segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A soberania banida VI

O quinto capítulo, intitulado A salvação como a escolha de Deus: tudo é pela graça, é excelente. A primeira parte trata do ensino de Spurgeon sobre a natureza da vontade depravada do homem não-regenerado. O trecho a seguir, extraído de seu célebre sermão Livre arbítrio, um escravo, resume a questão de maneira deveras interessante. Não posso deixar de lembrar disso toda vez que ouço alguém dizendo que o arminianismo não dá lugar ao orgulho no coração humano.

"É provável que você tenha ouvido muitos grandes sermões arminianos, mas você nunca ouviu uma oração arminiana, porque os santos em oração aparecem como sendo um em palavra, atos e mente. Um arminiano de joelhos ora desesperadamente da mesma maneira que um calvinista. [...] Imagine-o orando: 'Senhor, eu te agradeço porque não sou como os pobres e presunçosos calvinistas. Senhor, eu nasci com um glorioso livre arbítrio; nasci com um poder pelo qual posso me voltar para ti por mim mesmo; tenho melhorado minha graça. Se todos tivessem feito com sua graça o que faço com a minha, todos poderiam ter sido salvos. Senhor, eu sei que tu não nos tornas desejosos se não somos desejosos por nós mesmos. [...] Não foi tua graça que fez a diferença entre nós. [...] Eu fiz uso daquilo que me foi dado, e os outros não; essa é a diferença entre nós.'"

O restante do capítulo trata das origens do movimento arminiano, dos remonstrantes na Holanda e dos cinco pontos do calvinismo, tais como foram declarados em Dort. Wright se baseia em um trabalho de Frederic Platt para argumentar que o arminianismo foi o responsável por abrir espaço, no seio das igrejas reformadas, para o humanismo, o liberalismo, o racionalismo e o latitudinarismo. Embora, felizmente, um arminiano não precise necessariamente enveredar por esse caminho, parece-me que o autor está correto ao apontá-lo como responsável pela abertura de portas que deveriam ter permanecido bem trancadas. Em sua busca por consistência interna, o arminianismo posterior não apenas abriu mão da perseverança dos santos, que Armínio ainda sustentara, mas também abriu espaço para tendências teológicas ainda mais danosas.

Devo registrar, no entanto, que não acho justo culpar o arminianismo pela presença de todos esses males dentro da igreja, sobretudo no caso do racionalismo. Uma repulsa mal orientada pelo arminianismo pode levar a um curso não tão diferente. A tentação libertária do arminiano é a contraparte da tentação determinista do calvinista, e ambas são empréstimos indevidos de cosmovisões alheias às Escrituras. Mas já falei sobre isso nos posts anteriores, e não vou repetir tudo aqui.

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