quinta-feira, 11 de março de 2010

Exposição de Hebreus VIII

Não é que eu já tenha lido uma imensa quantidade de comentários bíblicos, mas nenhum dos que li até hoje produziu em mim uma percepção tão forte da continuidade da obra (livro ou epístola) estudada quanto a que me acomete enquanto leio o comentário de Calvino à Epístola aos Hebreus. Como nunca li outro comentário de Calvino, e tampouco li outro comentário de outro autor sobre essa mesma epístola, não posso dizer quanto disso se deve à natureza do próprio texto e quanto pode ser creditado às qualidades do expositor. Qualquer que seja o caso, porém, o resultado é fascinante. Eu sempre ouvi falar - e sempre acreditei - que a divisão posterior da Bíblia em capítulos e versículos pode eventualmente atrapalhar a compreensão dos textos. Mas creio que é a primeira vez que tenho uma noção real da proporção que tal impedimento pode atingir. É claro que a inépcia e a falta de atenção do leitor (eu, no caso) contribuem muito para acentuar esse efeito. Darei um exemplo bem claro: como é que pude nunca ter percebido que o assunto do capítulo 11, que começa definindo a fé e é devotado inteiramente a ela, está em perfeita continuidade com a questão levantada nos versículos finais do capítulo 10?

Por falar nisso, os comentários de Calvino sobre esse trecho lançam alguma luz sobre a forte relação, já mencionada no segundo post, que ele via entre a fé e a esperança. A célebre afirmação de que "o justo viverá pela sua fé", citada de Habacuque 2.4 em Hebreus 10.38 (e também por Paulo em Romanos 1.17 e Gálatas 3.11), trazia, no contexto original do texto profético, uma exortação à confiança no cumprimento futuro das promessas divinas, conforme se vê no versículo imediatamente anterior: "se tardar, espera-o, porque certamente virá". Não é difícil ver de que maneira a fé e a esperança são aspectos complementares dessa atitude.

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