"Homens dos quais o mundo não era digno..." (Hebreus 11.38)
O capítulo 11 recebeu de Calvino um comentário mais extenso que qualquer outro dessa epístola. E esse capítulo dos comentários parece-me o melhor de todos. Tanto que não resisto à tentação de transcrever abaixo mais um belo trecho, destinado a nos fortalecer, consolar e animar em meio à dura jornada por este mundo. Essa tentação se torna ainda mais irresistível pelo fato de que o trecho bíblico comentado é um em que sempre discerni uma beleza particularmente pungente. Com isso, encerro meus posts sobre essa magnífica obra.
"Visto que os santos profetas vagaram errantes entre bestas selvagens, poderia parecer que eram indignos de receber o sustento da terra. Como é possível que não tenham encontrado um lugar entre os homens? O apóstolo inverte essa posição e diz que o mundo é que não era digno deles. Pois aonde quer que os servos de Deus vão, levam consigo sua bênção como fragrância de odorífero incenso. Foi assim que a casa de Potifar recebeu a bênção divina por causa de José, e Sodoma teria sido salva caso se encontrassem nela dez justos. Ainda que o mundo rejeite os servos de Deus como se fossem lixo, o fato de não poder aturá-los deve ser levado em conta como seu castigo, porquanto, juntamente com eles, acompanha alguma bênção divina. Sempre que os justos são afastados de nosso meio, tomemos tal fato como um mau presságio contra nós, visto que somos considerados indignos de sua companhia, para que não pereçam juntamente conosco.
Ao mesmo tempo, os justos têm amplas razões para consolar-se, ainda que o mundo os rejeite, ao perceberem que o mesmo aconteceu aos profetas, os quais encontraram mais mercê entre as bestas selvagens que entre os próprios seres humanos. Foi com esse pensamento que Hilário se reconfortou ao ver a Igreja ocupada por tiranos com mãos sujas de sangue, os quais se utilizaram do imperador romano como verdugo. Naquele tempo, reafirmo eu, aquele santo homem lembrou-se do que disse o apóstolo aqui sobre os profetas. 'Montes e bosques', disse ele, 'calabouços e prisões são para mim mais seguros que o esplendor dos maiores templos, pois quando os profetas os habitavam, ou eram neles sepultados, ainda profetizavam pelo Espírito de Deus'. Devemos, pois, encher-nos de coragem para menosprezarmos o mundo com bravura; e, se ele nos rejeita, saibamos que o nosso sucesso vem de um fatal dilúvio, e que Deus toma cuidado de nossa salvação para que não chafurdemos nessa mesma destruição."
O capítulo 11 recebeu de Calvino um comentário mais extenso que qualquer outro dessa epístola. E esse capítulo dos comentários parece-me o melhor de todos. Tanto que não resisto à tentação de transcrever abaixo mais um belo trecho, destinado a nos fortalecer, consolar e animar em meio à dura jornada por este mundo. Essa tentação se torna ainda mais irresistível pelo fato de que o trecho bíblico comentado é um em que sempre discerni uma beleza particularmente pungente. Com isso, encerro meus posts sobre essa magnífica obra.
"Visto que os santos profetas vagaram errantes entre bestas selvagens, poderia parecer que eram indignos de receber o sustento da terra. Como é possível que não tenham encontrado um lugar entre os homens? O apóstolo inverte essa posição e diz que o mundo é que não era digno deles. Pois aonde quer que os servos de Deus vão, levam consigo sua bênção como fragrância de odorífero incenso. Foi assim que a casa de Potifar recebeu a bênção divina por causa de José, e Sodoma teria sido salva caso se encontrassem nela dez justos. Ainda que o mundo rejeite os servos de Deus como se fossem lixo, o fato de não poder aturá-los deve ser levado em conta como seu castigo, porquanto, juntamente com eles, acompanha alguma bênção divina. Sempre que os justos são afastados de nosso meio, tomemos tal fato como um mau presságio contra nós, visto que somos considerados indignos de sua companhia, para que não pereçam juntamente conosco.
Ao mesmo tempo, os justos têm amplas razões para consolar-se, ainda que o mundo os rejeite, ao perceberem que o mesmo aconteceu aos profetas, os quais encontraram mais mercê entre as bestas selvagens que entre os próprios seres humanos. Foi com esse pensamento que Hilário se reconfortou ao ver a Igreja ocupada por tiranos com mãos sujas de sangue, os quais se utilizaram do imperador romano como verdugo. Naquele tempo, reafirmo eu, aquele santo homem lembrou-se do que disse o apóstolo aqui sobre os profetas. 'Montes e bosques', disse ele, 'calabouços e prisões são para mim mais seguros que o esplendor dos maiores templos, pois quando os profetas os habitavam, ou eram neles sepultados, ainda profetizavam pelo Espírito de Deus'. Devemos, pois, encher-nos de coragem para menosprezarmos o mundo com bravura; e, se ele nos rejeita, saibamos que o nosso sucesso vem de um fatal dilúvio, e que Deus toma cuidado de nossa salvação para que não chafurdemos nessa mesma destruição."
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