terça-feira, 10 de agosto de 2010

The consolation of philosophy VI

Após a denúncia da falsa felicidade proporcionada pelas coisas deste mundo, a Filosofia explica a Boécio onde está oculta a verdadeira felicidade. A resposta pode ser vislumbrada na bela oração abaixo transcrita. O trecho é interessante também por reunir uma porção de elementos da física e da metafísica antiga, derivados, segundo me parece, sobretudo de Platão e Aristóteles.

"Ó Tu que governas o universo com lei eterna, fundador tanto da terra quanto do céu, que convidaste o tempo a se apresentar, saindo da Eternidade, Tu que estás firme para sempre, embora dês movimento a tudo. Não houve causas externas a Ti que pudessem impelir-Te a criar esta massa de matéria mutável, mas dentro de Ti mesmo existe a própria ideia do bem perfeito, que a nada inveja. Pois de quê poderia ele ter inveja? Fazes que todas as coisas sigam aquele elevado padrão. Em beleza perfeita moves em Tua mente um mundo de beleza, fazendo tudo à imagem e semelhança dele, e chamando o todo perfeito a completar suas perfeitas funções. Unes todos os primeiros princípios da natureza por ordens perfeitas como as ordens numéricas, de modo que cada um possa ser equilibrado com seu oposto: frio com calor e secura com umidade; de modo que o fogo não pode ascender rápido demais por ser muito puro, nem pode o peso da terra sólida arrastá-lo para baixo e esmagá-lo. Fazes a alma como um terceiro entre a mente e os corpos materiais; a estes a alma dá vida e movimento, pois Tu a espalhas entre os membros do universo, que agora funcionam em harmonia. Assim é a alma dividida enquanto toma seu curso, fazendo dois círculos, como um fio amarrado em torno do mundo. Por conseguinte, ela retorna sobre si mesma e passa em volta da mais baixa mente terrena; e, de modo semelhante, dá movimento aos céus para que completem seu curso. Tu és o que conduz adiante com tal inspiração essas almas e vidas inferiores. Preenches esses vasos fracos com almas grandiosas, e as envias a todas as partes do céu e da terra, e por Tua amável lei as conduzes de volta a Ti mesmo e as levas a buscarem, como o fogo, ascender a Ti novamente. Concede então, ó Pai, que nossas mentes possam ascender a Teu trono de majestade; concede-nos que alcancemos essa fonte do bem. Concede que possamos assim encontrar luz, de modo que possamos firmar em Ti olhos desvendados; tira deles as pesadas nuvens deste mundo material. Brilha sobre nós em Tua própria e verdadeira glória. És o brilhante e sereno repouso de todos os Teus filhos, que Te adoram. Ver-Te claramente é o termo de nossa meta. És nosso início, nosso progresso, nosso guia, nosso caminho, nosso fim."

Nenhum comentário:

Postar um comentário