O primeiro capítulo, Heranças da Guerra Fria, traz alguns textos dignos de comentário, os quais convergem em torno das questões do internacionalismo e do governo mundial. Já deixei claro o que penso sobre isso em meus comentários ao livro Nem Marx nem Jesus, de Revel. Mas Magnoli apresenta alguns elementos soltos que se encontram, no entanto, unidos por um fio comum.
Há um interessante artigo, Uma fronteira em movimento, no qual Magnoli discute as origens da Doutrina Truman, a estratégia americana de contenção do expansionismo soviético durante a Guerra Fria. O autor deixa no ar a sugestão de que o expansionismo soviético não se deveu ao comunismo, e sim ao nacionalismo dos russos, que "sentiam-se cercados e ameaçados pela hostilidade agressiva do Ocidente, e reagiam estabelecendo esferas de influência cada vez mais largas". Não duvido que a Rússia contenha um elemento expansionista não derivado da ideologia comunista, mas aqui se manifesta uma tendência que se estende por todo o livro: Magnoli jamais critica os inimigos da América (ou dos países ricos, ou do Ocidente em geral) sem sugerir, de modo explícito ou não, que ela tem culpa pelas ações de seus adversários. É um daqueles inconfundíveis cacoetes mentais da esquerda.
De qualquer modo, considero sem cabimento a negação do caráter expansionista do comunismo. Uma das divergências mais famosas entre Stálin e Trotsky reside justamente na acusação, feita pelo segundo ao primeiro, de arruinar o movimento comunista ao abrir mão de seu caráter internacionalista. E quase todos os comunistas que conheço estão do lado de Trotsky. Sem razão, porém, visto que, embora por vias incompreensíveis aos dissidentes internos do Partido, Stálin jamais deixou de praticar uma política expansionista. Isso se deu pela via militar, como na Europa Oriental, onde, após o fim da Segunda Guerra, as tropas soviéticas se mantiveram por muito tempo depois que os americanos abandonaram a metade ocidental do continente. E se deu também pela propaganda ideológica, inclusive nos Estados Unidos, desde os anos 20.
Além disso, não devemos esquecer que o comunismo é filho do iluminismo, que não só manifestou também sua tendência expansionista por meio das guerras napoleônicas, mas também idealizou o primeiro projeto de governo mundial, engendrado no cérebro de Immanuel Kant, como Magnoli nos faz lembrar em outra parte do mesmo capítulo. E, em todas as suas críticas ao imperialismo dos neoconservadores, o autor deixa de dizer que os ideais da política externa neoconservadora são devedoras justamente à teoria trotskista, da qual são uma espécie de versão democrática.
Há um interessante artigo, Uma fronteira em movimento, no qual Magnoli discute as origens da Doutrina Truman, a estratégia americana de contenção do expansionismo soviético durante a Guerra Fria. O autor deixa no ar a sugestão de que o expansionismo soviético não se deveu ao comunismo, e sim ao nacionalismo dos russos, que "sentiam-se cercados e ameaçados pela hostilidade agressiva do Ocidente, e reagiam estabelecendo esferas de influência cada vez mais largas". Não duvido que a Rússia contenha um elemento expansionista não derivado da ideologia comunista, mas aqui se manifesta uma tendência que se estende por todo o livro: Magnoli jamais critica os inimigos da América (ou dos países ricos, ou do Ocidente em geral) sem sugerir, de modo explícito ou não, que ela tem culpa pelas ações de seus adversários. É um daqueles inconfundíveis cacoetes mentais da esquerda.
De qualquer modo, considero sem cabimento a negação do caráter expansionista do comunismo. Uma das divergências mais famosas entre Stálin e Trotsky reside justamente na acusação, feita pelo segundo ao primeiro, de arruinar o movimento comunista ao abrir mão de seu caráter internacionalista. E quase todos os comunistas que conheço estão do lado de Trotsky. Sem razão, porém, visto que, embora por vias incompreensíveis aos dissidentes internos do Partido, Stálin jamais deixou de praticar uma política expansionista. Isso se deu pela via militar, como na Europa Oriental, onde, após o fim da Segunda Guerra, as tropas soviéticas se mantiveram por muito tempo depois que os americanos abandonaram a metade ocidental do continente. E se deu também pela propaganda ideológica, inclusive nos Estados Unidos, desde os anos 20.
Além disso, não devemos esquecer que o comunismo é filho do iluminismo, que não só manifestou também sua tendência expansionista por meio das guerras napoleônicas, mas também idealizou o primeiro projeto de governo mundial, engendrado no cérebro de Immanuel Kant, como Magnoli nos faz lembrar em outra parte do mesmo capítulo. E, em todas as suas críticas ao imperialismo dos neoconservadores, o autor deixa de dizer que os ideais da política externa neoconservadora são devedoras justamente à teoria trotskista, da qual são uma espécie de versão democrática.
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