Tive a felicidade e a bênção de nascer em um lar cristão e crescer no seio da Igreja. Mas nem por isso tive desde cedo a consciência da operação da graça divina em mim. Durante toda a infância me considerei um pecador não alcançado pela justificação. Pensar no inferno me enchia de medo; não o medo derivado da imaginação, como o que acomete crianças que viram um filme de terror, mas um medo real devido à consciência do pecado. Eu estava convicto de que, se nada mudasse, eu iria para o inferno, e tal destino seria justo.
Fiz minha profissão de fé aos doze anos, mas isso só piorou as coisas. Por um lado, eu não tinha motivo para me esquivar dessa atitude, pois de fato cria em tudo aquilo que me fora ensinado sobre Deus e a doutrina cristã. Apenas não cria que isso me dissesse respeito. Eu não me sentia incluído de fato na família dos redimidos, na Igreja invisível, e isso me trazia sofrimento e pesar. Eu queria entrar, mas não sabia como conseguir isso. A multidão de meus pecados não diminuía. E eu lera na Bíblia algo sobre o perigo de participar indignamente do corpo e do sangue do Senhor. Minha indignidade estava acima de qualquer dúvida, de modo que eu cria apenas agravar a situação a cada Santa Ceia.
A certeza da salvação me veio, afinal, quando eu tinha dezesseis anos, depois que, através de uma porção de experiências, Deus me levou a compreender (com o coração, e não só com o intelecto) que a resolução do problema não estava ao meu alcance, e que a mim só cabia repousar em sua misericórdia. Meus temores quanto à participação na Ceia não eram bíblicos, afinal, e sim mero resquício de uma perversa esperança de salvação pelas obras: eu queria santificar a mim mesmo primeiro, para só então me achegar à mesa do Senhor, ao invés de me apropriar das bênçãos espirituais nela oferecidas gratuitamente em meu auxílio. É por isso que a resposta à pergunta 172 do Catecismo maior de Westminster é a que considero pessoalmente mais significativa. É uma pena que eu não a tenha lido na época em que poderia me ter sido mais útil.
Pergunta 172. Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada, deverá ir à Ceia do Senhor?
Resposta: Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada para participar da Ceia do Senhor, pode ter um verdadeiro interesse em Cristo, embora não tenha ainda a certeza disso; mas aos olhos de Deus o tem, se está devidamente tocada pelo receio da falta desse interesse e sem fingimento deseja ser achada em Cristo e apartar-se da iniquidade. Nesse caso, desde que as promessas são feitas, e este sacramento é ordenado para o alívio até dos cristãos fracos e que estão em dúvida, deve lamentar a sua incredulidade e esforçar-se para ter suas dúvidas dissipadas; e, assim fazendo, pode e deve ir à Ceia do Senhor para ficar mais fortalecida.
Fiz minha profissão de fé aos doze anos, mas isso só piorou as coisas. Por um lado, eu não tinha motivo para me esquivar dessa atitude, pois de fato cria em tudo aquilo que me fora ensinado sobre Deus e a doutrina cristã. Apenas não cria que isso me dissesse respeito. Eu não me sentia incluído de fato na família dos redimidos, na Igreja invisível, e isso me trazia sofrimento e pesar. Eu queria entrar, mas não sabia como conseguir isso. A multidão de meus pecados não diminuía. E eu lera na Bíblia algo sobre o perigo de participar indignamente do corpo e do sangue do Senhor. Minha indignidade estava acima de qualquer dúvida, de modo que eu cria apenas agravar a situação a cada Santa Ceia.
A certeza da salvação me veio, afinal, quando eu tinha dezesseis anos, depois que, através de uma porção de experiências, Deus me levou a compreender (com o coração, e não só com o intelecto) que a resolução do problema não estava ao meu alcance, e que a mim só cabia repousar em sua misericórdia. Meus temores quanto à participação na Ceia não eram bíblicos, afinal, e sim mero resquício de uma perversa esperança de salvação pelas obras: eu queria santificar a mim mesmo primeiro, para só então me achegar à mesa do Senhor, ao invés de me apropriar das bênçãos espirituais nela oferecidas gratuitamente em meu auxílio. É por isso que a resposta à pergunta 172 do Catecismo maior de Westminster é a que considero pessoalmente mais significativa. É uma pena que eu não a tenha lido na época em que poderia me ter sido mais útil.
