sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nem Marx nem Jesus IX

No capítulo Da primeira à segunda revolução mundial, de apenas quatro páginas, Revel diz três coisas interessantes. A primeira é uma percepção muito correta do erro dos que consideram o totalitarismo soviético como uma deturpação do comunismo primevo que, segundo um velho mito comunista, viveu certa vez no Jardim do Éden, antes da Queda:

"É erro imaginar que o stalinismo foi uma traição ao leninismo. Nem Lênin, se tivesse vivido, nem Trotsky, se tivesse se mantido no poder, teriam agido diferentemente de Stálin: todos os seus textos, todos os seus atos, todos os seus discursos, de 1917 a 1924, constituem a prática e a teoria de uma ditadura completamente stalinista. Eles começaram, aliás, com a dissolução da Assembleia Constituinte, em janeiro de 1918, com o auxílio do exército, a qual nascera de eleições que haviam dado aos bolcheviques apenas um quarto dos votos expressos. A partir desse momento, como Rosa Luxemburgo analisou muito bem em La Révolution Russe (1918), Lênin e Trostky partem do princípio de que são melhores intérpretes do pensamento do povo que o próprio povo. Só o Partido é capaz de 'agrupar, educar e organizar a vanguarda do proletariado e de todas as massas trabalhadoras, vanguarda que é a única a estar em condições de se opor às inevitáveis tergiversações pequeno-burguesas' (Lênin, O Décimo Congresso do Partido, março de 1921); tanto assim que o Partido 'é obrigado a manter sua ditadura, sem levar em consideração oscilações provisórias ou mesmo hesitações momentâneas da classe operária' (Trotsky, ibidem)."

A segunda coisa interessante é que Revel enfim declara que a única revolução que pode servir de modelo, ainda que apenas parcial, para a revolução que ele deseja para o presente é "o complexo de metamorfoses políticas sobrevindas no decorrer da segunda metade do século XVIII na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França".

E a terceira coisa é que Revel advoga como meta primária da revolução presente a instalação de um governo mundial, e termina o capítulo dizendo que "tudo o mais, inclusive a igualdade econômica e o fim das classes sociais, passa por aí". Sua argumentação sobre isso, porém, é desenvolvida no capítulo seguinte, e a comentarei no próximo post.

Nenhum comentário:

Postar um comentário