domingo, 23 de maio de 2010

The consolation of philosophy II

Ainda no Livro I, começam a aparecer lições interessantes. Após queixar-se abundantemente de sua sorte, o narrador eleva a Deus esta bela oração:

"Ó Fundador do universo cravejado de estrelas, assentado em Teu eterno trono, donde giras o céu, que rola com rapidez, e obrigas as estrelas a seguir Tua lei; por Tua palavra a lua agora brilha vivamente em toda a sua face, sempre voltada para a luz de seu irmão, e assim obscurece as luzes menores; ou agora está ela própria obscurecida, pois perto do sol seus feixes mostram apenas seus pálidos chifres. Fria sobe a Estrela da Tarde junto ao primeiro esboço da noite: é a mesma a Estrela da Manhã, que abandona a armadura que usara antes e, pálida, encontra o sol ascendente. Quando o frio do inverno desnuda as árvores, estabeleces uma duração mais curta ao dia. E, quando o verão esquenta, alteras as curtas divisões da noite. Teu poder ordena as estações do ano, de modo que a brisa ocidental da primavera traga de volta as folhas que o vento setentrional do inverno levou embora; de modo que a Estrela do Cão amadureça as espigas de milho cuja semeadura Arcturus observara. Nada quebra essa antiga lei; nada deixa por fazer o trabalho designado para si. Assim, governas todas as coisas com limites fixados; apenas as vidas dos homens recusas-te a refrear, como um guardião, impondo limites. Pois por que a Fortuna, com sua mão inconstante, distribui sortes tão mutáveis? A pena dolorosa é o pagamento pelo crime, mas recai sobre a cabeça sem pecado; homens depravados repousam em paz sobre altos tronos, e por sua sorte injusta podem esmagar sob seus perniciosos calcanhares os pescoços de homens virtuosos. Sob sombras obscuras jaz oculta a brilhante virtude; o homem justo suporta a infâmia do injusto. Eles não sofrem com juramentos falsos, não sofrem com crimes minimizados por suas mentiras. Mas quando seu desejo é aumentar sua força, eles com triunfo subjugam os mais poderosos reis, a quem temem os milhares do povo. Ó Tu que apertas os laços da Natureza, olha para baixo, para esta terra miserável! A raça humana é a parte vil dessa grande obra, e somos agitados pela onda da Fortuna. Dá repouso à tempestade, ó nosso Guardião, que a tudo inunda e, assim como governas o céu ilimitado, com laços semelhantes torna verazes e firmes estas terras."

Pouco depois, a Filosofia lhe dá uma bela bronca por ter falado desse modo contra a soberania de Deus. Todos já vimos isso em algum lugar:

"Então ela disse:
'Pensas que este universo é guiado apenas a esmo e por mero acaso? Ou pensas que há algum governo racional constituído nele?' 'Não, eu jamais pensaria que pode ser assim, nem creria que tão certos movimentos poderiam ser feitos a esmo ou por acaso. Sei que Deus, o Fundador do universo, supervisiona sua obra; não poderá jamais chegar um dia que me levará a abandonar essa crença como falsa.' 'Assim é', disse ela, 'e no entanto choraste agora mesmo, e só lamentaste que apenas a humanidade não tem parte nessa tutela divina; estavas firme em tua crença de que todas as demais coisas são governadas pela razão. Quão estranho! Como eu gostaria de saber como é que você se tornou tão doente, embora estejas firme num estado mental tão saudável!'"

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