Pergunta 172. Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada, deverá ir à Ceia do Senhor?
Resposta: Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada para participar da Ceia do Senhor, pode ter um verdadeiro interesse em Cristo, embora não tenha ainda a certeza disso; mas aos olhos de Deus o tem, se está devidamente tocada pelo receio da falta desse interesse e sem fingimento deseja ser achada em Cristo e apartar-se da iniquidade. Nesse caso, desde que as promessas são feitas, e este sacramento é ordenado para o alívio até dos cristãos fracos e que estão em dúvida, deve lamentar a sua incredulidade e esforçar-se para ter suas dúvidas dissipadas; e, assim fazendo, pode e deve ir à Ceia do Senhor para ficar mais fortalecida.
Olá, meu caro André.
ResponderExcluirA julgar por parte do seu comentário na postagem anterior e por esta postagem, partimos de posições bem diferentes em nossa jornada cristã.
Pois veja só, por muito tempo considerei-me autojustificado! Aquela velha besteira de "nunca matei, nunca roubei"... Deus me levou a um ponto em que toda autojustificação tivesse que ser destruída. Mesmo assim eu não o busquei. Por isso dou graças todos os dias por como Deus tratou comigo. Ao mesmo tempo que percebi minha miséria, imediatamente percebi também que foi Ele quem me chamou e que apenas nEle e por Ele poderia me salvar de mim mesmo.
E isto sempre me impressiona ao conversar com os santos. Pois cada um tem uma história e Deus trata com cada de forma muito particular!
No amor do Senhor,
Roberto
É tão evidente com que carinho e atenção o autor do Catecismo responde a essa pergunta! Fico emocionada quando a leio. E depois os "moderninhos" na igreja ficam falando mal dos catecismos... Leiam! Há tesouros ali!
ResponderExcluirEu também nasci em um lar cristão e igualmente fiz a minha profissão de fé aos 12 anos (realmente uma coincidência). Mas a partir daí as coisas se desencaminharam. Me afastei da igreja, e mais do que isso, me afastei dos caminhos do Senhor.
ResponderExcluirUma coisa porém é inexplicável: a despeito de trilhar outros caminhos, algo em mim bradava pelo retorno à adoração. O invisível me sondava. O temor se aprofundava no meu coração.
Hoje tenho plena consciência de que era Ele quem me chamava, uma vez que a Sua centelha jamais se apagou.
A conclusão é que, embora momentaneamente perdido , a justificação em Cristo já houvera me alcançado. Não obstante a dúvida que havia, Ele, de alguma forma, aquecia o meu coração, não o deixando completamente frio e endurecido.
Em Cristo.
Caro Roberto,
ResponderExcluircompartilho plenamente de seus sentimentos quanto às histórias dos outros santos. Tanto a diversidade quanto a semelhança são coisas maravilhosas. Narrativas sobre como Deus trouxe alguém a si são coisas que nunca me arrependi de ter parado para escutar.
Querida Norma,
também sinto isso com muita intensidade. Os puritanos ingleses parecem ter herdado de Calvino essa excelente característica. E de fato, todos os moderninhos juntos não fizeram por mim algo comparável ao que fizeram as velhas confissões e catecismos.
Prezado Ricardo,
sua história é mais uma a entrar para o maravilhoso rol da unidade na diversidade. Graças a Deus por ter trazido você de volta aos pés de Cristo!
Abraços a todos, e obrigado pelos comentários!
Me pergunto porque nossas Igrejas não ensinam exaustiva e detalhadamente os Catecismos...acho que não dá muito IBOP! Mas como disse a Norma, são tesouros preciosos que livrariam a Igreja de tantos erros... As pessoas morrendo de fome, e o banquete bem ali, ao seu alcance... Parabéns pelo novo blog, muito legal!
ResponderExcluirObrigada, querida Simone!
ResponderExcluirE o pior é que muitos pastores substituem esses tesouros por puro subjetivismo... Leem a Bíblia e, sem comentário nenhum, leitura adicional nenhuma, pregam... Isso é triste demais!
Que bom que você gostou do blog!
Mil beijos!
Eu concordo plenamente, Simone! Espero que meu relato neste post sirva de incentivo aos pastores e professores que eventualmente passarem por aqui.
ResponderExcluirAbraços, e apareça mais vezes!