Depois de passar pelo capítulo 39, que é o mais longo e chato do livro todo (para mim, ao menos; um matemático poderia achá-lo interessantíssimo), fui recompensado pelo capítulo 40, que traz importantes notas históricas e biográficas sobre certos pesquisadores dos mais diversos objetos - da matemática pura às enchentes do Nilo - cujos estudos contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento da teoria dos fractais. Para compor esse capítulo, Mandelbrot escolheu propositalmente indivíduos que, por razões diversas, não foram bem aceitos pela comunidade acadêmica de sua época e permaneceram marginalizados, a despeito de possuírem algumas ideias notáveis ou mesmo geniais.
O caso mais impressionante é o do matemático francês Louis Bachelier (1870-1946), que, sem dar muita atenção às publicações acadêmicas disponíveis em sua época, deu contribuições muito originais à teoria das probabilidades, aplicáveis a campos tão diversos quanto a economia e a física. Aliás, ele desenvolveu o aparato matemático necessário à elucidação do movimento browniano em sua tese de doutorado, defendida em 1900, cinco anos antes que Einstein publicasse seu famoso artigo contendo a explicação do fenômeno. A despeito disso e de outros fatos notáveis, a banca examinadora, que incluía o célebre Henri Poincaré, não se impressionou com seu trabalho e aprovou-o com uma nota baixa. E, apesar de sua enorme produtividade como pesquisador, Bachelier passou boa parte da vida tentando obter o cargo de professor em alguma universidade, até consegui-lo, enfim, na pequena Universidade de Besançon (espero que o Ewan leia isto). Mandelbrot dá valor a excêntricos desse tipo, naturalmente, já que ele próprio foi marginalizado durante décadas. Ele resume nas seguintes palavras o problema fundamental vivido por seu predecessor:
"A tragédia de Bachelier foi a de ser um homem do passado e do futuro, mas não de seu presente. [...] Infelizmente, nenhuma comunidade científica organizada de seu tempo estava em condições de compreendê-lo e recebê-lo bem. Ganhar aceitação para suas ideias requeria supremas habilidades políticas, que ele evidentemente não possuía."
Tudo isso serve muito bem para denunciar um erro que vem atraindo cada vez mais a minha atenção: o de conceder demasiada importância às opiniões da "comunidade científica". Conheço gente que acredita prontamente em qualquer afirmação que venha precedida pelas palavras "Os cientistas descobriram que...". E isso sobre qualquer assunto, desde teologia até dietas. Eu, que há anos desisti de aceitar a autoridade da academia sobre os temas mais importantes da vida, estou agora aprendendo a desconfiar dela até quanto aos assuntos estritamente técnicos de cada especialidade. A mim parece plenamente evidente que a ciência é um empreendimento tão cheio de erros quanto qualquer outro já inventado pelo homem, e que a comunidade encarregada de levá-lo a efeito é no mínimo tão cheia de manias e dogmas quanto qualquer outra. Se não fosse assim, nenhum gênio precisaria de habilidades políticas para ser bem recebido em seu meio.
O caso mais impressionante é o do matemático francês Louis Bachelier (1870-1946), que, sem dar muita atenção às publicações acadêmicas disponíveis em sua época, deu contribuições muito originais à teoria das probabilidades, aplicáveis a campos tão diversos quanto a economia e a física. Aliás, ele desenvolveu o aparato matemático necessário à elucidação do movimento browniano em sua tese de doutorado, defendida em 1900, cinco anos antes que Einstein publicasse seu famoso artigo contendo a explicação do fenômeno. A despeito disso e de outros fatos notáveis, a banca examinadora, que incluía o célebre Henri Poincaré, não se impressionou com seu trabalho e aprovou-o com uma nota baixa. E, apesar de sua enorme produtividade como pesquisador, Bachelier passou boa parte da vida tentando obter o cargo de professor em alguma universidade, até consegui-lo, enfim, na pequena Universidade de Besançon (espero que o Ewan leia isto). Mandelbrot dá valor a excêntricos desse tipo, naturalmente, já que ele próprio foi marginalizado durante décadas. Ele resume nas seguintes palavras o problema fundamental vivido por seu predecessor:
"A tragédia de Bachelier foi a de ser um homem do passado e do futuro, mas não de seu presente. [...] Infelizmente, nenhuma comunidade científica organizada de seu tempo estava em condições de compreendê-lo e recebê-lo bem. Ganhar aceitação para suas ideias requeria supremas habilidades políticas, que ele evidentemente não possuía."
