quarta-feira, 26 de maio de 2010

Nem Marx nem Jesus XV

No trecho abaixo, Revel traz informações estarrecedoras sobre o lado podre da América - ou, pelo menos, um dos lados mais notoriamente podres. Essa é uma boa amostra do poder de que dispunha a esquerda radical americana já nos anos 60 - apoiada, ironicamente, por um bando de ricaços que, a julgar pela teoria marxista, seriam os principais interessados em combatê-la. No caso em questão, trata-se dos Panteras Negras, grupo devotado ao terrorismo como meio de luta contra a discriminação dos negros. O trecho mostra também o quanto a situação real do embate político americano foi distorcida pela imprensa europeia, somando assim um exemplo a mais à infindável lista de modos pelos quais os revolucionários se aproveitam dos crimes de seus próprios comparsas para caluniar seus adversários. Algo que já estamos cansados de ver aqui nesta parte do mundo... Fiquei com a impressão de que Revel era não só honesto demais para aderir à ampla campanha de difamação antiamericana empreendida pelos governos e partidos comunistas em todo o mundo (inclusive nos Estados Unidos), mas também ingênuo demais para sequer suspeitar que, por trás de tantas mentiras e distorções divulgadas pela imprensa francesa sobre a grande potência do Ocidente, pudesse haver algo além da mera burrice.

"Os Panteras Negras são extremistas que, em todos os seus programas, afirmam abertamente a intenção de praticar atentados e assassinatos políticos. De um ponto de vista revolucionário, pode-se aprovar ou não sua ação; mas, do ponto de vista do Direito, qualquer que seja a sociedade, é puro delírio qualificar de 'fascista' o fato de eles serem inculpados, pois pergunto, então, em que regime colocar bombas nos edifícios públicos não seria objeto de algum processo. Os revolucionários americanos encontram-se, de fato, numa posição ideal: beneficiam-se de todas as vantagens do sistema cujos inconvenientes denunciam... É a situação do rendimento revolucionário máximo, nomeadamente no plano da propaganda. Os efeitos, aliás, estão à vista: os Panteras desfrutam de vasta simpatia no seio do Establishment. Um dos mais célebres maestros do mundo deu, em janeiro de 1970, em seu apartamento de Nova York, uma recepção em honra aos chefes do movimento à qual compareceram personagens não menos célebres das letras, das artes e da política. Um relatório do F.B.I., em julho, deplorou que os Panteras recebam importantes fundos de ilustres doadores, grandes nomes dos Estados Unidos. Quanto ao processo dos 'Sete de Chicago', inculpados depois dos motins desencadeados por ocasião da Convenção Democrata de 1968, na Europa destacou-se sobretudo a extraordinária chuva de sanções por ofensas à magistratura que se abateu, durante as audiências, sobre acusados e advogados. Mas esquecem-se de que estes últimos adotaram a tática deliberada de recorrer sistematicamente à provocação, tratando o presidente do tribunal, Julius Hoffmann, por 'Juliette', despindo-se na pretoria, ganindo, miando e exigindo que se retirasse da parede e levasse da sala das sessões o retrato de Washington, 'esse traficante de escravos'. A tática tinha, talvez, aspectos positivos, mas não se vê o que poderia fazer o presidente senão aplicar sanções por 'ofensas à magistratura', o que, aliás, não o impediu de ser tratado como louco paranóico por largos setores da imprensa americana. Perguntaram os juristas o que fazer em tal caso. Julgar os acusados na sua ausência? Impossível, legalmente. Colocá-los numa cabine de vidro à prova de som? Difícil, tecnicamente. Como troça a esta última sugestão, um acusado se fez fotografar, por escárnio, com uma mordaça na boca e um cartaz: 'No futuro, é assim que se será julgado nos Estados Unidos', e a fotografia foi reproduzida num jornal europeu como ilustrando uma medida preconizada, assim se escrevia, pelo ministério público! Em resumo, os acusados foram absolvidos pelo júri da acusação de terem 'transposto a fronteira de um estado com a intenção de ali fomentar desordens', segundo o texto da lei que a acusação ali desejaria ver aplicada. Cinco foram condenados por agressões e ferimentos e libertados sob fiança - paga por 'generosos doadores'."

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