segunda-feira, 8 de março de 2010

Nem Marx nem Jesus IV

No segundo capítulo, intitulado Cinco condições para uma revolta, Revel descreve os elementos que devem estar presentes para que uma revolução seja digna do nome. São pensamentos e atitudes críticos em cinco frentes: da injustiça nas relações econômicas e sociais; da gestão, contra o desperdício de recursos, a desorganização e a improdutividade; do poder político, indo do poder efetivamente exercido aos princípios que o legitimam; da cultura, incluindo religião, moral, filosofia e arte, sua função e sua má distribuição; e da civilização, que diz respeito à relação entre a sociedade e o indivíduo, enfatizando a falta de liberdade e de espaço para o desenvolvimento da individualidade.

É por esses critérios que Revel julgará a eficácia das revoluções, passadas ou futuras, ao longo do livro. Ele considera que tais condições estiveram presentes na Revolução Francesa, e ao que parece acaba, de um modo ou de outro, tomando-a como modelo. Como o trecho abaixo deixa claro, o filósofo crê que sem esses elementos não pode haver progresso real na estrutura da sociedade, e é desse ponto de vista que ele tece críticas a muitas outras revoluções. Quanto a mim, não creio em revoluções que trazem benefícios comparáveis aos males que causam, justamente por não ver evidência de exceção alguma. Revel tampouco as fornece; ele parece apenas se aproveitar do alto conceito que a Revolução Francesa possui no "imaginário popular" dos intelectuais de seu país, sobretudo pela esquerda, que parece ser o público-alvo principal do livro. Feita essa importante ressalva, transcrevo este interessante parágrafo, que tece críticas pertinentes ao espírito das muitas revoluções:

"Uma revolução não se faz de improviso, nem com rigidez doutrinal. Entre o espírito atabalhoado, que imagina inventar tudo na hora, no diálogo de surdos ou na confissão pública e, de seu lado, o espírito dogmático, preocupado só em saber se a revolução se assemelha bem a esta ou aquela revolução anterior, se está sendo feita dentro do figurino, o verdadeiro espírito revolucionário adota o método da invenção preparada, graças ao qual a porta da iniciativa fica sempre aberta a todos, mas em que a aplicação é sempre rigorosa, competente do ponto de vista técnico, e nunca de simples aproximação. Para a inspiração coletiva ficam, nesse caso, as grandes ideias da evolução histórica. Os meios de execução são avaliados friamente, em termos realistas. Nas revoluções que fracassam, ao contrário, as ideias gerais sao imóveis, cristalizadas, precisas demais, e a execução, que é vaga, não chega a modificar a realidade. Há burocratismo na cabeça e amadorismo nos atos."

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