Tudo isso serve muito bem para denunciar um erro que vem atraindo cada vez mais a minha atenção: o de conceder demasiada importância às opiniões da "comunidade científica". Conheço gente que acredita prontamente em qualquer afirmação que venha precedida pelas palavras "Os cientistas descobriram que...". E isso sobre qualquer assunto, desde teologia até dietas. Eu, que há anos desisti de aceitar a autoridade da academia sobre os temas mais importantes da vida, estou agora aprendendo a desconfiar dela até quanto aos assuntos estritamente técnicos de cada especialidade. A mim parece plenamente evidente que a ciência é um empreendimento tão cheio de erros quanto qualquer outro já inventado pelo homem, e que a comunidade encarregada de levá-lo a efeito é no mínimo tão cheia de manias e dogmas quanto qualquer outra. Se não fosse assim, nenhum gênio precisaria de habilidades políticas para ser bem recebido em seu meio.
Meu irmão,
ResponderExcluirFinalmente creio que posso comentar de forma a contribuir com algo! rs
É muito fácil que eu seja confundindo com alguém contrário às ciências. Mas de forma alguma considero-as inúteis ou de menor importância. O ponto é que elas são incapazes de fornecer "a" verdade, como os vários cientificismos desde Comte pretendem. Nosso tempo ainda crê piamente que algo só é verdadeiro (ou real, ou um "fato") se for provado cientificamente.
Recentemente recebi por email um capítulo de um livro de Carl Sagan intitualado "A arte refinada de detectar mentiras". Não é de todo ruim, ele menciona a lógica e as falácias para que alguém não seja enganado facilmente. Porém, ele diz que não pode acreditar em algo, e ninguém mais pode, se este algo não tiver evidências (e ele se refere a evidências empíricas) suficientes para que seja crido como verdadeiro. Pergunto eu: qual a evidência empírica para que ele acredite que não possa acreditar em algo que não possua tais evidências? Esta é a fé dos racionais cientificistas de nosso tempo!
Todo empreendimento humano estará sujeito a falhas. As idéias dominantes de um tempo e a política do meio são só alguns dos aspectos que mostram as falhas da ciência como fonte de conhecimento.
A propósito disso, fontes de conhecimento, eu gosto muito de símbolos. Sou motociclista e carrego alguns símbolos em meu colete. Fiz um que trata deste tema e vou brevemente falar a respeito. Não é nada, não é nada, mas quem sabe seja interessante! rsrs
Grande abraço, no Senhor,
Roberto
Olá, caro irmão!
ResponderExcluirMuito obrigado pelo comentário. Concordo inteiramente com você. Já é mau sinal o fato de sermos obrigados a dar início a qualquer comentário sobre as limitações da ciência esclarecendo que não somos inimigos dela, como você fez ao dizer "É muito fácil que eu seja confundindo com alguém contrário às ciências". Isso acaba sendo necessário justamente porque a idolatria do método científico está arraigada na mente de muita gente por aí.
Você detectou muito bem o problema com as abordagens pseudocéticas de que Carl Sagan se tornou verdadeiro mestre: pessoas assim consideram, sabe-se lá por quê, que o ceticismo é uma posição "natural" a ser adotada. Isso me faz lembrar de Chesterton, que disse em algum lugar que o grande problema do cético é julgar-se sem preconceitos, quando na verdade ele tem um preconceito bastante óbvio em favor do ceticismo.
Por falar nisso, será que esse capítulo do Carl Sagan a que você se refere foi retirado do livro "O mundo assombrado pelos demônios"? Se for o que eu estou pensando, devo dizer que o capítulo é de fato muito interessante pela exposição clara da lista de falácias. É uma pena que o próprio autor não a tenha levado muito em conta no restante do livro.
Onde vai sair seu texto sobre os símbolos? Me informe, por favor, pra eu ficar de olho.
Um grande abraço, e até logo! ;)
André,
ResponderExcluirO livro do Sagan é este mesmo. Só soube disso porque minha irmã tem um exemplar. Se eu tiver paciência, quem sabe não o leio todo!
A postagem sobre símbolos já está feita no meu blog. O pessoal parece que gostou mais da foto que dos símbolos, mas está valendo! rs
Segue o link: http://robertovargas-make.blogspot.com/2009/12/sobre-simbolos-ou-motociclismo-capitulo.html.
Abraço, nEle,
Roberto
Caro Roberto, obrigado pela confirmação. Li esse livro há uns seis ou sete anos. Estou pensando em relê-lo qualquer hora dessas. Aliás, estou planejando um post que tangencia um assunto abordado nesse livro. Mas deve sair só no mês que vem. Recomendo a leitura, não só pela oportunidade de conhecer um dos melhores cérebros céticos disponíveis (o que não é grande coisa, mas...), mas também porque traz informações relevantes sobre vários assuntos e é bem escrito.
ResponderExcluirObrigado também pelo link. Já comentei lá.
Abração!