quinta-feira, 8 de abril de 2010

Nem Marx nem Jesus VIII

Um parágrafo do capítulo A revolução não será no terceiro mundo resume muito bem as razões pelas quais Revel não crê que virá de nós a reformulação do mundo com a qual ele sonha. Seus quatro argumentos levam à conclusão expressa numa única frase no parágrafo anterior: "a lei cruel do subdesenvolvimento impõe que suas revoluções também sejam subdesenvolvidas". É claro que não endosso integralmente as posições do autor sobre o que é ou não desenvolvimento. Mas o que mais me impressiona no trecho abaixo é a acurácia com que Revel descreveu o caráter das revoluções latino-americanas de quase quarenta anos depois. Além disso, o final do trecho traz um interessante testemunho do conservadorismo essencial dos pobres cujos interesses os socialistas afirmam defender.

"Primeiro, uma revolução nos países do terceiro mundo leva como pressuposto que haja um remédio pronto para o subdesenvolvimento econômico, de fabricação própria. Ora, mesmo os países cujos recursos o possibilitassem, não o conseguiriam, em virtude de uma deficiência administrativa e de uma carência de pessoal técnico e gerencial. Além disso, sem tradição democrática, os países do terceiro mundo são, em sua maioria, governados autoritariamente, o que acarreta a sequência inevitável: incompetência - ditadura - corrupção - golpe de Estado - expurgo - ditadura recrudescida - incompetência acentuada - aumento do subdesenvolvimento. Em terceiro lugar, os países do terceiro mundo, quase todos mergulhados culturalmente no passado e tomados da obsessão de redescobrir as próprias raízes, tendem a afundar-se nele cada vez mais e calçar, no máximo possível, o freio que se opõe a qualquer progresso: religião islâmica, organização tribal na África negra, sistema de castas na Índia, etc.. A freagem cultural aumenta acentuadamente a dificuldade de se lutar contra o excesso de natalidade, ficando os índices de crescimento demográfico acima dos de crescimento econômico. Quarto ponto: o nacionalismo tira-lhes o espírito crítico e leva-os a atribuir seus atrasos a conspirações. Qualquer guerra de libertação ou de resistência centuplica, com razão, o nacionalismo; uma vez conquistada a independência, porém, esse nacionalismo leva à xenofobia e ao racismo, transforma-se numa barreira contra o desenvolvimento e acaba eventualmente por oferecer compensações militares pelos fracassos econômicos, o que vem agravá-los. Nesses países, aliás, um chefe revolucionário tem pela frente uma manobra delicada, pois tem de apelar para o nacionalismo e despertar os costumes tradicionais para sacudir as massas. O Diário de Che Guevara na Bolívia ressalta o quanto as massas campesinas nas zonas de analfabetismo e miséria são indiferentes a palavras de ordem puramente políticas e sociais. Erigir depois, porém, o nacionalismo em revolução autêntica é façanha só raramente alcançada até hoje e, de qualquer forma, jamais de maneira duradoura. Infelizmente, não basta batizar de socialismo esse nacionalismo para torná-lo construtivo."

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