Eu mesmo tenho uma porção de críticas à administração Bush e ao neoconservadorismo americano, ou mesmo à direita americana em geral. Contudo, não posso de modo algum endossar as posições de Magnoli a respeito do tema. Tomemos como exemplo a questão da China: os neocons temem a consolidação da China como potência econômica e militar que, por ter uma ideologia oposta aos valores democráticos, poderá causar sérios problemas no futuro. O geógrafo, porém, informa que "a 'obsessão chinesa' dos neoconservadores não tem sentido", pois o gigante asiático tem ajudado a preservar a estabilidade geopolítica da Ásia; além disso, o crescimento econômico chinês "cumpre a função crucial de financiar o déficit externo dos Estados Unidos". Por trás desse último argumento talvez repouse a muito discutível opinião de que déficits são coisas ruins. Com ou sem isso, porém, o recado de Magnoli é bem claro: a China morre de amores pelos EUA e os interesses de ambos combinam muito bem. Se o casamento não der certo, a culpa será toda dos americanos; ou, mais precisamente, dos "neoconservadores". De um jeito ou de outro, o autor acaba sempre voltando a esse ponto, que chega a ser um pressuposto fundamental de todas as suas análises da política internacional: da China à ONU, passando pelo mundo islâmico, todo mundo quer ser amigo dos Estados Unidos. Se os conservadores americanos não fossem tão truculentos, arrogantes e desconfiados, o mundo estaria caminhando muito bem. Logo, são eles os culpados de tudo o que acontece de errado no mundo, incluindo-se aí o que seus inimigos fazem contra eles. Eles são culpados pelas alianças estratégicas entre a China e a Rússia; pelo ódio que o mundo islâmico devota ao Ocidente; pela manifesta incapacidade da ONU para cumprir o que promete aos países-membros; e muitos et ceteras.
No entanto, Magnoli de modo algum se considera antiamericano. Em meio às dezenas de críticas (várias delas puramente caluniosas) aos EUA, ele chega até a dizer algumas palavras contra o antiamericanismo. Num ambiente dominado pelo esquerdismo, como a imprensa brasileira, não é preciso muita coisa para se livrar da pecha de antiamericano: basta dar algumas voltas a mais antes de fazer as mesmas condenações que todo mundo faz. É assim que faz Magnoli, sem fugir às contradições mais corriqueiras dos "antiimperialistas" de plantão. Num certo momento, o autor se queixa de que os neoconservadores "orientam-se por imperativos ideológicos e movem-se ao sabor das projeções abstratas", cavando a própria cova ao deixar de lado os ditames da política prática. Cinco páginas adiante, o mesmo autor os acusa de usar o discurso ideológico para ocultar suas verdadeiras motivações, que brotam do interesse nacional. É assim que ele denuncia que a direita americana não é defensora tão ferrenha da democracia quanto se supõe, já que "admitia uma cuidadosa seleção das 'tiranias' a derrubar". Como se os EUA tivessem poder suficiente para derrubar todas as tiranias do mundo. E como se devêssemos esperar um Magnoli felicíssimo caso isso acontecesse. A julgar pelo tamanho de seu protesto contra a derrubada de Saddam Hussein, fica-se com a impressão de que ele gosta mais da tirania mesmo.
No entanto, Magnoli de modo algum se considera antiamericano. Em meio às dezenas de críticas (várias delas puramente caluniosas) aos EUA, ele chega até a dizer algumas palavras contra o antiamericanismo. Num ambiente dominado pelo esquerdismo, como a imprensa brasileira, não é preciso muita coisa para se livrar da pecha de antiamericano: basta dar algumas voltas a mais antes de fazer as mesmas condenações que todo mundo faz. É assim que faz Magnoli, sem fugir às contradições mais corriqueiras dos "antiimperialistas" de plantão. Num certo momento, o autor se queixa de que os neoconservadores "orientam-se por imperativos ideológicos e movem-se ao sabor das projeções abstratas", cavando a própria cova ao deixar de lado os ditames da política prática. Cinco páginas adiante, o mesmo autor os acusa de usar o discurso ideológico para ocultar suas verdadeiras motivações, que brotam do interesse nacional. É assim que ele denuncia que a direita americana não é defensora tão ferrenha da democracia quanto se supõe, já que "admitia uma cuidadosa seleção das 'tiranias' a derrubar". Como se os EUA tivessem poder suficiente para derrubar todas as tiranias do mundo. E como se devêssemos esperar um Magnoli felicíssimo caso isso acontecesse. A julgar pelo tamanho de seu protesto contra a derrubada de Saddam Hussein, fica-se com a impressão de que ele gosta mais da tirania mesmo.
"Se os conservadores americanos não fossem tão truculentos, arrogantes e desconfiados, o mundo estaria caminhando muito bem."
ResponderExcluirBem, André, na verdade, eu nunca li uma obra do Magnoli; apenas seus artigos e entrevistas.
Se algo nela pode ser entendido como o que foi exposto no trecho que destaquei aqui, então, de fato, é uma leitura equivocada do autor.
Basta se voltar para o Oriente ou América Latina para perceber o ódio que ainda existe em relação aos americanos.
Ninguém se lembra, ou não quer se lembrar, do papel fundamental dos EUA contra o nazismo e, logo depois, na recuperação econômico da Europa com o plano Marshal.
Apesar de críticas pontuais que faço aos americanos, reconheço neles a virtude de manter a coragem em épocas sombrias.
Caro Thiago, muito obrigado pelo seu comentário. Já fui antiamericano, e pró-americano também. Hoje estou convencido de que muitas das melhores e das piores coisas vêm dos EUA. Acho que Magnoli também pensa assim. Apenas discordamos em quase tudo quando se trata de decidir quais são as melhores coisas e quais são as piores. hehe
ResponderExcluirAbraços!