Ainda em conexão com o tema do post anterior, o internacionalismo e o governo mundial, há um trecho do oitavo capítulo que é muito útil na compreensão de um tema abordado já no primeiro. Magnoli nos conta sobre um relatório, desenvolvido por uma comissão da ONU, no qual são apresentadas propostas para viabilizar as metas de combate à pobreza assumidas pela Assembleia Geral em 2000. O relatório constatou o óbvio: a ajuda financeira dos países ricos não é condição suficiente para a elevação do desenvolvimento econômico dos países pobres, coisa que já sabíamos a partir do exemplo de Cuba, cuja população foi empobrecendo na medida em que uma imensa quantidade de dinheiro soviético ia entrando na conta dos governantes. No caso da África, a situação é mais ou menos a mesma, mas em escala ampliada. O relatório conclui que, seja por corrupção ou por incompetência, os países miseráveis não sabem administrar suas próprias economias, de modo que a ajuda financeira só deve ser dada a "países comprometidos com padrões de gestão e programas de reformas econômicas desenhados pelas instituições financeiras internacionais". Em outras palavras, como bem percebeu Magnoli, o Banco Mundial e as centenas de ONGs vinculadas à ONU dariam dinheiro aos governos africanos em troca da abdicação, na prática, de suas soberanias nacionais.
Esse é um exemplo vívido do alcance dos pretextos usados pelas forças políticas que trabalham em prol de um governo mundial unificado sob a égide da ONU. Em um artigo do primeiro capítulo, O campo de batalha do euro, embora sem tocar no assunto, Magnoli me deu razões para pensar que o mesmo projeto está por trás da unificação monetária da Europa Ocidental. Ele cita o historiador britânico Timothy Garton Ash, que, na aurora do euro, profetizava que a iniciativa dessa unificação dividiria a Europa ao invés de uni-la, dada a ausência de um poder político central capaz de ditar os rumos da política monetária. Magnoli explica: "a União Europeia não é um Estado nacional. Falta-lhe, portanto, a base de legitimidade política para forjar consensos". Mas eu me pergunto: os criadores do euro não sabiam disso? Não acho provável que grandes políticos de alguns dos países mais importantes do mundo ignorem tal obviedade. Por que, então, insistiram nesse projeto? A única resposta que consigo achar plausível é que eles pretendiam, desde o início, usar a unificação econômica como atalho para a unificação política, dando assim, quem sabe, uma forcinha adicional ao estabelecimento futuro do governo mundial.
Esse é um exemplo vívido do alcance dos pretextos usados pelas forças políticas que trabalham em prol de um governo mundial unificado sob a égide da ONU. Em um artigo do primeiro capítulo, O campo de batalha do euro, embora sem tocar no assunto, Magnoli me deu razões para pensar que o mesmo projeto está por trás da unificação monetária da Europa Ocidental. Ele cita o historiador britânico Timothy Garton Ash, que, na aurora do euro, profetizava que a iniciativa dessa unificação dividiria a Europa ao invés de uni-la, dada a ausência de um poder político central capaz de ditar os rumos da política monetária. Magnoli explica: "a União Europeia não é um Estado nacional. Falta-lhe, portanto, a base de legitimidade política para forjar consensos". Mas eu me pergunto: os criadores do euro não sabiam disso? Não acho provável que grandes políticos de alguns dos países mais importantes do mundo ignorem tal obviedade. Por que, então, insistiram nesse projeto? A única resposta que consigo achar plausível é que eles pretendiam, desde o início, usar a unificação econômica como atalho para a unificação política, dando assim, quem sabe, uma forcinha adicional ao estabelecimento futuro do governo mundial.
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