sábado, 10 de julho de 2010

Um mundo com significado VIII

O sexto capítulo também fala muito de química, mas vai além, tratando também da estrutura fundamental das leis físicas da natureza. Trata ainda das implicações filosóficas e teológicas da cognoscibilidade da ordem natural, do princípio antrópico e do mito evolucionista de que, sendo a vida um fenômeno de fácil ocorrência, o universo deve estar cheio de seres alienígenas. São apresentados alguns argumentos interessantes sobre tudo isso, embora eu creia que um trabalho melhor poderia ter sido feito. Mas chamou-me a atenção de modo especial o tema fundamental do capítulo, que vem expresso já em seu título: Um lar cósmico projetado para o descobrimento. Num certo sentido trata-se do velho dilema proposto por Einstein: "O que há de mais incompreensível no universo é que ele é compreensível". Essa declaração não é mencionada no livro, talvez por um respeito indevido pela figura do famoso físico, mas a mim é inevitável a associação. Sempre penso que a cognoscibilidade do universo só pode ser considerada incompreensível num esquema filosófico materialista, ou então num monismo spinozista e semimaterialista como o de Einstein (escrevi sobre o pensamento religioso de Einstein aqui). O capítulo defende filosoficamente que o fato de a mente humana ser capaz de apreender as leis do universo indica a existência de um Criador. Porém, o texto vai além da pura defesa epistemológica, adentrando em uma porção de detalhes do empreendimento científico. Por exemplo, argumenta que a transparência da atmosfera terrestre a boa parte do espectro eletromagnético, assim como o fato de a radiação carregar informações sobre as condições físicas e químicas de sua fonte, indica que Deus desejava que estudássemos e compreendêssemos as estrelas e planetas. Isso me ocorreu pela primeira vez quando li Perelandra, o segundo volume da trilogia espacial de Lewis; ali, o protagonista visita um planeta todo coberto de nuvens espessas que tornam impossível a observação do céu, de modo que seus habitantes sequer tinham como suspeitar da existência de algo acima do firmamento. Agora, porém, percebo que Deus poderia perfeitamente ter disposto as leis da natureza de modo que jamais chegássemos a discernir alguma ordem por trás dos eventos cotidianos. E, no entanto, aprouve-Lhe manifestar sua glória permitindo que desvendássemos uma infinidade de segredos, do mundo subatômico aos agrupamentos de galáxias, passando pelos inextricáveis labirintos dos organismos vivos. A Ele, pois, toda a glória!

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