sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Nem Marx nem Jesus II

Aqui vai meu trecho preferido da resposta de Revel ao comentário de sua amiga Mary McCarthy, que contém tanto assentimentos quanto críticas às concepções defendidas no livro. O comentário e a resposta vieram numa edição posterior do livro, que foi publicado originalmente em 1970. Esse trecho, principalmente em sua parte final, vem ao encontro de minhas próprias impressões ainda inexpressas sobre o terror do esquerdismo diante da prosperidade material do mundo livre. Transcrevo parte do parágrafo precedente também (mas não apenas) para contextualizar melhor o que vem no final. O humor característico do autor também se manifesta aí com clareza.

"Quanto aos esquerdistas europeus (pelo menos aqueles que não desapareceram completamente) e aos esquerdistas franceses ou italianos em particular, seu drama é parecerem-se ainda demais com o partido comunista stalinista que combatem e que os combate. Seus ataques contra o meu livro foram a repetição de estereótipos marxistas de há vinte anos, pois os 'maoístas' franceses de hoje têm exatamente a mesma esclerose que os stalinistas de 1950. Ou então, como os estudantes japoneses, a juventude esquerdista divide-se em vinte ou trinta tendências trotskistas diferentes que, quanto mais trabalham para se destruir mutuamente, mais numerosas se tornam, parecendo dotadas da propriedade de se multiplicarem até ao infinito. Isso explica que, como a própria Mary McCarthy me disse, numerosos estudantes americanos da Nova Esquerda, vindos para a França atraídos pelo estrondo de maio de 68, voltem a partir desiludidos com a esterilidade e a falta de imaginação dos esquerdistas franceses. Peço desculpas por me repetir: a eficácia revolucionária consiste em provocar mudanças efetivas na realidade e não em procurar aí, em vão, a confirmação duma ortodoxia. É verdade que também se pode negar, pura e simplesmente, a existência dessas mudanças quando elas não confirmam a ortodoxia, ou então recusar todo e qualquer progresso sob o pretexto de que, não tendo 'abolido o capitalismo', os progressos constituem uma 'alienação'. Nove vezes em dez, o que se chama alienação é uma reivindicação satisfeita. O operário não tem meios para comprar alguma coisa? É explorado. Tem meios para a comprar? É um alienado. Está mal alojado? É uma vítima do capitalismo. Sua empresa aloja-o gratuitamente? É um 'recuperado pelo sistema'. Seguindo essa dialética marcusiana, a história do movimento operário constitui uma lenta descida aos infernos, já que cada vitória na luta de classes provoca uma escravidão suplementar. Qualquer melhoria na sorte da população operária é uma verdadeira catástrofe, pois ajuda-a a suportar essa sua sorte."

5 comentários:

  1. Olá,

    Vocês que "Tamos Lendo", já leram ou viram o Guia politicamente incorreto da história do Brasil? Estou super a fim de comprar, e quando comecei a ver a proposta do trabalho, lembrei de vocês dois (André e Norma). Abraços.

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  2. Que achado, Cristiano!

    O blog é um barato e o livro certamente é melhor ainda! Claro que vou comprar correndo.

    Abraços!

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  3. Olá, Cristiano!

    Parece interessante mesmo. Muito obrigado pela indicação. Quando eu ler, farei alguns comentários aqui.

    Abraços!

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  4. Pois é... encontrei na Liv. Cultura da Paulista, folheei, folheei, e vou comprar assim que pagar as futuras dívidas de outras 3 encomendas hehehehehe

    O autor, curitibano, é jornalista, tendo trabalhado na Veja e na Superinteressante. Lembrei de vocês especialmente no capítulo que trata da Coluna Prestes, João Goulart (que favorecia empreiteiras), e o movimento de esquerda (lutavam mesmo pela nossa liberdade?).

    Mais informações aqui no MSM.

    Abração.

    Até mais.

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  5. Hum... não aguentei, já comprei ontem, e já estou "pra lá" da página 100... :-)

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