Nesses últimos tempos, um dos argumentos preferidos dos materialistas de tipo cientificista contra a existência de um design na natureza tem sido a imperfeição de certas formas e estruturas, sobretudo na biologia. Um exemplo classico foi proposto pelo célebre paleontólogo de Harvard, Stephen Jay Gould; ele gostou tanto desse exemplo que usou-o como título de um de seus livros feitos de coleções de ensaios: O polegar do panda. O panda não tem um polegar verdadeiro, e sim uma simples saliência óssea cuja utilidade para segurar coisas é muito mais restrita. Gould apontou essa estrutura como algo que jamais poderia ter resultado do planejamento cuidadoso por um Deus onisciente. Segundo Richard Dawkins, que ofereceu em seu clássico O relojoeiro cego o mesmo argumento - mas usando outro exemplo, o da retina dos vertebrados - esse tipo de coisa "ofenderia qualquer engenheiro cuidadoso".
A alegação de que estruturas diferentes seriam mais funcionais já foi desmontada por pesquisas mais recentes. No caso em questão, dado que os pandas passam a quase totalidade do tempo agarrando e comendo talos de bambu, um panda com polegar semelhante ao dos primatas rapidamente sofreria de lesão por esforço repetitivo, o que basta para derrubar por completo a pretensão de Gould de ser um engenheiro melhor que Deus. Vários exemplos do mesmo tipo são discutidos neste artigo, cuja leitura recomendo aos interessados.
Contudo, a razão pela qual estou escrevendo este post é que Benjamin Wiker e Jonathan Witt acrescentam uma objeção adicional que considero inteiramente verdadeira: o argumento de Gould e Dawkins é inerentemente reducionista, por desprezar todas as considerações não estritamente pragmáticas.
"Desdenhar a ideia como se fosse patentemente ridícula, indigna de consideração, seria apenas expor pressuposições utilitaristas. Por que, afinal, o mundo de um projetista deveria ser lido como um texto maçante do curso colegial, sem humor, homogêneo e sufocante sob o peso morto de uma voz passiva supostamente neutra? Por que o mundo do projetista não poderia ser divertido, interessante e fascinante, ao mesmo tempo em que é 'trabalhado'? Por que, em resumo, não deveríamos esperar que a criação possua a mesma riqueza, variedade e tom que encontramos em uma obra de arte como Hamlet? A razão pela qual muitos não consideram a ideia é que a discussão sobre 'mau projeto versus bom projeto' é, muitas vezes, enquadrada na perspectiva de um engenheiro, não de um artista ou místico."
Em outras palavras, o cientificismo fez com que muitos cientistas caíssem no vício de enquadrar toda a realidade sob os hábitos mentais desenvolvidos para o trabalho em seus laboratórios e escrivaninhas. E, fazendo isso, perderam a capacidade de prestar atenção a outros aspectos daquilo que estudam seletivamente o tempo todo: a natureza. Creio que há mais sabedoria entre os produtores do filme Dogma, que, a despeito do desfile de blasfêmias que o compõe, foram capazes de captar o senso de humor divino na simples existência do ornitorrinco.
A alegação de que estruturas diferentes seriam mais funcionais já foi desmontada por pesquisas mais recentes. No caso em questão, dado que os pandas passam a quase totalidade do tempo agarrando e comendo talos de bambu, um panda com polegar semelhante ao dos primatas rapidamente sofreria de lesão por esforço repetitivo, o que basta para derrubar por completo a pretensão de Gould de ser um engenheiro melhor que Deus. Vários exemplos do mesmo tipo são discutidos neste artigo, cuja leitura recomendo aos interessados.
Contudo, a razão pela qual estou escrevendo este post é que Benjamin Wiker e Jonathan Witt acrescentam uma objeção adicional que considero inteiramente verdadeira: o argumento de Gould e Dawkins é inerentemente reducionista, por desprezar todas as considerações não estritamente pragmáticas.
"Desdenhar a ideia como se fosse patentemente ridícula, indigna de consideração, seria apenas expor pressuposições utilitaristas. Por que, afinal, o mundo de um projetista deveria ser lido como um texto maçante do curso colegial, sem humor, homogêneo e sufocante sob o peso morto de uma voz passiva supostamente neutra? Por que o mundo do projetista não poderia ser divertido, interessante e fascinante, ao mesmo tempo em que é 'trabalhado'? Por que, em resumo, não deveríamos esperar que a criação possua a mesma riqueza, variedade e tom que encontramos em uma obra de arte como Hamlet? A razão pela qual muitos não consideram a ideia é que a discussão sobre 'mau projeto versus bom projeto' é, muitas vezes, enquadrada na perspectiva de um engenheiro, não de um artista ou místico."
Em outras palavras, o cientificismo fez com que muitos cientistas caíssem no vício de enquadrar toda a realidade sob os hábitos mentais desenvolvidos para o trabalho em seus laboratórios e escrivaninhas. E, fazendo isso, perderam a capacidade de prestar atenção a outros aspectos daquilo que estudam seletivamente o tempo todo: a natureza. Creio que há mais sabedoria entre os produtores do filme Dogma, que, a despeito do desfile de blasfêmias que o compõe, foram capazes de captar o senso de humor divino na simples existência do ornitorrinco.
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