quarta-feira, 14 de outubro de 2009

The fractal geometry of nature

A concepção de Mandelbrot sobre a relação entre a matemática e a natureza era radicalmente distinta da que imperava tanto entre os matemáticos quanto entre os cientistas. Boa parte de sua carreira como matemático foi devotada ao estudo de coisas que a maioria considerava pura maluquice. Foi assim que ele criou a geometria dos fractais e, tendo reunido evidências e argumentos suficientes, enfim publicou-os em 1977 no livro Fractals, que foi adaptado e expandido para se transformar no The fractal geometry of nature, de 1982. É quase um livro de divulgação científica, com a ressalva de que não se dirige a leigos, e sim a cientistas profissionais (ou pelo menos aprendizes) e matemáticos.

Do ponto de vista formal, trata-se de um ensaio excelente: leve e descontraído sem abandonar o rigor característico da profissão do autor, além de bem ilustrado e primorosamente didático, levando-se em conta o público-alvo. Graças a essas qualidades pude enfim entender, sem dificuldade, de que modo um objeto pode ter um número não-inteiro de dimensões - algo que nada foi capaz de enfiar em minha cabeça quando, nos tempos da iniciação científica, eu trabalhava com a teoria do caos. Aliás, a difusão de pesquisas relacionadas ao caos, fenômeno estreitamente vinculado aos fractais, é em si uma prova de que Mandelbrot conseguiu convencer muitos homens de ciência da validade e fecundidade de sua abordagem. Eu mesmo me convenci de vez no quinto capítulo, e estou lendo os outros 37 apenas por prazer.

Prazer... faz dois anos e meio que peguei pela última vez um livro de física ou matemática movido pelo mero desejo de conhecer, e não por obrigações acadêmicas de alguma espécie. Talvez seja o início de uma reconciliação mais duradoura. Se for o caso, vejo agora que fiz uma ótima escolha para o reinício.

4 comentários:

  1. André querido,

    Faltou uma linda figura de fractais para ilustrar o post. ;-)

    Bom, é verdade que o livro não se dirige a leigos, mas a linguagem é deliciosa - uma pena eu não ter conhecimento científico suficiente para passar dos primeiros parágrafos!

    Quanto ao último parágrafo do seu post, você sabe que também passei por isso na minha área (a teoria da literatura muitas vezes pode revelar-se algo muito enfadonho e despropositado), alcançando igualmente uma (quase) reconciliação com o livro Rousseau and Romanticism, de Irving Babbitt. Digo "quase" porque foi um dos livros abandonados no final do ano passado. Uma injustiça! Quando acabar de ler os que comecei este ano (oh, dura disciplina!), voltarei a ele. É um teórico antigo (o livro é de 1919), mas não o troco por dúzias de Derridas, Foucaults e Deleuzes! :-)

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  2. Você comentou que isso tinha a ver com o que Steiner falava naquele pequeno trecho que enviei a vocês. Ou que o Steiner o havia feito lembrar desse livro. Algo assim. Por quê? Que semelhanças seriam essas?

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  3. Certa vez tive uma proposta de trabalho na faculdade de produzir um algoritmo que desenhasse a imagem de um fractal na tela do computador. É uma aplicação interessante da idéia de recursão, utilizada amplamente na área da computação. Não tive coragem suficiente para fazer esse trabalho (resolvi pegar a outra proposta!), mas confesso que admiro muito os matemáticos franceses, e de fato esse é um livro que também penso em ler algum dia. Certo professor meu (e ex-diretor do instituto de matemática da USP) chegou a me mostrar um exemplar da primeira edição desse livro, que conseguiu em uma de suas viagens à França. As ilustrações são bastante interessantes e bonitas, e como o professor mesmo disse, é um dos vários meios de se relacionar matemática com arte.

    Ótimo post!
    Um abraço!

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  4. Norma, acho que o que torna o livro intragável para muita gente é a matemática. Sem alguma intimidade com cálculo diferencial, geometria e teoria das probabilidades simplesmente não dá. Mas há bons livros que lidam com o assunto num nível mais básico. Me lembre de comprá-los algum dia. :-)

    Eu me lembro que você falava muito desse Babbitt. Quando terminar de lê-lo, comente por aqui. :-)

    Gustavo, o pior é que não me lembro de conexão alguma entre esse livro e o do Steiner. Aliás, ainda estou devendo uma resposta ao que você me mandou. Mas acho que eu ia (vou) falar sobre aspectos da ciência que não têm relação imediata com esse livro sobre fractais.

    Fernando, é verdade, o autor tem uma sensibilidade artística admirável; isso transparece até no uso que ele faz da linguagem escrita. Acho que esse senso estético era necessário para a invenção de algo como os fractais. Lembro-me de que nos tempos da iniciação meus programinhas geravam gráficos que eu achava muito bonitos. Cheguei até a mandá-los por e-mail para algumas pessoas que nada entendiam do assunto, apenas para que pudessem apreciar minhas "obras de arte".

    Abraços a todos!

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