quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Um mundo com significado X

O nono capítulo, intitulado A restauração do organismo vivo, traz algumas informações interessantes sobre o estado atual dos debates internos da biologia. Não é de hoje que sei que, no meio científico, Richard Dawkins e seus discípulos estão longe de contar com a aprovação unânime que a imprensa normalmente lhes atribui. Na verdade, essa escola tem muitos inimigos não só entre criacionistas e religiosos em geral, mas também nos próprios círculos materialistas. Mas meu propósito aqui é falar apenas dos adversários que combatem suas ideias no plano estritamente científico. A teoria do "gene egoísta", com sua subjacente adesão à teoria que estabelece o gene como unidade de seleção, foi amplamente contestada, por exemplo, pelo paleontólogo Stephen Jay Gould, de Harvard, defensor da teoria clássica que atribui esse papel aos organismos, e por outros que o atribuíam às populações ou espécies inteiras. Também são dignos de nota Lynn Margulis e seu neolamarckismo, bem como Stuart Kauffman, que tem uma teoria sobre as propriedades auto-organizadoras da matéria. Todas essas são pessoas de elevada posição no meio científico, e cujas simpatias pelo criacionismo ou pelo design inteligente são manifestamente inexistentes. É o caso de nos perguntarmos como é que Dawkins conseguiu obter tamanha aparência de respeitabilidade acadêmica, quando a comunidade dos biólogos está cheia de gente que o considera, na melhor das hipóteses, um sujeito cheio de ideias erradas na cabeça.

Para mim, a grande novidade do capítulo 9 está na descoberta de que Kauffman não é uma voz isolada em defesa de sua teoria, que critica vários aspectos importantes do neodarwinismo que todos aprendemos na escola. Wilker e Witt fornecem informações sobre toda uma escola de biólogos que vai na mesma direção, recusando-se a conceder ao código genético o papel de monarca absolutista que Dawkins lhes atribui. Essa escola, que os autores chamam de "estruturalismo biológico", defende uma abordagem menos reducionista, ao considerar os genes como partes importantes, mas não mais que a totalidade das células e dos organismos que fornecem o contexto para sua atuação. Parece uma ideia interessante. E, pensando bem, creio já ter ouvido rumores dela em algum lugar. Os autores não falam disso, mas lembro-me de ter lido que o sequenciamento do genoma humano não forneceu o "segredo da vida" ou outras bobagens alardeadas pela mídia, justamente porque foi constatado que nem toda a informação necessária para tanto estava ali codificada.

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