O oitavo capítulo, intitulado O ressurgimento da célula viva, transporta a discussão para o plano biológico, combatendo o reducionismo que busca interpretar os seres vivos e suas células em função apenas de sua constituição química. É nesse contexto que Wilker e Witt explicam e defendem a abordagem a ser adotada ao longo do capítulo:
"Existem duas importantes formas de demonstrar que alguma crença ou teoria quanto à natureza é errônea. Poderíamos questionar suas pressuposições fundamentais, por assim dizer, pela força da filosofia pura. O problema com a filosofia, infelizmente, é que ela é uma coisa humana e, assim, há bastante espaço para erros e discordâncias e ainda mais espaço para nos escondermos em casas abstratas de nossa construção. Os antigos filósofos gregos discutiam quantas e quais seriam as substâncias fundamentais da natureza. Um argumento persuasivo erigido contra outro argumento persuasivo. Tudo seria bastante lógico, mas nunca especialmente empírico, pois a natureza ainda não teria muito o que dizer. Outro modo de remover o erro é simplesmente permitir que ele corra a pleno vapor e procurar sua contradição na própria natureza."
Fiquei algo impressionado ao ver esses dois inimigos declarados do materialismo cientificista moderno endossando dessa forma a crença positivista que limita toda discussão racional ao que pode ser apreendido pelos sentidos, considerando puramente subjetivo ou mesmo sem sentido tudo quanto pretenda ir além disso. Ao declarar que a filosofia é "uma coisa humana" que dá espaço a erros, discordâncias e abstrações, os autores deixam implícito que a ciência experimental é uma coisa divina cujos meios de operação são livres de toda abstração e cujas conclusões são infalíveis e inquestionáveis. Trata-se de um absurdo evidente demais para que eu me empenhe em refutá-lo neste post.
É claro que é perfeitamente lícito, para fins de argumentação, restringir a discussão a um campo específico, como o das ciências naturais ou alguma de suas muitas ramificações. Seria, pois, suficiente que os autores procedessem dessa forma, argumentando com rigor a partir dos dados empíricos disponíveis e denunciando com veemência seus opositores quando estes, contrariando suas próprias teses epistemológicas, fogem da argumentação científica para as desculpas ideológicas e pseudocientíficas de sempre. Nesse caso, tratar-se-ia de uma atitude condescendente com a obtusidade do adversário, adotada com objetivos didáticos. Não foi, porém, o que fizeram os autores, que começaram por dar razão aos adversários nesse ponto fundamental, e acabaram produzindo uma crítica que padece do mesmo defeito que denuncia: a incongruência de ir além do dado empírico e, ao mesmo tempo, negar que esse seja um procedimento válido.
A propósito, tendo eu já lido uma porção de críticas e defesas da teoria abiogênica sobre a origem da vida em suas inúmeras variações, estou em condições de afirmar que a exposição de Wilker e Witt sobre o tema deixa a desejar do ponto de vista do rigor científico e da profundidade com que os vários aspectos do problema são abordados. Essa é uma prova adicional de que adotar os vícios intelectuais do adversário não é uma boa maneira de demonstrar seus erros. Não obstante, o capítulo é interessante por algumas das informações transmitidas, bem como pelas referências bibliográficas indicadas ao leitor interessado em se aprofundar no tema.
"Existem duas importantes formas de demonstrar que alguma crença ou teoria quanto à natureza é errônea. Poderíamos questionar suas pressuposições fundamentais, por assim dizer, pela força da filosofia pura. O problema com a filosofia, infelizmente, é que ela é uma coisa humana e, assim, há bastante espaço para erros e discordâncias e ainda mais espaço para nos escondermos em casas abstratas de nossa construção. Os antigos filósofos gregos discutiam quantas e quais seriam as substâncias fundamentais da natureza. Um argumento persuasivo erigido contra outro argumento persuasivo. Tudo seria bastante lógico, mas nunca especialmente empírico, pois a natureza ainda não teria muito o que dizer. Outro modo de remover o erro é simplesmente permitir que ele corra a pleno vapor e procurar sua contradição na própria natureza."
Fiquei algo impressionado ao ver esses dois inimigos declarados do materialismo cientificista moderno endossando dessa forma a crença positivista que limita toda discussão racional ao que pode ser apreendido pelos sentidos, considerando puramente subjetivo ou mesmo sem sentido tudo quanto pretenda ir além disso. Ao declarar que a filosofia é "uma coisa humana" que dá espaço a erros, discordâncias e abstrações, os autores deixam implícito que a ciência experimental é uma coisa divina cujos meios de operação são livres de toda abstração e cujas conclusões são infalíveis e inquestionáveis. Trata-se de um absurdo evidente demais para que eu me empenhe em refutá-lo neste post.
É claro que é perfeitamente lícito, para fins de argumentação, restringir a discussão a um campo específico, como o das ciências naturais ou alguma de suas muitas ramificações. Seria, pois, suficiente que os autores procedessem dessa forma, argumentando com rigor a partir dos dados empíricos disponíveis e denunciando com veemência seus opositores quando estes, contrariando suas próprias teses epistemológicas, fogem da argumentação científica para as desculpas ideológicas e pseudocientíficas de sempre. Nesse caso, tratar-se-ia de uma atitude condescendente com a obtusidade do adversário, adotada com objetivos didáticos. Não foi, porém, o que fizeram os autores, que começaram por dar razão aos adversários nesse ponto fundamental, e acabaram produzindo uma crítica que padece do mesmo defeito que denuncia: a incongruência de ir além do dado empírico e, ao mesmo tempo, negar que esse seja um procedimento válido.
A propósito, tendo eu já lido uma porção de críticas e defesas da teoria abiogênica sobre a origem da vida em suas inúmeras variações, estou em condições de afirmar que a exposição de Wilker e Witt sobre o tema deixa a desejar do ponto de vista do rigor científico e da profundidade com que os vários aspectos do problema são abordados. Essa é uma prova adicional de que adotar os vícios intelectuais do adversário não é uma boa maneira de demonstrar seus erros. Não obstante, o capítulo é interessante por algumas das informações transmitidas, bem como pelas referências bibliográficas indicadas ao leitor interessado em se aprofundar no tema.
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