o sumo-sacerdote tinha autorização para apresentar a Deus incenso num incensário de brasas, e mesmo ele só devia fazê-lo uma vez por ano, no dia da expiação; e nem Arão nem Moisés foram consultados quanto a essa súbita mudança nos procedimentos decretados por Deus. Trata-se, portanto, de um ato intencionalmente rebelde, usurpador e profanatório, e não de mero descuido.

2. Além de tudo isso, é provável que os dois estivessem bêbados, o que constitui transgressão adicional pela falta de reverência implicada nesse estado. É o que diz a tradição oral rabínica, e isso explica a proibição, feita no versículo 9, do consumo de bebidas inebriantes pelos sacerdotes antes de oficiar os rituais.

3. O final do capítulo mostra que a questão fundamental não é a mera obediência a regrinhas rituais supérfluas, e sim o espírito de obediência e sujeição ao Deus que impôs essas regrinhas. Arão e seus dois filhos restantes erraram em não seguir o ritual prescrito em 9.8-11. Não se sabe se não o fizeram por excessiva tristeza, por medo ou por terem ficado apenas desnorteados em decorrência da morte de Nadabe e Abiú. Seja como for, nao havia espírito de rebeldia, e por isso foram perdoados por Deus e por Moisés.

2 comentários:

  1. André, esse episódio sempre me causou grande estranheza, pois eu não conseguia enxergar culpa na ação dos sacerdotes. Por isso, valeu muito ler este texto explicativo, que eu achei de extrema importância.

    Ricardo

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  2. Caro Ricardo, achei que valia a pena escrever um pouco sobre isso justamente porque eu também tinha essa dúvida, ou compreensão incompleta, até ler as esclarecedoras explicações de Harrison. Fico feliz em ver que ele foi útil a você também.

    Abraços!

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